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Crítica | The Expanse – 5X06: Tribes

por Ritter Fan
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  • Há spoilers da série de TV, mas não dos livros (mantenham assim nos comentários, por favor). Leiam, aqui, as críticas das demais temporadas.

Episódios como Tribes têm a tendência de serem mal compreendidos, mas não por sua complexidade ou hermetismo, pois não é o caso, e sim pelo simples fato de ele ser um episódio já na segunda metade de uma temporada que, em um primeiro momento, pouco parece mover a narrativa macro. E essa impressão que muitos podem ter é perfeitamente aceitável, pois é justamente isso que o roteiro de Hallie Lambert faz, ou seja, caminha um pouco de lado para focar no drama humano, sacrificando o impulsionamento da história como um todo, algo que de forma alguma é grave aqui.

Como o título bem indica, o foco do episódios são as tribos ou os mais diferentes grupos que fazemos parte de uma forma ou de outra, proposital ou inadvertidamente e o quanto os nossos pares são importantes para a formação de nosso caráter, de nossa personalidade. É bem verdade que Bobbi e Alex são, por assim dizer, a exceção para confirmar a regra, já que a bela sequência de ação que os envolve, com Bobbi atacando os Belters de Inaros enquanto Alex planta uma bomba na nave inimiga, não tem conexão com a temática principal, tanto que eles ficam circunscritos a esse momento.

De maneira semelhante, Avasarala é abordada e “descartada” logo no preâmbulo pré-créditos, mas, nesse caso, a conexão temática existe já que ela rapidamente encontra sua “tribo”, sendo tragada de volta para o círculo interno de poder quando o perdido Ministro dos Transportes transformado em Secretário-Geral das Nações Unidas suplica sua ajuda mesmo vendo-a completamente arrasada pela potencial perda do marido. Apesar de sua imensa tristeza – que é genuína, não se enganem – é perfeitamente possível perceber um ar de triunfo, agora que ela poderá novamente dar as cartas, basicamente voltando ao comando.

Os dois grandes focos da semana, porém, ficam mesmo em Camina Drummer e a oferta que Marco Inaros faz a ela e em Amos Burton, juntamente com Clarissa Mao, tentando chegar em Baltimore depois da destruição da prisão. É nesses dois núcleos que a noção de tribo é realmente desenvolvida, uma de maneira mais óbvia e direta e outra com interessantes nuanças que contribuem para reforçar Amos como um dos mais fascinantes personagens da série.

Drummer, apesar de todo o ódio que sente por Marco Inaros, ódio esse amplificado pela declaração de guerra que ele sozinho fez aos Inners, está em um mato sem cachorro. A proposta do autodeclarado líder, com um Keon Alexander cada vez mais afetado a ponto de começar a ficar ridículo, é basicamente irrecusável e não por ser tentadora, mas sim por ser a única possível como bem coloca um dos tripulantes de Drummer. Com o ataque à Terra, a retaliação virá completamente sem rosto, ou seja, sem a menor preocupação sobre que tribo ela recairá e a única alternativa verdadeiramente existente é a união dos Belters sob uma única bandeira. Claro que a causa de Inaros faz sentido e sua explicação sobre a guerra há muito declarada, mas não sentida, porque as mortes vêm lentamente, é de fazer qualquer um abrir os olhos, mas ele simplesmente retirou a possibilidade de escolha de qualquer um, forçando uma união frágil em todos os sentidos que uma mera “troca de reféns” jamais será suficiente para evitar uma traição ou motim. Até porque, estamos falando de Drummer aqui, alguém que não só tem todas as razões do mundo para querer ver a cabeça de Inaros em um espeto, como tem conexões que podem levá-la diretamente a Avasarala, especialmente agora que a Rocinante está de volta ao combate.

Amos, por seu turno, ganha uma enganosamente simples narrativa de sobrevivência. Seu objetivo é salvar Clarissa a todo custo levando-a de volta a Baltimore, provavelmente para a proteção de Erich, o chefão do crime da região. A jornada pela floresta gelada aguça os instintos de Amos, fazendo-o reverter a seu estado primal que ele muito claramente reconhece e usa a seu favor, desconfio de tudo e todos para defender sua minúscula “tribo”. Esse Amos é um Amos que não víamos já há algum tempo: ressabiado, quase paranoico e absolutamente frio, incapaz de sentir qualquer coisa por quem quer que seja fora a pessoa que quer proteger. Clarissa é, para todos os efeitos, a nova Naomi e, se para sua proteção, for necessário matar alguém, que assim seja. É realmente importante entender o que Amos queria com o paranoico defensor de sua propriedade privada. Ele não estava ali para negociar, para conseguir uma arma para caçar ou para algo assim. Amos tinha um plano muito claro de no mínimo derrubar o dono das terras e imobilizá-lo para roubar o que precisasse. A morte dele, graças aos implantes cibernéticos de Clarissa, é, apenas, o mesmo resultado sendo alcançado de outra forma.

Mas o Amos primal não consegue se manter assim o tempo todo e seu Amos evoluído vem à tona quando, ao final da conversa, ele reconhece que precisa voltar ao que considera ser sua verdadeira tribo, a tripulação da Rocinante. A importância dessa conclusão é que Amos sabe que ele é um homem melhor quando seus instintos basais são postos em xeque e mantidos sob controle, algo que ele aparentemente só reputa possível ao lado de Holden, Naomi e Alex. Mais ainda, ele parece perceber que está se perdendo novamente, o que pode ser um caminho sem volta para ele. Toda a ambientação selvagem das sequências da jornada dos dois é perfeita para lidar com o dilema do personagem que, nesta temporada mais do que em qualquer outra, tem sido brindado com um cuidadoso trabalho de desenvolvimento.

No entanto, claro, há que haver uma troca. Em uma série como essa, os roteiros não podem – e nem devem – manter o ritmo alucinante de ação, relegando os personagens a meros recortes de cartolina instrumentais para esse fim, mas também não podem focar exclusivamente nos personagens, esquecendo da ação. É um equilíbrio difícil de alcançar e, mesmo que Tribes não o alcance quando visto de maneira estanque, ele chega lá quando o episódio é interpretado dentro do conjunto narrativo oferecido até agora pelos showrunners. É por isso que é perfeitamente possível que alguém considere o capítulo lento, ainda que uma análise mais detida revele que ele não é nada disso na verdade, sendo sim um episódio mais focado em personagens do que em ação, mas que impulsiona a narrativa macro ao trabalhar o psicológico de seus personagens. Não é toda série sci-fi que faz isso com esse nível de qualidade e temos que apreciar The Expanse por se dar ao luxo de seguir por esse caminho mais difícil e, sob os olhares apressados de muitos, mais lento.

The Expanse – 5X06: Tribes (EUA – 06 de janeiro de 2021)
Showrunners:
 Mark Fergus, Hawk Ostby (baseado em romances de James S. A. Corey, nom de plume de Daniel Abraham e Ty Franck)
Direção: Jeff Woolnough
Roteiro: Hallie Lambert
Elenco: Steven Strait, Cas Anvar, Dominique Tipper, Wes Chatham, Shohreh Aghdashloo, Frankie Adams, Jasai Chase Owens, Keon Alexander, Frankie Faison, Michael Irby, Anna Hopkins
Duração: 52 min.

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