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Crítica | “The Age of Pleasure” – Janelle Monáe

A bonança após a tempestade, ou o naturalismo após o sci-fi.

por Handerson Ornelas
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Logo no título e capa do quarto álbum de estúdio de Janelle Monáe – The Age of Pleasure – fica claro que estamos em um cenário bem diferente de seus discos anteriores. Nada de distopia futurista, agora adentramos a “era do prazer” com direito a paisagens tropicais, clima solar e sensualidade. Mudanças abruptas de sonoridade já são um clichê clássico para desagradar comunidades de fãs. Aqui, pode ser novamente o caso de alguns mais fervorosos, mas a cantora, que sempre foi aclamada por suas obras complexas, demonstra continuar seu criterioso rigor criativo e sonoro, embora aqui mire em um som notoriamente menos denso e mais popular.

Dessa vez, saem o R&B e soul progressivos que tanto marcaram a carreira da cantora e entram em cena um pop tropical, predominado por reggae, ska e dub em tom de máxima celebração. Os adornos instrumentais garantem esse clima constante de festa, algo que ganha ênfase no trabalho de vozes da obra – algo completamente irretocável e que gera uma sensação paradisíaca pelo capricho na produção dos vocais. E o fato de praticamente todas as faixas se conectarem perfeitamente, a ponto de certas vezes quase não haver distinção quando uma termina e outra inicia, ressalta o objetivo de Janelle em valorizar a construção do álbum como experiência completa, não como mera coleção de faixas.

As flautas e percussões refinadas de Phenomenal, os metais de Champagne Shit e Know Better trazendo a efervescência do ska, os tambores dançantes de Black Sugar Beach e até participações rápidas como o interlude de Grace Jones servem para construir com maestria a ambientação tropical do álbum. Vale dar o devido destaque a Lipstick Lover, que com sua base ancorada no reggae constrói o que talvez seja o single mais viciante desse ano, com uma produção que capricha no refinamento dos vocais para o máximo aproveitamento possível de seu refrão. Ainda vale ressaltar o quanto o groove do baixo de Water Slide é entorpecedor, que junto do arranjo de vocais possui o poder de dissolver o ouvinte na canção. Já em faixas como Float e Only Have Eyes 42 vemos uma execução e modernização tão afiada do dub ao misturar com o trap, que soa como um tributo ao grande Lee Perry e sua banda The Upsettlers, uma das maiores referências do gênero.

The Age of Pleasure deseja ser a antítese de suas obras anteriores, um álbum celebrativo e leve após anos de álbuns conceituais de soul progressivo e absurdamente complexos. Após todo o arco sci-fi de The ArchAndroid e Electric Lady, o novo disco é um mergulho em pura efusividade e despretensão – fatores que relembro que nunca tiveram relação com a presença ou ausência de qualidade. Até mesmo a duração ressalta essa leveza, finalizando em poucos 32 minutos. E mais pertinente ainda é encerrar com a deliciosa ambientação acústica de Dry Red, que se assemelha a um belo luau na beira da praia. Um encerramento lindo que contrasta a sonoridade upbeat do resto do álbum e fecha seu argumento final com perfeição.

Aumenta!: Lipstick Lover
Diminui!: The Rush (feat. Nia Long & Amaarae)

The Age of Pleasure
Artista: Janelle Monáe
País: Estados Unidos
Lançamento: 9 de junho de 2023
Gravadora: Wondaland, Atlantic
Estilo: Pop, Dub, Reggae

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