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Crítica | The Expanse: Dente de Dragão

Continuando uma das melhores séries sci-fi de todos os tempos.

por Ritter Fan
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  • spoilers, mas somente da série, não da HQ.

Em 2018, quando The Expanse estava em sua terceira temporada e ainda produzida pelo SyFy, a BOOM! Studios lançou The Expanse: Origens, a primeira minissérie em quadrinhos dentro da continuidade da série em forma de prelúdios sobre os personagens centrais, ao longo de cinco edições. Em 2021, com a série já em nova casa no Prime Video, uma segunda minissérie, agora com quatro edições, foi lançada, batizada apenas de The Expanse, fazendo a conexão entre as quarta e quinta temporadas. Com a série infelizmente encerrada no começo de 2022 em sua sexta temporada, a mesma editora, inicialmente por meio de uma mais do que bem sucedida campanha no Kickstarter, lançou uma terceira minissérie – Dente de Dragão -, agora com nada menos do que 12 edições, publicadas de abril de 2023 a maio de 2024, com uma aventura que se passa entre o final da última temporada e o começo do sétimo livro da série literária, Persepolis Rising.

Dividida em três bem marcados arcos de quatro edições cada, a história lida com os planos do grupo de membros da frota marciana desertora que foi deixada para trás pelo Almirante Winston Duarte em sua secessão por um dos anéis para fundar Laconia. No primeiro deles, que se passa dois anos após o fim da série, vemos o primeiro grande passo do líder daqueles que ficaram do lado de cá do anel para tornar possível ele e os demais se juntarem a Duarte em Laconia. No segundo, há um salto temporal de 10 anos que lida com o segundo grande passo e, finalmente, no terceiro, um terceiro passo acontece, com mais 10 anos se passando e com a equipe da Rocinante, Camina Drummer e Chrisjen Avasarala finalmente entendendo a estratégia de muito longo prazo dos amotinados.

Como era de se esperar, Dente de Dragão não é uma história essencial para quem já viu a série, pois ela não realmente altera nada do que já se sabia e, muito provavelmente – pois não li os livros – não mexe em absolutamente nada que possa eventualmente ser adaptado em um revival da série no streaming, algo que tenho certeza de que não estou sozinho em desejar. Mas, diferente do que é normalmente esperado de obras assim, que tentam não se comprometer e, portanto, costumam ficar aquém de seu potencial, a minissérie escrita por Andy Diggle é muito interessante e surpreendentemente complexa, usando bem todos os seus personagens – Avasarala é a única que fica mais nos bastidores, algo compreensível em razão dos saltos temporais e pelo fato de grande parte da história se passar no espaço, perto de alguns dos anéis e também na estação Medina -, não deixando de lembrar de Alex, que ganha uma homenagem, além de diversas outras menções e, mais importante do que tudo isso, capturando o espírito da série.

O plano dos amotinados é muito bem trabalhado e desenvolvido, sem jamais subestimar a inteligência do leitor ou facilitando as coisas para qualquer um dos lados. As passagens de tempo entre cada arco, que poderiam muito facilmente esvaziar a força e a intensidade da perigosa e mortal estratégia usada por eles, é muito bem utilizada para justamente deixar claro o quão bem pensando tudo é, com células infiltradas, transmissões de mensagens, disrupções do transporte de cargas valiosas e, claro, a perda de muitas vidas nesse processo. E, como disse, especialmente cada um dos cinco tripulantes da Rocinante – James Holden, Naomi Nagata, Amos Burton, Bobby Draper e Clarissa Mao – tem sua função bem clara ao longo das edições, com Diggle realmente fazendo uso das boas características de cada um, sem esquecer de aspectos psicológicos no que se refere à conexão de Amos com Clarissa e tudo o que eles passaram.

Também como na série, a ação é focada, sempre rápida, sem enrolações, com a narrativa trabalhando uma queima lenta que, porém, mantém a atenção do leitor a cada edição, seguindo a linha dos episódios que foram ao ar. Aliás, não seria errado dizer que cada um dos três arcos narrativos poderia ser um episódio de uma adaptação televisiva, caso Jeff Bezos realmente goste tanto assim da série como afirmou gostar ao salvá-la do cancelamento em 2019. Seria uma forma simples e não muito cara de se testar as águas para um eventual retorno de The Expanse às telinhas (e, se eu estou me repetindo sobre isso, saibam que é de propósito, pois eu quero muito que a série volte!).

O grande senão da minissérie é sua arte, seja a de Rubine ao lado de David Cabeza nas quatro primeiras edições, seja a de Francesco Pisa nas demais, ainda que o trabalho de Pisa seja marcadamente melhor do que o de Rubine e Cabeza. A questão é que ninguém consegue acertar as feições dos rostos. E não quero dizer que os personagens parecem diferentes na HQ em relação aos atores e atrizes reais, pois não me importo muito com isso. O problema é de uma magnitude maior, em que as expressões faciais nada realmente exprimem, mais parecendo “bonecos” imóveis dos personagens, algo que é agravado por uma passagem temporal visual que fica muito aquém do que deveria realmente ser. Pelo menos no lado dos equipamentos, trajes e naves, os desenhistas se saem melhor, ainda que eles não tenham aproveitado para ousar com algumas páginas duplas aqui e ali de forma a amplificar as sequências de ação.

Mesmo falhando na arte, Dente de Dragão é uma minissérie de respeito que usa tudo o que foi mostrado na série para levar o leitor a uma nova aventura que faz todo o sentido nesse fascinante universo criado por James S. A. Corey, nom de plume de Daniel Abraham e Ty Franck. Agora é sentar e esperar pelo retorno de The Expanse no Prime Video, não é Mr. Bezos? Estamos prontos para isso!

The Expanse: Dente de Dragão (The Expanse: Dragon Tooth – EUA, 2023/24)
Conteúdo: The Expanse: Dragon Tooth #1 a 12
Roteiro: Andy Diggle
Arte: Rubine e David Cabeza (#1 a 4); Francesco Pisa (#5 a 12)
Cores: Raúl Angulo (#1 a 8); Francesco Segala, Gloria Martinelli (#9 a 12)
Letras: Pat Brosseau
Editoria: Kenzie Rzonca, Jon Moisan
Editora: BOOM! Studios
Datas originais de publicação: 19 de abril, 24 de maio, 28 de junho, 26 de julho, 27 de setembro, 25 de outubro, 22 de novembro e 27 de dezembro de 2023; 28 de fevereiro, 27 de março, 24 de abril e 29 de maio de 2024
Páginas: 324

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