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Crítica | The Expanse – 5X10: Nemesis Games

por Ritter Fan
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  • Há spoilers da série de TV, mas não dos livros (mantenham assim nos comentários, por favor). Leiam, aqui, as críticas das demais temporadas.

As far as last stands go, that’s the one I’d pick.
– Burton, Amos

Mark Fergus e Hawk Ostby tinham uma missão ingrata para o final da 5ª temporada de The Expanse. Dois eventos não exatamente planejados aconteceram com a série em pós-produção: no meio do ano, Cas Anvar foi acusado de abuso sexual e a produção resolveu excluí-lo da série e, logo antes da estreia, sai a agridoce notícia da renovação para mais um ano que, porém, seria o último. Claro que o primeiro acontecimento foi mesmo uma surpresa inesperada – que, infelizmente, vem se tornando cada vez mais esperada – e exigiria medidas drásticas ou com nova escalação do personagem ou, claro, com sua morte. Quanto à segunda, é difícil dizer o quanto ela influenciou a temporada, mas custo acreditar que os showrunners só realmente souberam da decisão às vésperas do começo da temporada e Nenemis Games dá algumas indicações de que já havia uma conversa nessa direção.

Mas vamos primeiro abordar o núcleo do episódio, ou seja, a resolução da odisseia de Naomi Nagata isolada e perdida na Chetzemoka, nave-armadilha de Marco Inaros para a Rocinante. São algo como 35 minutos dedicados exclusivamente a essa questão, minutos esses que são muito bem utilizados, seja com a duvidosa, mas compreensível decisão passional de James Holden de sacrificar a Rocinante para dar tempo à Alex e Bobbi de salvar sua amada, seja com o conflito crescente na Tynan entre Camina Drummer e Karal. Não há grandes surpresas no que ocorre, mas surpresa do tipo que muitos almejam por aí é bobagem de quem acha que roteiro tem obrigação de tirar uma solução mágica da cartola somente para tirar onomatopeias da boca do espectador. The Expanse não tem essas bobagens e o que o roteiro de Daniel Abraham, Ty Franck e Naren Shankar entrega é exatamente o que devia entregar: ação de alta octanagem que segue uma estrutura ditada pela lógica interna da série.

Holden é capaz de qualquer coisa por Naomi, além de ser um líder exemplar. A combinação desses dois fatores resulta em sua escolha de arremessar-se em meio a cinco naves leais a Inaros. Nota-se a resistência de Bull, mas seu reconhecimento da inevitabilidade da situação, já que o alvo do suposto revolucionário Belter é a Rocinante como o símbolo de união de povos que sempre foi e que Avasarala deixa muito evidente (talvez um tantinho demais) nos minutos finais, vem muito rapidamente como deveria mesmo vir no calor dos segundos que antecipa uma batalha desse nível. Da mesma forma, Drummer nunca escondeu sua raiva consigo mesma por ter aceito fazer uma aliança – mesmo forçada – com Marco Inaros, o homem que matou Klaes Ashford, seu mentor e amigo e, mesmo considerando seu relacionamento poliamoroso com sua tripulação, tornando-a uma família realmente muito próxima a ela, não havia outra opção que não a neutralização de Karal e a oferta de socorro à Rocinante que nós todos sabíamos que jamais seria destruída.

Portanto, a convergência narrativa para o momento que leva à batalha espacial é exemplar, um tabuleiro lógico que poucas séries têm paciência e categoria para montar. Diria, porém, que em termos de “tempo de tela”, tudo aconteceu talvez rapidamente demais, levando a uma certa confusão narrativa sobre quem exatamente estava atacando quem, exigindo esclarecimentos de tempos e tempos, incluindo um que vem muito tempo depois, por Monica, sobre o míssil que “não atingiu” a Rocinante que ganha um bom destaque, mas é em seguida esquecido. Dou extremo valor à pegada realista da série, como meus efusivos comentários anteriores deixaram mais do que claro, mas, aqui, eu acho que esse realismo atrapalhou um pouco o grande momento bélico do episódio e talvez da temporada toda, com toda a ação espacial – é importante diferenciar da ação que se passa dentro das naves, estas muito boas – acabou ficando apagada, perdendo muito facilmente pelo uso dos rail guns novos da Rocinante no sensacional Oyedeng.

