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Crítica | The Boys – 4X07: The Insider

Perdendo velocidade.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas de todo o material desse universo.

Nesta quarta temporada de The Boys, mesmo os acertos de Eric Kripke são repletos de erros e problemas. O showrunner, que vinha mostrando completo controle da série até o final do penúltimo episódio da temporada anterior, parece ter se perdido completamente dali em diante, passando a desfazer desenvolvimentos da história e a fazer com que tudo andasse consideravelmente de lado, deixando quase que todos os grandes eventos em banho maria e em compasso de espera pela última temporada, em que, pelo menos em tese, os freios poderão ser retirados e ele poderá dar o fim que bem entender a seus personagens. Se Negócio Sujo e Cuidado com o Jaguadarte, Meu Filho trouxeram algum grau de esperança por uma temporada que pudesse sair ali da incômoda linha logo acima da mediocridade, O Informante vem para jogar um pouco que água fria nessa possibilidade.

Como exemplo de que os acertos de Kripke vêm carregados de erros, vejam o retorno de Billy Bruto para a efetiva chefia dos Rapazes, trazendo a reboque um Francês que ele mexera os pauzinhos para libertar da prisão. Os acertos estão na superfície, pois Bruto jamais deveria ter deixado a liderança do grupo, mesmo considerando todas as barbaridades que cometeu, e Francês jamais deveria ter crise de consciência a ponto de levá-lo a entregar-se, pelo menos não a essa altura do campeonato. Ok, maravilha. Mas, para fazer isso, o showrunner teve que enrolar, enrolar e enrolar para deixar Bruto em segundo plano e MM como líder interino, por assim dizer, com sua supostamente triunfal volta, com direito à confissão do que ele fizera com Sameer, sendo abafada pela volta de Francês que, para merecer esse destaque, precisou de TODA uma trama sobre ele namorar alguém cujos pais ele matara. Se havia algum valor na confissão de Bruto (e eu tenho minhas dúvidas se tinha), ela foi para a lixeira com a entrada de Francês basicamente varrendo para debaixo do tapete tudo o que passou e aceitando as ordens de Bruto como se seu drama pessoal não fosse mais do que uma coceira passageira.

E não, não adianta aquela conversa entre Francês e Kimiko, em que ela usa a própria razão para ela não mais falar como prova de que Francês não precisa se sentir o pior dos homens. Aquilo lá foi, pura e simplesmente, uma repetição cansada de uma linha narrativa que já havia acabado há tempos e que foi ressuscitada na penúltima temporada apenas para servir de enxertos dramáticos para justificar sua existência. E o que falar da oportunidade perdida para servir quase como juros compostos em cima do monte de coisa que Kripke fez para chegar a esse ponto redundante? Refiro-me especificamente ao bom momento em que Sameer, para fugir de seu cativeiro, injeta o vírus em Kimiko, fazendo com que Francês não hesitasse em serrar a perna dela para evitar o alastramento da infecção. Esse era o momento perfeito – mais um! – para que alguém realmente importante morresse na série. Se Kimiko falecesse aqui, depois de sua confissão e depois de mostrar que Francês está fazendo uma tempestade em copo d’água, haveria valor em seu sacrifício e mais ainda na possível reação que Francês poderia ter com a dor de sua perda. Mas não, tudo acabou como antes, com o grupo “quase” com um vírus que, conforme Francês, não será capaz de matar o Capitão Pátria, o que é código para dizer que ele é inútil.

Houve mais acertos dessa natureza, ou seja, “acertos errados”. O Capitão Pátria mandar Profundo e Black Noir II executar os Rapazes é uma saída boba e covarde do roteiro para evitar um enfrentamento maior. Novamente o Pátria é freado basicamente pelo poder de Kripke de não empregá-lo antes do clímax da série toda, em outra indicação de que já passou do tempo de The Boys acabar. Essa sequência teve como único objetivo fazer com que Trem-Bala se revelasse finalmente como traidor dos Sete e trazer MM de volta para o grupo depois que ele, do nada, resolve mandar a família para Belize (até Trem-Bala, que não é o suprassumo da inteligência, disse o óbvio para ele, ou seja, que fazer isso é a mesma coisa que se esconder embaixo da cama) e, mais do nada ainda (ok, não foi do nada, teve o beijo e as súplicas da esposa…), resolve ir junto, largando tudo para trás. Será que a equipe de roteiristas não tem voz alguma a ponto de dizer para o showrunner que esse tipo de coisa pode parecer bacaninha, mas que não funciona dramaticamente para além de cinco segundos de cenas heroicas?

