Home TVTemporadas Crítica | The Bear – 3ª Temporada

Crítica | The Bear – 3ª Temporada

Quando a obsessão fica no caminho da perfeição.

por Roberto Honorato
8,K views

Em seu terceiro ano, The Bear já está confortável com o fato de que sua maior força está nas personagens e a direção de arte, ambos construídos com o mesmo nível de refinamento que os pratos do restaurante de Carmy (Jeremy Allen White) – sem toda a obsessão, paranoia e aflição daquele ambiente de trabalho, espero. Dessa vez, o The Bear está oficialmente aberto para serviço, mas a equipe não parece estar funcionando tão perfeitamente quanto imaginavam, o que tem criado bem mais tensão entre eles do que antes de tornarem-se um restaurante de “alta gastronomia”. Enquanto tentam colocar tudo nos eixos, cresce a dúvida em Syd (Ayo Edebiri) sobre seu futuro como sócia de Carmy, esse equilibrando sua insegurança para falar com sua ex-namorada e sua eterna fixação por um padrão de qualidade que claramente não estão preparados para alcançar.

Com a popularidade da série, era inevitável que ela fosse parodiada em séries como Abbott Elementary e em todo canto das redes sociais, muito disso por conta de um formato “fácil” de emular, mas difícil de construir da mesma forma, por isso essas homenagens acabam soando tão rasas. É algo que acontece muito com o Wes Anderson e pessoas usando uma estética similar à dos seus filmes para construir suas próprias referências e paródias, mas parecem não compreender nada além da superfície, como acontece em algumas piadas com The Bear, onde apenas imitam Carmy berrando e fazem cortes rápidos no meio da ação, o que é apenas uma fração do que se encontra na série.

Há um argumento sobre como a série se aproveita de alguns vícios para construir uma angústia no espectador, com os vários lampejos de memória em uma edição frenética que alterna entre o presente e traumas do passado das personagens que são interrompidos por um elemento externo, seja um prato caindo no chão ou mesmo um ambiente silencioso. Contudo, The Bear entende que seria confortável demais permanecer com o formato, por isso o terceiro ano brinca com a expectativa do público desde o primeiro episódio, mais introspectivo e com mínimos diálogos, intitulado ironicamente como Tomorrow, mas focando exclusivamente no passado de Carmy, o que é necessário considerando que a personagem toma uma posição mais antagônica nessa temporada, sendo tanto a vítima de seus traumas passados quanto o responsável por destruir o dia de todos no restaurante e fora dele, como é o caso de sua relação com Claire (Molly Gordon). 

Algumas técnicas são melhor implementadas para fortalecer a conexão entre espectador e série, como o uso de uma música específica em episódios diferentes para contextualizar uma cena dentro de um tempo e espaço do qual já estamos familiarizados, o que é reutilizado nessa terceira temporada com sucesso em episódios como Napkins, dirigido pela Ayo Edebiri, e Ice Chips, que também são os mais poderosos em construir o repertório das personagens, com Napkins revelando o passado de Tina (Liza Colón-Zayas) e como ela foi parar no The Bear, com uma jornada mais realista do que esperava sobre as inconsistências do mercado de trabalho numa sociedade capitalista, com uma cena emocionante entre Zayas e Jon Bernthal; já Ice Chips é focado em Sugar (Abby Elliot) e o seu bebê, que está pra nascer, mas a parte mais dolorosa do processo parece ser uma inevitável conversa franca com sua mãe sobre seus demônios internos.

Essa temporada é mais contida em questão de participações especiais, ainda mais depois do festival de atores e atrizes convidados na temporada anterior, dessa vez com uma rápida aparição surpresa, mas investindo em trazer de volta algumas personagens da temporada anterior, assim a série precisa de pessoas como Jamie Lee Curtis, Olivia Colman e Will Poulter na narrativa, sem contar o retorno da dupla Gillian Jacobs e Joel McHale, ganhando mais espaço e diálogos, o que agrada meu coração de fã de Community.

Porém, ao mesmo tempo que alguns recebem atenção necessária, outros não têm o mesmo peso que a série acredita ter, como acontece com a personagem de Claire, constantemente mencionada ao longo dos episódios como uma forma de aumentar o turbilhão de confusão na cabeça de Carmy, mas o enredo poderia ter trabalhado melhor a ausência dela na vida do protagonista do mesmo jeito que fazem com a figura de Michael (Jon Bernthal), que mesmo tendo aparecido mais através de flashbacks e menções em diálogos em temporadas anteriores é fácil sentir a ausência dele no ambiente. Não é um problema da atriz, apenas algo que a história poderia ter trabalhado com a mesma sutileza na qual faz sua escolha musical ou visual, ambas essenciais para transformar Chicago em mais uma personagem importante.

The Bear procura uma rota mais intimista, algo que vem introduzindo na narrativa desde sua temporada anterior, mas talvez a abordagem dos episódios que não seguem um tema mais claro que permeia a vida de todas as personagens, como aconteceu no ano anterior, pode ser arriscado demais ao ponto de deixar episódios que não focam no drama principal do restaurante um pouco menos divertidos de assistir.

The Bear – 3ª Temporada (EUA, 27 de junho de 2024)
Criação: Christopher Storer
Direção: Christopher Storer, Joanna Calo, Ramy Youssef, Ayo Edebiri, Duccio Fabbri
Roteiro: Christopher Storer, Karen Joseph Adcock, Sofya Levitsky-Weitz, Alex O’Keefe, Joanna Calo, Rene Gube, Catherine Schetina, Stacy Osei-Kuffour
Elenco: Jeremy Allen White, Ebon Moss-Bachrach, Ayo Edebiri, Lionel Boyce, Liza Colón-Zayas, Edwin Lee Gibson, Corey Hendrix, Richard Esteras, Abby Elliott, Matty Matheson, Chris Witaske, Joel McHale, Carmen Christopher, Oliver Platt, Jon Bernthal, Molly Ringwald
Duração: 30 min. aprox. (10 episódios).

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais