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Crítica | The Boys – Vol. 12: Metendo o Pé na Porta

por Ritter Fan
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  • spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais volumes e, aqui, da série de TV.

Quando Billy Carniceiro finalmente executa sua tão esperada vingança ao final de No Topo da Colina com as Espadas de Mil Homens, ele reconhece que sua amada Becky não aprovaria o que ele acabara de fazer e muito menos ainda o que ele estava por fazer. Com essas palavras, o épico volume anterior é encerrado, abrindo as portas para o 12º e último capítulo da macro-história iniciada seis anos antes. Metendo o Pé na Porta é um longo – mas necessário – epílogo que é dividido entre o arco de cinco edições que batiza o encadernado e a 72ª edição, batizada de You Found Me (Você Me Encontrou em tradução literal), que funciona como ponto final.

A história, aqui, conversa bem com a natureza do próprio Billy conforme explicada e temida por Mallory no arco Guerras Bárbaras, contido no encadernado Montanha-Russa, e lida com a necessidade patológica do líder da equipe não em controlar e/ou subjugar os seres super-poderosos, mas sim eliminá-los completamente, o que, nesse universo, considerando o quanto o Composto V já foi propagado pela população mundial sem que ela soubesse, seria o equivalente a um genocídio de proporções bíblicas. Para que isso aconteça e, mais ainda, para que a lógica do plano de Billy seja mantida, Garth Ennis usa Hughie como detetive, fazendo-o reunir as peças necessárias para entender o que está prestes a acontecer.

E o roteiro é cuidadoso primeiro em iniciar o arco final de maneira bombástica só para já mostrar a que veio, mas, mais ainda ao revisitar eventos anteriores – seja por meio de diálogos, seja por meio de econômicos flashbacks -, emprestando novos significados a eles e revelando que o plano de Billy não é algo tirado da cartola e sim fruto de um longo e lento planejamento de muitos anos, desde que ele começou a trabalhar para Mallory. No entanto, diferente de um retcon típico dos quadrinhos que é basicamente pensado a posteriori e encaixado a fórceps na continuidade passada, aqui a coisa flui muito suave e logicamente, sem furos ostensivos e sem que o leitor seja retirado da imersão, demonstrando que Ennis tinha um planejamento sólido que delineava o fim desde o começo da saga.

Aqui, finalmente, Billy retira completamente sua casca de mocinho e veste seu manto de vilão, sem meios-termos. Sim, ele fez o bem ao impedir o golpe de Homelander e sim, a proposta em si de seu grupo de vigilantes faz sentido dentro do que nos é apresentado por Ennis nesse universo de super-heróis mais do que apenas moralmente corruptos, mas as ações de Billy, aqui (mas não só aqui), revela que o trauma da morte de Becky quebrou alguma coisa dentro dele ou, como talvez seu pai diria para ele, acordou de vez sua verdadeira persona. O roteiro lida com essa questão psicológica quase que indicando que Billy tem dupla personalidade (o que seria um artifício ruim aqui), mas a verdade é pior e mais insidiosa ainda: Billy é ele mesmo e ele tem total consciência do que faz.

A diferença é o que Hughie significa para ele. Hughie, mesmo tendo cometido uma série de atos extremamente violentos, inclusive ter arrancado a cabeça de Trem Bala em uma explosão de raiva (maliciosamente manobrada por Billy, vale lembrar), continua sendo a bússola moral de toda a história. Ele talvez seja Billy se Becky não tivesse morrido da forma como morreu. E essa conexão dele com Billy, que basicamente o adota como mentor de maneira muito mais próxima (aparentemente) do que a mentoria de Mallory em relação a Billy, transforma Hughie na tábua de salvação do próprio Billy. Hughie é, para simplificar, a kryptonita de Billy e, como tal, Billy conscientemente usa Hughie como o principal elemento de auto-sabotagem de seu plano genocida.

Pode ser que muitos concluam que o “embate final” – por assim dizer – é anti-climático, muito aquém do que deveria ser considerando o histórico dos personagens e assim por diante. Outros até poderão dizer que foi uma saída preguiçosa ou conveniente demais de Ennis. Tenho para mim, porém, que a prestação de contas foi perfeita. Billy teve o fim que secretamente desejava – e ele estava feliz assim – e Hughie sendo o instrumento de tudo, mesmo que de forma inadvertida, é a proverbial cereja no bolo. Tudo funciona e o fim do grupo chega de maneira muito satisfatória e inteligente.

E o mesmo pode ser dito da Vought American. A maligna presença corporativa, simbolizada, nos últimos encadernados, pela dupla de executivos James Stillwell e Jessica Bradley, recebe o fim possível. Nada cataclísmico e nada destruidor, mas sim uma perfeita representação da empresa capaz de jogar qualquer um para os lobos se isso significar sua sobrevivência. E, mesmo que Hughie acabe com um módico de influência sobre as escolhas futuras da agora renomeada American Consolidated, ele sabe que isso está muito longe de significar algo que mude completamente o jogo que é jogado a décadas com cartas marcadas. Ennis é pessimista, não tenham dúvida, mas esse pessimismo é necessário aqui para tornar lógico esse encerramento.

Metendo o Pé na Porta encerra com chave de ouro uma história muito divertida, mas também muito assustadora em que vemos o que o poder – qualquer poder – realmente significa. E esse significado não é o que vemos no sorriso em rostos perfeitos em corpos esculturais vestidos com uniformes brilhantes e nem em frases de efeito que relacionam poder com responsabilidade. Poder é a maior força corrompedora que existe. E Ennis não tem nenhuma dúvida disso.

  • Obs: Este é o último volume da história principal de The Boys, mas há um 13º em andamento – Dear Becky – na data de publicação da presente crítica que será avaliado assim que for encerrado.

The Boys – Vol. 12: Metendo o Pé na Porta (The Boys – Vol. 12: The Bloody Doors Off – EUA, 2012)
Contendo: The Boys #66 a 72
Roteiro: Garth Ennis
Arte: Russ Braun, Darick Robertson (#72)
Cores: Tony Aviña, Richard P. Clark (#72)
Letreiramento: Simon Bowland
Capa: Darick Robertson
Editora original: Dynamite Comics (Dynamite Entertainment)
Data original de publicação: maio a novembro de 2012
Editora no Brasil: Devir
Data de publicação no Brasil: novembro de 2020
Páginas: 187

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