Por outro lado, considerei o resgate de Naomi surpreendentemente emocionante. Não tinha dúvidas de que ela viveria, pois não faria o menor sentido fazê-la passar pelo périplo que passou somente para matá-la no último capítulo. Mas a execução de seu sacrifício final, sinalizando para a Razorback (também conhecida pelo hilariamente histérico nome The Screaming Firehawk) sobre o perigo de se aproximar com a clara intenção única de salvar seus amigos sem se preocupar consigo mesma (ecos de James Holden, claro) mostrou toda a categoria da direção de Breck Eisner mais uma vez. O uso de extremo close-up no rosto de Naomi, mas sem deixar que o giro em que ela se encontra apareça nas tomadas para amplificar o desespero e a situação sem saída em que ela se encontra, foi uma estratégia perfeita para fazer com que a aparição de Bobbi off camera primeiro criasse aquele momento em que até seria possível soltar aquela lágrima de emoção se eu fosse uma pessoa frágil assim claro, o que não sou de jeito algum… Uma solução elegante para uma sequência que conhecemos o desfecho em linhas gerais – Naomi não morrerá – mas que mesmo assim consegue trazer exatamente o tipo de surpresa boa em uma situação batida, quase clichê.

É claro que isso então me leva obrigatoriamente à Alex e seu destino… digamos… abrupto.

Os showrunners não tinham muita saída em relação ao personagem, sou o primeiro a admitir. Todas as filmagens já deviam ter acabado ou estar por acabar quando as denúncias contra Cas Anvar surgiram e substituir o ator era impossível, ainda que tenha havido tempo para destacar Bull na medida do possível como seu substituto.  Da mesma forma, a eliminação de Alex de maneira grandiosa exigiria refilmagens, pelo que a solução mundana, do tipo “e o herói tropeçou, bateu com a cabeça e morreu” era quase que literalmente a única possível. Dito isso, é difícil de engolir que um piloto que foi por diversas vezes chamado de o melhor de Marte morreria de embolia/derrame depois de acelerar como um louco para salvar Naomi. Retornando ao tema das surpresas, que abordei acima, essa é uma que, em termos narrativos, é o típico coelho retirado da cartola que, não fossem as circunstâncias práticas ao redor da situação, seria absolutamente terrível. Mas, claro, mesmo absolvendo a produção pelo que foi feito, já que era inevitável, o episódio sofre com isso pela forma repentina como acontece, o que é amplificado pelo corte que leva Holden diretamente a Naomi no momento seguinte já falando do funeral com honras.

Mas se essa questão era inevitável e, dentro das circunstâncias, eu até que consegui gostar, os 20 minutos de epílogo para armar a derradeira temporada foram realmente problemáticos. Para começar, releiam: 20 fracking minutos de epílogo! Sério que não dava para cada um dos aspectos abordados ali terem sido salpicados ao longo deste episódio e dos anteriores? Claro que a esperada reunião de Amos, James e Naomi, com direito a Amos cara-de-pau forçando a aceitação de Peaches por Holden (excelente momento, aliás), foi exatamente como deveria ter sido: rápida e bonita. E o episódio deveria ter acabado aí, talvez acrescentando apenas a sequência final em que Marco Inaros revela seu plano bélico de tomar conta do anel, com o que parece serem os alienígenas que aniquilaram seus construtores acordando finalmente. No entanto, não é isso que acontece e o roteiro passa a descrever em detalhes todo o novo status quo, tratando o espectador como alguém que começou a ver a série por esse episódio apenas.

Se os showrunners já sabiam ou não da renovação casada com cancelamento da série, isso não importa. O que realmente importa é que esse tipo de abordagem episódica em uma epílogo alongado destoa demais da temporada que manteve a narrativa muito próxima e pessoal, apenas com lampejos mais amplos, lampejos esses que, se eram mesmo essenciais para o que vem adiante, deveriam ter sido usados com mais frequência de maneira a evitar esse despejo “de tudo o que esqueceram de falar” em 20 minutos de assuntos aleatórios explicados de maneira didática.

A 5ª temporada de The Expanse não acaba como prometia que ia acabar, mas, mesmo assim, há muito o que se apreciar em Nemesis Games que, em grande parte, é uma aula de como reunir linhas narrativas e de como surpreender mesmo trabalhando situações clichê que o espectador sabe exatamente como vão acabar. Tomara que essa turbulência no final não seja uma indicação de que os showrunners perderam o controle da série, pois seria um crime The Expanse chegar ao seu fim em viés de baixa.

The Expanse – 5X10: Nemesis Games (EUA – 03 de fevereiro de 2021)
Showrunners:
 Mark Fergus, Hawk Ostby (baseado em romances de James S. A. Corey, nom de plume de Daniel Abraham e Ty Franck)
Direção: Breck Eisner
Roteiro: Daniel Abraham, Ty Franck, Naren Shankar
Elenco: Steven Strait, Cas Anvar, Dominique Tipper, Wes Chatham, Shohreh Aghdashloo, Frankie Adams, Jasai Chase Owens, Keon Alexander, Frankie Faison, Michael Irby, Anna Hopkins, Brent Sexton, Sandrine Holt, Olunike Adeliyi, Sugith Varughese, Nadine Nicole, Jacob Mundell, José Zúñiga
Duração: 57 min.

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