Home TVTemporadas Crítica | The Boys Apresenta: Diabólicos – 1ª Temporada

Crítica | The Boys Apresenta: Diabólicos – 1ª Temporada

Mergulhando mais a fundo no doentio universo de The Boys.

por Ritter Fan
3,7K views

Seguindo o inteligente e refrescante conceito de Star Wars: Visions, The Boys Apresenta: Diabólicos é uma série animada em formato de antologia que se passa no ultraviolento universo de The Boys criado por Garth Ennis e Darick Robertson  e adaptado para o streaming com muito sucesso sob o comando de Eric Kripke, que faz uso de elementos retirados tanto dos quadrinhos quanto da série live-action, com cada episódio independente produzido em estilo próprio. Como é de se esperar nesse tipo de série, claro, os oito capítulos desta primeira temporada variam tremendamente em qualidade, ainda que todos tenham em comum a completa falta de freios para o que quer que seja, de violência explícita a escatologia, passando por conteúdo sexual e nojeiras em geral.

É na variedade de estilos e na liberdade que a animação naturalmente permite que o conjunto geral acaba sendo uma ótima diversão que, de quebra, ajuda a expandir o universo de The Boys sem grandes preocupações com canonicidade e torna possível que a equipe criativa faça literalmente o que quiser. E isso tudo em pacotes curtinhos e objetivos de 14 ou 15 minutos, do tipo que, quando começa a engrenar, acaba, mas sem, pelo menos nessa temporada inicial, deixar nada pendurado que exija “continuações” de episódios específicos.

Seguindo a ordem do Amazon Prime Video, o primeiro episódio é um ótimo início pela combinação de pura simplicidade e litros de sanguinolência e tripas. Em O Passeio do Bebê Laser, um funcionário da Vought que se compadece por um bebê marcado para ser eliminado porque não consegue controlar seus poderes, resolve sequestrá-lo para salvá-lo, gerando, claro, todo tipo de destruição e mortes que uma visão laser descontrolada pode gerar, tudo no melhor estilo frenético Looney Tunes e lembrando muito fortemente aquele fantástico e hilário preâmbulo de Uma Cilada para Roger Rabbit. É despretensioso e divertido, ainda que razoavelmente esquecível.

O segundo curta, Um Curta Animado Onde Alguns Super Zangados Matam Seus Pais, é basicamente o contrário do anterior, pois lida magistralmente – e exatamente como o título explicativo indica – com aquela velha história que é raramente abordada: o que acontece no caso de pessoas com superpoderes completamente inúteis? No entanto, há oo agravante de seus poderes terem sido artificialmente “dados” a eles em razão da injeção do Composto V antes de eles nascerem, tornando o sofrimento – e o abandono – de todos ali no “orfanato dos inúteis” – ainda mais terrível. Portanto, o trunfo do episódio é explorar com violência caricatural uma discussão inegavelmente interessante, criando, de quebra, diversos belos e variados momentos de catarse assassina.

Mesmo com Homelander aparecendo ao final do curta anterior, Eu Sou Seu Traficante é o primeiro a diretamente trazer os protagonista da história, no caso Billy Butcher (e Terror, claro, infelizmente tão negligenciado na série!) e Hughie, só que na versão exata dos quadrinhos. É, diria, o mais próximo que chegamos às HQs, com Butcher sem barba e Hughie careca e com cavanhaque, além do sotaque pesado, ambos exercendo pressão em um traficante de drogas para batizar um carregamento de maneira a envenenar um super, com os costumeiros resultados sanguinolentos. A técnica de animação, aqui, é um pouco menos interessante, mas ver a literalidade dos quadrinhos de Garth Ennis ganhar vida é sem dúvida muito interessante, sem dúvida.

Boyd do 3D tem, talvez, o conceito mais interessante do grupo de episódios, com um homem e uma mulher vizinhos de porta que, usando um creme em fase de teste da Vought, assumem as aparências ideais para eles. Ele torna-se um homem belo e forte, enquanto ela converte-se em literalmente uma felina, passando a viver juntos uma vida falta e efêmera, exatamente onde a crítica do roteiro repousa. Por seu turno, a animação seguinte, BFFs – Melhores Amigas, escrita e protagonizada por Awkwafina e materializada com um anime, depende unicamente do quanto é possível transformar excremento em fofura em um festival escatológico que perde a graça completamente depois do primeiro minuto em que vemos uma jovem excretar sua “melhor amiga” logo após beber Composto V.

