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Crítica | The Boys – 4X05: Beware the Jabberwock, My Son

Na fazenda do velho MacDonald.

por Ritter Fan
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Confesso que minha nota final exageradamente alta para o episódio (meio HAL a mais do que deveria ser) vem do fato de eu ter rolado no chão de rir quando Old MacDonald Had a Farm começou a tocar nos créditos finais, com direito à minha esposa aparecer na sala para ver se eu não estava tendo um ataque cardíaco ou algo semelhante. Escolha absolutamente genial da produção em um capítulo que tem um terço de sua ação acontecendo justamente em uma fazenda repleta de bichos normalmente dóceis sendo transformados em assustadores super animais assassinos. Mesmo descontando o uso da canção, com direito ao chiado do disquinho de vinil, Beware the Jabberwock, My Son é facilmente o melhor episódio da temporada até agora, o único que eu posso dizer com tranquilidade que eu realmente gostei, mesmo que ele naturalmente carregue e repita os mesmos problemas que vêm assolando este quarto ano de The Boys.

Afinal, não há como afastar magicamente o caminho errático que Eric Kripke elegeu seguir aqui, mas é necessário elogiar quando, mesmo assim, um episódio, apesar de todo esse peso nas costas, consegue caminhar bem. É bem verdade que a sensação de que a história macro não está andando muito continua firme e forte, mas, no mínimo dos mínimos, o roteiro de Judalina Neira consegue conectar de maneira direta os eventos da primeira temporada de Gen V com The Boys, revelando a existência do vírus anti-super para os Rapazes e criando um cliffhanger que aponta para Bruto e Kessler (finalmente Jeffrey Dean Morgan com participações úteis, embora de meros segundos) dando um jeito de produzir mais da substância que, como sabemos, não será usada de maneira efetiva tão cedo. A bem da verdade, diria que o episódio poderia muito bem encerrar a temporada, até porque fechá-la com o close nas feições satânicas que só Karl Urban sabe fazer e que escolhi para ilustrar a crítica teria sido ideal.

Seja como for, é a caça ao vírus que faz o coração do episódio bater, vale dizer, com Billy e Marv arregimentando a ajuda forçada de Stan Edgar (Giancarlo Esposito retornando à série para uma participação muito maior que imaginava), juntando o grupo todo e ainda fazendo aliança temporária com Victoria Neuman para localizar seu marido, o Dr. Sameer Shah (Omid Abtahi), em meio ao bizarro e muito divertido ataque dos bichos sanguinários. Nesse “giro”, temos Esposito sempre elevando o jogo dramático, Marv finalmente mostrando-se um líder decente, Billy inescapavelmente sendo Billy mesmo quando não parece estar sendo Billy, além de toda a interação que envolve Francês e Kimiko e que leva Francês, cheio de remorso pela vida que levou, a entregar-se à polícia ao final, o que, lógico, durará pouco. O que realmente interessa é que, nesse aspecto do episódio, tudo funcionou muito bem, com equilíbrio entre a violência exagerada e bizarra que é marca registrada da série, e os dramas pessoais e um retorno, ainda que breve, às raízes da série como um todo.

Por outro lado, o drama de Hughie não funcionou tão bem para mim. Não estou de forma alguma reclamando do quão previsível foi tudo o que aconteceu ali no hospital, pois eu gosto quando roteiros não se traem com invencionices imbecilizantes tiradas da cartola. Era óbvio que Hugh pai ganharia poderes; era óbvio que ele ficaria descontrolado; e era consideravelmente óbvio que o final seria trágico para Hughie. Nada a reparar nessas obviedades. Meu problema foi a execução, pois, novamente, o que tivemos foi aquela violência explícita pela violência explícita e, pior, tudo em uma velocidade tão grande que os acontecimentos, inclusive e especialmente a morte de Hugh Sr. pelas mãos de seu próprio filho, perderam o peso e a força, tornando os segundos finais certamente tristes, mas sem o poder arrasador que deveriam ter. O que clamava pelo espectador segurando o braço do sofá e gritando algo como “não, Hughie, não!” não passou de um “ah, ok, morreu, não tinha outro jeito mesmo, vamos em frente”. Posso estar sendo frio demais, mas tenho para mim que a direção de Shana Stein se perdeu na tentativa de contar essa tragédia, transformando-a em uma novela mexicana. Teria sido muito mais interessante, já que Kripke precisou de quatro episódios inteiros para chegar a esse ponto, que ele deixasse esse evento rolar para além de um terço de um episódio ou pelo menos não inseri-lo no mesmo episódio que reencena A Revolução dos Bichos, só que substituindo comentários sociopolíticos por litros de sangue.

O pano de fundo do episódio, ou seja, a V52 Expo, foi divertido também, admito. As alfinetadas que muita gente hilariamente só enxergará como tendo sido miradas na Marvel (assim como acham que os corretíssimos comentários de Martin Scorsese é só sobre a Marvel ou até mesmo só sobre filmes de super-heróis) foram boas e o uso dos atores de Gen V – está aí o “grande crossover” pelo visto – funcionaram a contento, assim como funcionou a caça ao traidor que Trem-Bala, para salvar sua pele, chantageia Ashley para que ela, por seu turno, dê um jeito em tudo. Mas esses aspectos foram só bonitinhos e bobinhos para conversar mais facilmente com o espectador que não espera muito, já que o filé mignon desse pano de fundo foi, sem dúvida alguma, o Capitão Pátria.

Depois do literal expurgo de seu passado no episódio anterior, Pátria em tese está livre da barreira psicológica que o impede de sair matando todo mundo. Mas, como ele não pode sair matando todo mundo antes que a série esteja prestes a acabar, Kripke precisa se virar para “atrasar” esse surto genocida de todo o jeito possível. E, aqui, o roteiro usa Ryan como esse freio em sequências que, mesmo tendo sido muito claramente criadas para impedir o final da série agora, são o suprassumo da vilania e, vejam só, sem precisar de banho de sangue ou de pornô de tortura. O incômodo de Ryan com o que a assistente do diretor Adam Bourke sente com a proximidade de seu chefe é capturado de maneira muito sutil em um primeiro momento e, quando o jovem super-herói tem a oportunidade de fazer o bem justamente ajudando a moça, seu pai o manipula para mostrar que a resposta para tudo é a violência. Assim como a canção dos créditos, essas cenas de corrupção de um menor de idade foram geniais e eu realmente espero que elas tenham consequências e que Ryan não simplesmente gravite novamente para o lado de Billy quando ele ouvir alguma nova conversinha dele. Mas sim, há a “declaração de guerra” de Pátria ao final – de certa forma só ratificando meu pensamento na linha de que esse episódio deveria encerrar a temporada -, o que aponta para a direção de que o “grande herói”, em breve, perderá as estribeiras, mas nós sabemos que esse “em breve” não será agora e Kripke terá que inventar mais outros desvios para impedir isso.

Usando Lewis Carroll no título, o quinto episódio de The Boys tardiamente mostra que a temporada ainda tem salvação, mesmo que dificilmente por completo. Fica a torcida para que o showrunner siga nessa toada e não se perca criando estratagemas para fazer com que a história continue andando de lado de maneira a realmente soltar os freios na última. O velho truque de usar Old MacDonald Had a Farm no final não vai funcionar duas vezes, assim como o emprego de ovelhas carnívoras voadoras não vai se repetir. The Boys perdeu a chance de parar por aqui mesmo e, agora, Kripke precisará arrancar sua espada vorpal para ir atrás do inimigo do Homundo sob pena de ele não conseguir correr do frumioso Babassurra e ficar como lesmolisas touvas roldando e relviando nos gramilvos.

The Boys – 4X05: Cuidado com o Jaguadarte, Meu Filho (The Boys – 4X05: Beware the Jabberwock, My Son – EUA, 26 de junho de 2024)
Showrunner: Eric Kripke
Direção: Shana Stein
Roteiro: Judalina Neira
Elenco: Karl Urban, Jack Quaid, Laz Alonso, Tomer Capon, Karen Fukuhara, Antony Starr, Erin Moriarty, Chace Crawford, Nathan Mitchell, Colby Minifie, Claudia Doumit, Cameron Crovetti, Susan Heyward, Valorie Curry, Rosemarie DeWitt, Elliot Knight, Jeffrey Dean Morgan, Simon Pegg, Derek Wilson, Maddie Phillips, Asa Germann, Omid Abtahi, P. J. Byrne, Giancarlo Esposito
Duração: 68 min.

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