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Crítica | The Acolyte – 1X04: Dia

Uma confusão entre a aventura e o terror.

por Davi Lima
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Dia

  • spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série.

Na tentativa de equilibrar o ritmo de uma histórias, às pressas podem aparecer de formas mais evidentes. Quando nos dois primeiros episódios a showrunner estabeleceu o estilo “consumível Netflix” para nós assistirmos a série, a cadência narrativa, planos abertos, mais longos, vistos por nós em tela, se tornam um respiro diferente. Dia, o quarto episódio da nova série de Star Wars, expira uma aventura Jedi em Khofar e inspira um terror Jedi no final. A partir disso, The Acolyte te puxa para mais mistério e te confunde com a falta de sutileza.

No padrão Netflix, trajado de Star Wars, o intuito é criar barulho. Esse barulho não se refere a cultura woke, quebra da profecia do Anakin, ou qualquer coisa relacionada ao cânon que estão reclamando. O barulho é na história, em que você não pode terminar um episódio sem um grande impacto, independente se ele tem boa dramatização ou construção. Dessa maneira, as maratonas do streaming vermelho funcionam numa avalanche, já a Disney Plus usa o estilo antigo semanal para ficar freiando a massa de informações que levam para o próximo episódio.

Pode não parecer que haja diferença, pois episódios semanais também usam ganchos fortes para temporadas e episódios intercalados. No entanto, valendo-se de 8 episódios, do gênero de mistério, e uma showrunner com visão Netflix, o episódio semanal de The Acolyte se torna uma maratona artificialmente separada em semanas, sem espaço para algo episódico. Ou há a introdução, ou há o processo do ponto A ao B. E nisso cria-se falta de sutilezas, incômodo com o ritmo, mas sempre, sempre, há uma entrega dramática sobre o futuro de Mae, Osha e os Jedi.

Dessa forma, os episódios 1 e 2 são anticlimáticos propositalmente, por mesclarem um mistério de processo com uma introdução em frenesi. Uma escolha de linguagem, não necessariamente é qualidade ruim, embora possa criar limitações em prol do consumo narrativo – como citei no meu primeiro texto. Por outro lado, o episódio 3 freia o ritmo para fazer explicações, uma introdução mitológica durante o trem narrativo já engatado, facilitando o público mais ansioso passar por ela e ver de qualquer forma.

Enfim, chegamos ao episódio 4: Dia. Dividido em duas tramas, ao mesmo tempo que Mae e Quimir tem conversas propositalmente confusas, os Jedi repetem a necessidade de resolverem sozinhos os assassinatos dos Jedi. Ambas confluem no mistério e drama das duas irmãs Osha e Mae. Enquanto há luz do dia no planeta Khofar, nós tentamos descobrir os sentimentos de uma irmã pela outra após o reencontro em Olega. Nisso, as duas tramas seguem uma aventura em busca do mestre Jedi Wookie Kelnacca.

Esse parágrafo acima é uma sinopse bonita do episódio, porque o episódio em si, em ser um processo literal de pessoas andando de um local para o outro, acaba por criar confusões nas decisões de suas protagonistas.

Na tentativa de manter o mistério sobre o Sith entre Quimir e Mae, a conversa se torna confusa e os acontecimentos entre eles mudam repentinamente. Repentino por não haver sutileza, em que a “gêmea má” se revolta contra seu mestre por medo, quando demonstra coragem ao mesmo tempo. Talvez haja um paradoxo inteligente demais dos roteiristas que não temos capacidade de entender.

Na outra trama, Osha é convidada para a missão dos Jedi para ser moeda de troca com Mae – ideia do Mestre Sol para conseguir ir na missão -, em que ela reflete sobre a sua incapacidade de enfrentar sua irmã. Porém, Mestre Sol, já próximo das duas tramas se encontrarem, diz que Mae não vai enfrentar sua irmã, e que iria explicar depois, enquanto ela afirma que está pronta para a irmã – provavelmente depois de sentir a morte do bicho umbramoth.

Assim, Dia, com tais descrições acima, apresenta muitas composições para um episódio que almeja equilibrar um clima de aventura com a frequência “netflixada”. Nessa tentativa natural, duas mudanças abruptas das protagonistas surgem, ambas de coragem – de fugir do mestre e outra de “obedecê-lo”. O que anima, o que transforma o episódio, em aparência, de confuso para objetivo, é a aparição do Sith.

É inevitável não sentir um frio na espinha quando a luz desaparece e o sabre de luz vermelho invade a cena. Uma verdadeira cena de terror. Juntando com o clima aventuresco, as tragédias narrativas causadas pela pressa, ao menos, se alinham o impacto intenso de um corte estranho no meio da luta dos Jedi com o Sith.

Por fim, The Acolyte já se mostrava 8 ou 80 por se manter num ciclo de retroalimentação do mistério a qualquer custo, num ritmo consumível e de repetições para prender o público. Agora, nesse jeito de fazer episódio, torna o episódio 5 extremamente determinante para o “valer a pena” toda a construção da decadência dos Jedi nessa narrativa. Mesmo com as referências a Star Wars, como a aparição do mestre Ki-Adi-Mundi, o clima infanto-juvenil com o personagem Bazil e o universo Wookie de Kelnacca na sua cabana, o que mais atrai para Star Wars, mesmo para quem não é fã, é um misterioso vilão Sith de máscara. Logo, esse gancho é o maior risco, é a virada perigosa para a série se confirmar ou se bagunçar.

The Acolyte – 1X04: Dia (The Acolyte – 1X04: Day – EUA, 18 de junho de 2024)
Criação: Leslye Headland
Direção: Alex Garcia Lopez
Roteiro: Claire Kiechel, Kor Adana
Elenco: Amandla Stenberg, Lee Jung-jae, Charlie Barnett, Dafne Keen, Manny Jacinto, Rebecca Henderson, Joonas Suotamo, Paul Bullion, Indra Ové, Derek Arnold, Lewis Young, Celina Nessa
Duração: 35 min.

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