Até mesmo Profundo matando Ambrosius em razão de seu envolvimento com Mana Sábia foi um daqueles momentos pobres em que todo o esforço de se construir uma história decente – ainda que bizarra, obviamente – vai por água abaixo em um estalar de dedos que, aliás, sequer faz sentido dentro do próprio episódio, já que, momentos antes, vimos a polva na boa, conversando, flertando e respirando calmamente na cama do namorado, somente para ela morrer em segundos depois que o aquário é quebrado. Não sou o chato do “furo de roteiro”, mas caramba, esse foi demais e conseguiu me deixar irritado. Fora que, com isso, perdemos Tilda Swinton fazendo a voz do bicho…

Houve acertos sem erros, porém. Toda a narrativa envolvendo Ryan e desaguando no garoto finalmente enfrentando seu pai e mostrando que ele é um ser pensante não muito facilmente manipulável foi bem conduzida. Não só o uso de um especial de Natal com marionetes doutrinadoras de manés otários foi uma boa ideia, como o despertar do garoto convenceu. No entanto – e eu reitero com veemência o “no entanto” – esses meus comentários só se aplicam se Ryan realmente não mudar de ideia novamente. Sei que ele é um adolescente e, como todo (ou quase todo) adolescente, é facilmente manipulável, mas, depois dessa, não deveria haver volta para ele. O outro acerto foi a conversa de Trem-Bala com Ashley depois que ele resolve ajudar abertamente os Rapazes. Se, de um lado, vemos o ponto alto do super em sua jornada de redenção, em que ele tenta levar a comparsa para longe da Torre Vought agora que tudo ficou às claras, por outro vemos Ashley compreender e abraçar muito claramente quem ela se tornou, um monstro. Ela não acha que há volta, que há saída real para ela e decide ficar onde está. Foi, dramaticamente, um momento excelente que, suspeito, ainda terá razão de ser dentro da narrativa no futuro quando houver o embate final da Liga da Justiça – composta, até agora, por Luz-Estrela, Recruta Pátria (Ryan, obviamente), Trem-Bala, Bruto/Kessler, Maeve, Kimiko, além de Hughie e MM com Temp-V – contra a Liga da Injustiça,

Lógico que eu não poderia encerrar a crítica sem falar de Mana Sábia e a revelação de que ela já sabia que Trem-Bala era o traidor. Em tese, isso apazigua inquietações sobre como ela, sendo a pessoa mais inteligente do mundo, não havia percebido isso antes, mas esse aspecto não me incomodava tanto. O interessante da revelação é que o plano dela continua em movimento, pois, se eu entendi corretamente, a alusão dela a ter deixado Trem-Bala solto foi para ele inadvertidamente alimentar os Rapazes de informações que ela queria que ele passasse adiante. No caso concreto, quer parecer que toda a sequência da mansão e a gravação da reunião golpista foi arquitetada indiretamente por Sábia com o objetivo de obter provas contundentes contra Victoria Neuman, a única super que pode enfrentar o Capitão Pátria. Se meu raciocínio estiver correto, pontos para Kripke.

Mas, como de praxe, o showrunner perde pontos por outro lado, talvez tanto quanto os que ganhou, já que o plano de Sábia envolve o uso de um super transmorfo (outro, já que o Pátria matou um na série) que é introduzido aqui somente, com a temporada no fim. Por mais que a sequência da fuga do sujeito de Annie e Hughie tenha sido muito bacana, com ele/ela arrancando a pele para mudar de aparência, e por mais que a Annie toda sexy transando de uniforme com Hughie seja revelada como o transmorfo, a introdução desse personagem para ser o “Lee Harvey Oswald” da temporada me cheira muito mal, simplesmente porque, se tudo seguir nessa linha, o último episódio será os Rapazes tentando (e provavelmente não conseguindo) impedir o assassinato do presidente eleito, obviamente algo arquitetado para impedir o embate entre os dois grupos. Em outras palavras, tudo não passa de um embuste para justificar uma temporada que não deveria ter existido. Mas, claro, eu espero estar muito errado.

Aos trancos e barrancos, a quarta temporada de The Boys estava conseguindo se erguer, mas, com O Informante, Kripke dá alguns passos atrás em termos de desenvolvimento narrativo, lembrando o espectador que tudo o que ele conseguiu fazer até agora foi gastar milhões de dólares para enrolar a história e enganar seus espectadores. Claro, não é o fim do mundo e o episódio ainda é bom, apesar de todos os pesares, mas, como já disse outras vezes por aqui, ser só bom não é bom o suficiente.

The Boys – 4X07: O Informante (The Boys – 4X07: The Insider – EUA, 10 de julho de 2024)
Showrunner: Eric Kripke
Direção: Catriona McKenzie
Roteiro: Paul Grellong
Elenco: Karl Urban, Jack Quaid, Laz Alonso, Tomer Capon, Karen Fukuhara, Antony Starr, Erin Moriarty, Chace Crawford, Nathan Mitchell, Colby Minifie, Claudia Doumit, Cameron Crovetti, Susan Heyward, Valorie Curry, Rosemarie DeWitt, Jeffrey Dean Morgan, Derek Wilson, Omid Abtahi, Dan Mousseau, Tilda Swinton
Duração: 64 min.

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