Núbio versus Núbia lida com o divórcio de dois supers com codinomes muito parecidos, mas cuja filha faz de tudo para impedir a separação, com resultados desastrosos, obviamente. É um bom conceito executado de maneira um tanto quanto pedestre, sem realmente chegar ao ponto que poderia chegar para ser realmente algo chocante. A animação seguinte, John e Sun-Hee, é de longe a mais tocante e dramática, basicamente pegando a ideia mal aproveitada de BFFs – Melhores Amigas e dando poderes à moribunda Sun-Hee e, separadamente, também ao câncer que a consome e se torna um kaiju destruidor, depois que seu marido John a injeta com Composto V para salvá-la. Trata-se do “menos” The Boys de todos os curtas, mas, ao mesmo tempo, o que mais aproveita os conceitos desse universo em uma história que consegue ser tão familiar quanto surpreendente.

Um Mais Mm É Igual a Dois fecha o pacote inicial de curtas com uma história de origem de Homelander, muito claramente a que mais diretamente “conversa” com a série live-action que se aproxima de sua terceira temporada. Nele, vemos o líder d’Os Sete sendo apresentado ao mundo e imediatamente, graças a uma sementinha plantada em sua cabeça traumatizada por um passado aterrador cortesia da Vought, passando a ter ciúmes de Black Noir. É esse sentimento que o leva a agir impensadamente em sua primeira missão, uma situação de reféns em uma usina, sem esperar seu colega de grupo, culminando em tudo aquilo que podemos imaginar de uma missão com esses parâmetros capitaneada pelo Homelander. Apesar de ser uma animação muito bem executada, não sei se gosto muito da relativização que o personagem ganha aqui, de certa forma uma tentativa de “justificar” o porquê de ele ser como é, mas, por outro lado, a lógica funciona bem dada à vilania da Vought por trás de tudo.

The Boys Apresenta: Diabólicos é uma diversão só dentro desse universo doentio de Garth Ennis, nos quadrinhos, e Eric Kripke, no streaming, funcionando como uma eficiente ponte entre essas duas mídias e, também, como uma forma de vermos mais do que a série com atores reais pode nos oferecer. Espero que a animação passe a ser uma tradição do período “entre temporadas” da série live-action e que os futuros episódios sejam ainda mais enlouquecidos do que os dessa fornada inicial, pois não só as HQs oferecem muito material em potencial, como a imaginação dos roteiristas e diretores pode correr completamente solta.

The Boys Apresenta: Diabólicos (The Boys Presents: Diabolical – EUA, 04 de março de 2022)
Direção: Crystal Chesney-Thompson e Derek Thompson (1X01), Parker Simmons (1X02), Giancarlo Volpe (1X03), Naz Ghodrati-Azadi (1X04), Madeleine Flores (1X05), Matthew Bordenave (1X06), Steve Ahn (1X07), Jae Kim e Giancarlo Volpe (1X08)
Roteiro: Seth Rogen e Evan Goldberg (1X01), Justin Roiland e Ben Bayouth (1X02), Garth Ennis (1X03), Eliot Glazer (1X04), Awkwafina (1X05), Aisha Tyler (1X06), Andy Samberg (1X07), Simon Racioppa (1X08)
Elenco:
1X01 – Ben Schwartz, Fred Tatasciore, Jenny Yokobori
1X02 – Frances Conroy, Asjha Cooper, Grey Griffin, Xolo Maridueña, Caleb McLaughlin, Eugene Mirman, Retta, Justin Roiland, Ben Schwartz, Parker Simmons, Christian Slater as Narrator, Kevin Smith, Kenan Thompson, Angela Marie Volpe, Gary Anthony Williams
1X03 – Kimberly Brooks, Michael Cera, Kieran Culkin, Jason Isaacs, Dominique McElligott, Simon Pegg, Kevin Michael Richardson, Antony Starr
1X04 – Chris Diamantopoulos, Emily V. Gordon, Eliot Glazer, Colby Minifie, Kumail Nanjiani, Nasim Pedrad
1X05 – Awkwafina, Nicole Byer, Chace Crawford, Seth Rogen, Grey Griffin
1X06 – Don Cheadle, John DiMaggio, Somali Rose, Aisha Tyler, Nickie Bryer, Nyima Funk, Bobby Kesselman, Dan Navarro
1X07 – Randall Duk Kim, Khary Payton, Andy Samberg, Angela Marie Volpe, Youn Yuh-jung
1X08 – Chris Diamantopoulos, Giancarlo Esposito, Jermaine Fowler, Grey Griffin, David Marciano, Elisabeth Shue, Antony Starr, Ursula Taherian, Sean Patrick Thomas
Duração: 14 a 15 min. cada episódio (oito episódios no total)

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais