Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Texone – Vol. 8: O Soldado Comanche

Crítica | Texone – Vol. 8: O Soldado Comanche

Tentando provar a inocência de um indígena.

por Luiz Santiago
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Apesar do tema pesado que esta edição da série de histórias especiais de Tex explora — um crime forjado contra um soldado comanche, adotado por um militar de carreira nos Estados Unidos — há uma incrível leveza na maneira como o roteirista Claudio Nizzi traz essas questões à tona, sempre colocando algum ponto de descanso, de humor, ironia ou de genuína leveza na maneira como Tex e Kit Carson levam a investigação adiante. Com os incríveis desenhos de Aldo Capitanio, a trama começa num momento de descanso da dupla, que está caçando. A arte de Capitanio dá toda a atenção possível para a geografia do lugar, fazendo com que o leitor sinta o isolamento, os perigos de um animal selvagem interferindo na caçada e a mudança de ambiente, quando recebem os sinais de fumaça e então retornam para a aldeia, deparando-se com um velho amigo de Tex, o Sargento Charles Brickford.

Aventuras que se passam em diferentes cidades e fazem os personagens atravessar os mais diversos espaços físicos (especialmente entre os Estados Unidos e o México) me encantam muito, principalmente quando a diferença é trabalhada pelo roteiro e pela arte, em conjunto, como acontece aqui. Quando o Sargento Brickford fala do problema pelo qual está passando, Tex e Carson assumem com ele um compromisso e partem para investigar se o jovem soldado indígena era realmente inocente, o que coloca a dupla em trilhas visualmente muito bonitas (minha edição dessa história é a gigante colorida da Mythos, lançada em 2015, um verdadeiro espetáculo), conhecendo os mais diferentes personagens e protagonizando cenas de ação que lembram filmes de faroeste bem refinados, não com arco de movimentos extravagantes, mas bem definidos, como uma coreografia confiante de enfrentamento dos mocinhos diante dos bandidos. E isso faz todo sentido para a missão “sem chamar muita atenção” que os rangers encabeçam aqui.

O andamento do texto é pensado numa dinâmica que já conhecemos bem das histórias de Tex, ou seja, colocando o personagem para locomover-se constantemente. Talvez por isso eu tenha gostado tanto do início, do momento que mostra uma rara sequência de diversão, de “férias” do Água da Noite ao lado de seu amigo. E Claudio Nizzi parece não querer deixar essa atmosfera arrefecer, tanto que leva a cavalgada da dupla sem a urgência quase caótica que poderíamos esperar numa missão como esta. O ritmo da edição, portanto, é admirável, e só tropeça minimamente na estruturação do plano que finalmente resolve o impasse e inocenta o soldado comanche. O texto, nessa reta final, não é improvável, mas não tem exatamente o cuidado e a elegância mais livres do desenvolvimento, talvez pela resolução do caso em duas etapas, talvez porque existem algumas conveniências em relação ao tempo de ação e certas mudanças rápidas em relação aos personagens que fazem o leitor estranhar um pouco.

Culpar indivíduos inocentes que fazem parte de grupos socialmente oprimidos, segregados e demonizados é algo que, historicamente, conhecemos muito bem. Nos Estados Unidos, onde a presente trama se passa, pessoas negras, indígenas e asiáticos (mas não só! Dependendo do lugar e da época, o preconceito, a intolerância, o racismo e a xenofobia foram direcionados a judeus, irlandeses, comunistas, homossexuais, etc.) sentiram na pele o olhar julgador de pessoas que acreditam em falsas denúncias, apenas porque o denunciado é de uma cor ou de um grupo “socialmente propenso a cometer tal crime“. E quantas vezes a justiça oficial, a serviço do racismo e da segregação, não condenou indivíduos inocentes à prisão ou à morte? O Soldado Comanche nos faz refletir sobre as falsas acusações elencando um indígena cujo único problema foi a irresponsabilidade de fugir de um forte militar para casar-se com sua amada proibida. Por sorte, ele tinha dois homens justos, do lado da lei, para ir a fundo e encontrar os verdadeiros culpados pelo que aconteceu durante essa fuga.

Tex: O Soldado Comanche (Il soldato comanche / Tex Albo Speciale – Texone #8) — Itália, junho de 1995
Editora original: Sergio Bonelli Editore
No Brasil: Editora Mythos (1999 e 2015); e Tex Gold n°25 (Salvat, fevereiro de 2019)
Roteiro: Claudio Nizzi
Arte: Aldo Capitanio
Capa:
Aldo Capitanio
Tradução: Júlio Schneider
230 páginas

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