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Crítica | The Big Ugly (2020)

por Kevin Rick
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Uma das melhores formas de experienciar um filme é assisti-lo sem qualquer conhecimento anterior, seja do enredo, da equipe criativa ou até mesmo do gênero. Claro que podemos nos surpreender e ficar boquiabertos com películas de diretores conhecidos e produtoras famosas. Um exemplo recente seria a obra Estou Pensando em Acabar com Tudo, dirigida por Charlie Kauffman, que mesmo familiarizado com o trabalho não-convencional do cineasta, não tinha nenhuma ideia do produto final. Entretanto, a falta de expectativa e a experiência do desconhecido, aliado a surpresa de agrado (caso aprecie o filme), traz uma satisfação imensa ao espectador. Nos dias atuais, se tornou extremamente difícil para os amantes de cinema terem esse tipo de experiência. As sinopses longas, trailers que mastigam a narrativa para o público, notícias e furos da história em sites e redes sociais, acabam comprometendo certos aspectos dessa arte.

Um estilo de cinema que encontra-se fora deste arquétipo são os B-movies, inicialmente destinados a serem a “outra metade” de uma sessão dupla de filmes do mesmo gênero, como faroeste, ficção científica e horror. Atualmente se refere a filmes de baixo orçamento, que diferente do cinema independente contém uma equipe criativa limitada, havendo pouca publicidade. O filme The Big Ugly, dirigido por Scott Wiper, encaixa-se nesse modelo cinematográfico. A fita é um exercício noir, aparentemente alimentado pelo excesso de indulgência do cineasta em filmes B, no qual Vinnie Jones interpreta o herói ostensivo, Neelyn, um executor do gângster britânico Harris (McDowell), que acompanha seu chefe para West Virginia em uma viagem de negócios. O objetivo é fechar um acordo de lavagem de dinheiro com um homem do petróleo arrogante, Preston (Perlman). Mas a namorada de Neelyn, Fiona (Lenora Crichlow), desaparece, e ele acredita que o culpado é o filho de Preston, Junior (Brandon Sklenar).

Apesar de ter feito um discurso sobre assistir filmes sem nenhum pré-conceito estabelecido, confesso que iniciei a fita com baixas expectativas, algo que raramente faço – e também odeio fazer – mas que às vezes é inevitável. Afinal, qual foi a última vez que Vinnie Jones foi protagonista de um bom filme? Iniciar uma obra dessa forma é prejudicial, pois a atenção acaba se voltando demais para os defeitos. Todavia, a primeira metade do filme é interessante, centrando a trama em volta de duas facções criminosas divergentes, com um elenco veterano que traz uma convicção admirável para seus papéis de “durões”. E então, após o sumiço de Fiona, a história se torna um thriller de vingança. Tema recorrente no cinema, o conceito vingança já foi usada em praticamente todos os gêneros e desconstruído em diferentes formas, mas que nesse caso, o diretor/roteirista Scott Wiper usa todos os artifícios clichês que se pode imaginar, seguindo o modelo preciso: guiado pela ira e pelo rancor, o protagonista angustiado, que perdeu alguém próximo ou foi gravemente injustiçado, aventura-se por terreno hostil em busca de retribuição.

O que se segue é uma série de escaramuças cada vez mais violentas, acompanhadas por sucessos pop vintage como Long Cool Woman in a Black Dress e Kiss You All Over e pontuada por longas discussões filosóficas nas quais os britânicos e os apalaches falam pseudo poeticamente sobre as vidas brutais que escolheram para si. O ritmo lento da fita é arrastado ainda mais pela inclusão de subtramas desnecessárias, do romance de Will e Kara, personagens que o roteiro não necessita; a uma história de fundo envolvendo a amada esposa de Preston e como ela foi morta, a um personagem aparentemente periférico que está fadado a ressurgir em um momento-chave da história. Existem também questionáveis escolhas de produção, como cenas de bares internos serem filmadas contra grandes janelas dianteiras brilhantes que explodem a cena. A edição também é extremamente sobrecarregada, saltando pela sala sem motivação, a não ser para dar a impressão de que falar sobre eventos é um processo rápido.

O elenco, mesmo que limitado, acaba sendo o ponto alto da película. Embora Jones realmente não tenha o alcance emocional para puxar a turbulência interna de seu personagem, sua poderosa presença física compensa isso. Brandon Sklenar dá uma atuação ótima como Junior, ele é fantástico como um monstro disfarçado em uma persona James Dean. O melhor de tudo, The Big Ugly nos dá Ron Perlman e Malcolm McDowell, jogando dois lados muito diferentes da mesma moeda, que se respeitam, mas entendem as regras do jogo que escolheram jogar e se encontram sentados frente a frente, cada um com um copo de algo forte, cada um com uma arma.

Embora tecnicamente um eastern em vez de um faroeste – se desenrola nas colinas exuberantes de West Virginia – este thriller policial contemporâneo e machista parece um filme old-school. É certo que as peças se encaixam um pouco convenientemente demais, o diálogo seja ocasionalmente afetado e os motivos dos personagens não tenham tanta gravidade quanto deveriam, mas Scott Wiper dirigiu um thriller atraente com a ajuda de um elenco habilidoso. The Big Ugly é uma obra que, se visto sem qualquer expectativa, consegue ser um bom filme de tarde de domingo. Um B-movie que não tenta ser mais que isso. 

The Big Ugly (EUA, 24 de julho de 2020)
Direção: Scott Wiper
Roteiro: Scott Wiper, Paul Tarantino
Elenco: Vinnie Jones, Malcolm McDowell, Ron Perlman, Nicholas Braun, Leven Rambin, Brandon Sklenar, Lenora Crichlow, Bruce McGill, Dan Buran, Elyse Levesque, Stephen Marcus, David Myers Gregory, Joelle Carter
Duração: 106 min.

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