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Crítica | The Evil Within

por Guilherme Coral
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estrelas 4,5

O terror esteve presente na história dos video-games desde suas origens, com exemplos iniciais lançados para o PC e o Atari. Ao longo dos anos o gênero adotou diversas formas até ser revolucionado por um homem chamado Shinji Mikami, através de Resident Evil. A partir daí, diversos games assumiram características presentes no marco inicial da famosa franquia, copiando pontos que vão desde a câmera limitada até os cenários em si. Mikami, porém, não cansado de marcar a indústria uma vez traz uma nova fase para o estilo com Resident Evil 4, que descartou os enquadramentos estáticos a favor de uma jogabilidade mais próxima dos jogos de ação, sem, contudo, abandonar o medo gerado no jogador – algo que, infelizmente, não se sustentou nas mãos de outros diretores que deram continuidade à franquia.

Praticamente dez anos depois, o realizador ganhou o centro do palco com sua mais recente empreitada, The Evil Within, que captou a atenção da comunidade pela sua bem-vinda proposta de reviver um gênero que há tempos apresentava sinais de cansaço, ainda que ótimos exemplares, como Amnesia Dead Space tenham sido produzidos. Apesar de soar similar a muitos outros, The Evil Within representa uma verdadeira amálgama das duas obras-primas já lançadas do diretor, que combinou elementos de ambos para criar uma verdadeira odisseia de terror psicológico, que mexe com o jogador em diferentes estágios.

Talvez o que mais chame a atenção no jogo é a nossa impotência. Controlando o detetive Sebastian Castellanos somos levados em uma jornada surreal que distorce o tempo-espaço muito bem representando um alto grau de loucura que acaba tomando nossa conta. Ao receber uma chamada para investigar o hospital psiquiátrico Beacon, Sebastian presencia a morte de seus companheiros e é levado por uma entidade misteriosa para um mundo que mais soa como um pesadelo. Repleto de criaturas monstruosas, o detetive deve achar seu caminho por toda essa insanidade e descobrir se ele próprio está louco ou se o mundo à sua volta simplesmente mudou de maneira brusca.

Olhe para trás?

Olhe para trás?

Similarmente a uma aventura onírica, o game muitas vezes nos transporta de um ambiente para o outro de forma repentina, com o auxilio de efeitos visuais, um hospital acaba virando um sanguinário cativeiro, para depois se transformar em uma escura floresta ou uma casa abandonada – nunca sabemos onde vamos parar e essa não-linearidade é a perfeita escolha do desenvolvedor para nos tirar no lugar comum e quebrar qualquer sensação de segurança. Não há pausas para respirar em The Evil Within, ao passo que qualquer porta aberta pode nos levar para um local hostil e aterrorizante, seja de dia ou de noite.

A jogabilidade, bastante similar ao que vemos em Resident Evil 4 deixa o jogador completamente vulnerável – mirar e atirar requer um certo grau de treinamento e a escassez de munição nos faz querer economizar ao máximo cada bala. A situação se complica ainda mais quando nos deparamos com hordas de inimigos, nos forçando a escolher alternativas para o simples “sair atirando”. O jogo, para tal, insere uma básica, porém efetiva, mecânica de stealth que deve ser utilizada sempre que possível. Aliando isso com os diferentes tipos de equipamento que adquirimos ao longo do jogo o jogador pode traçar diversas rotas para seu objetivo, cada qual possuindo seus altos e baixos. A morte é uma constante e o clássico tentativa e erro ocorre diversas vezes ao longo do game, até formularmos efetivas estratégias para sobreviver.

Aqui entramos no primeiro ponto negativo do jogo: seu tempo de load. A cada morte somos forçados a voltarmos para checkpoints que gravam nosso progresso regularmente. Infelizmente isso quer dizer que, a cada vez que formos pegos de surpresa e chacinados pelo inimigo teremos de presenciar uma longa tela de loading que pode levar até 15 segundos. Parece pouco? Sim, mas isso acaba criando uma pequena quebra de ritmo em determinados momentos. Felizmente, salvo algumas raras exceções, os checkpoints são bem localizados e não nos fazem perder muito.

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Corre! Corre! Corre!

A estrutura do game assume uma interessante forma de sucessão de puzzles. Ao exemplo de seu irmão mais velho, RE4The Evil Within conta com sua narrativa dividida em capítulos, cada qual nos trazendo diferentes desafios a serem vencidos. Embora não seja uma regra, cada uma dessas fases costuma contar com uma espécie de chefe, o que aumenta a sensação de terror do jogador, que sabe que irá se deparar com uma ameaçadora monstruosidade no fim do capítulo. Algo peculiar no game é a forma como a dificuldade se mantém com o passar das horas – a mesma impotência sentida nos primórdios se mantém até os momentos finais, por mais que tenhamos adquirido um arsenal bélico considerável – em nenhum ponto nos sentimos à vontade nos variados ambientes do jogo e isso, sem dúvidas, é um ponto muito positivo.

Não pense, todavia, que Mikami deixou de fora a sensação de melhoria de nosso personagem. Através de um perturbador mecanismo podemos realizar upgrades para a constituição de Castellanos ou para seus equipamentos, mais uma vez puxando fortes traços de seus predecessores. Essas melhorias são essenciais para a progressão e nos forçam a vasculhar meticulosamente cada área do jogo, por mais perigosas que sejam. Esse perigo, por sua vez, é muito bem representado através de uma excepcional arte, que transforma qualquer local em um verdadeiro show de horrores. Tal ponto, infelizmente, é atrapalhado por algumas lentidões no carregamento de texturas, nada, porém, gritante e que, com o passar das horas, vai se diminuindo consideravelmente. Os gráficos, embora não usufruam de toda a capacidade da nova geração, cumprem seu papel e podem ser cativantes em inúmeros aspectos.

Com esses pontos em mente fica fácil constatar que Shinji Mikami conseguiu de novo. Com uma narrativa engajante que nos deixa curiosos a cada capítulo, The Evil Within é um verdadeiro survival horror, que usufrui das melhores características do gênero, nos forçando a ficar na ponta da cadeira esperando o próximo susto. Espera uma constante tensão e um evidente medo de apagar as luzes, mas não deixe de experimentar esse ótimo exemplo de terror psicológico.

The Evil Within
Desenvolvedor:
Tango Gameworks
Lançamento: 14 de Outubro de 2014
Gênero: Survival Horror
Disponível para: PS3, PS4, Xbox 360, Xbox One, PC

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