Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Tex Willer – Especial 1: Fantasmas de Natal

Crítica | Tex Willer – Especial 1: Fantasmas de Natal

Tex, uma paisagem coberta de neve e alguns espíritos.

por Luiz Santiago
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Dois ingredientes que gosto muito nas histórias de Tex se fazem presentes neste primeiro Especial do título Tex Willer: As Aventuras de Tex Quando Jovem. O primeiro deles é o cenário nevado, e isso não é só com esse personagem. Eu simplesmente adoro faroestes que são ambientados na neve, e eles podem ser desde algo como No País dos Gelados (1922), uma hilária sátira de Buster Keaton para os filmes de William S. Hart; até produções contemporâneas que abordam de maneiras bem diferentes esse mesmo tema, focando em características de personagens ou em conflitos caros a cada diretor, como vemos em O Regresso (2015), Os Oito Odiados (2015) e Terra Selvagem (2017), só para citar produtos de safras relativamente próximas ao lançamento deste Fantasmas de Natal. Já o segundo dos ingredientes de que gosto muito é o braço místico, fantasioso ou sobrenatural no meio de um western.

Com roteiro de Mauro Boselli, baseado em um enredo desenvolvido juntamente com Giulio Antonio Gualtieri e Marco Nucci, o Especial é ambientado nas Montanhas Uinta, uma alta cadeia localizada no Estado do Utah, para onde Tex ruma, tentando fugir dos homens que o perseguem. Aqui, o leitor vê paralelos muito fortes com dois arcos que antecederam o lançamento do presente volume, em dezembro de 2019: A Dama da Pinkerton e Paradise Valley. São citados e mostrados aqui os agentes da Agência Nacional de Detetives Pinkerton, os mórmons e a partida do jovem Willer para um lugar onde pudesse ter um pouco de paz. Ocorre que o roteiro prepara uma confusão em relação a isso, e sustenta essa confusão até o momento em que as coisas estão bem trágicas e a verdade precisa vir à tona.

Ao todo são três grandes blocos de ação: o primeiro liderado por Tex (com direito a alguns flashbacks), o segundo liderado pelos agentes da Pinkerton e o terceiro liderado pelos bandidos. É nesse terceiro bloco, porém, que teremos uma interessantíssima e macabra interrupção, retirando o protagonismo dos sequestradores da filha do banqueiro e entregando-o a um velho, dono da cabana isolada nas montanhas. Esse homem conta três histórias de caráter sombrio (A História do Fugitivo, A História da Bruxa e A História da Sombra) e é delas que o roteiro tira a essência do que trará o encerramento de tudo. Na introdução do Especial, Boselli comenta sobre o caráter das histórias de Natal em regiões gélidas da Europa, com pessoas em volta de uma fogueira ou lareira, narrando situações de assombração. Este é o clima que predomina do meio para o final de Fantasmas de Natal, com resultados bastante letais.

Marco Ghion muda levemente a finalização de seus desenhos em cada história interna, procurando dar uma identidade diferente para cada narrativa, no que é acompanhado pela aplicação monocromática de cores assinada por Cozzi Gianmauro. Esses filtros fazem a diferenciação visual das tramas internas para a trama principal e também servem como estabelecimento de novas atmosferas, ou, nesse caso, no fortalecimento de uma cada vez mais macabra, com consequências que indicam ações sobrenaturais nesse Universo. Esse tipo de indicação já é trabalhado há décadas em Tex, por diferentes autores e com abordagens que normalmente ligam-se a mitologias, crenças e práticas de populações nativas ou fronteiriças. Neste volume, temos a presença de uma criatura chamada Wechuge (encontrada nos relatos do povo Athabaskan) e algumas histórias narradas pelo povo Ute.

É difícil não encontrar uma certa dispersão do foco narrativo com as histórias que o velho da cabana conta aos bandidos; por isso é que o miolo de Fantasmas de Natal acaba sendo um pouco mais fraco em sua unidade, apesar de manter, isoladamente, a força de cada história. A virada para o clímax também acontece rapidamente, mas o roteiro logra criar um ambiente de grande (e boa) tensão e encaminhar de forma inteligente cada personagem para o encerramento de sua missão. Por ser uma aventura de Natal, apesar do sangue e da violência que a costura, o final expõe uma mensagem de esperança e votos de boa fortuna. Uma trama diferente de Tex, com personagens isolados, lidando com o frio e com possíveis seres sobrenaturais… em plena época de Natal.

Tex Willer Speciale #1: Le Avventure di Tex Quand’era Ancora uno Scatenato Fuorilegge
Fantasmi di Natale (Itália, dezembro de 2019)
Editora original: Sergio Bonelli Editore
Roteiro: Mauro Boselli, Giulio Antonio Gualtieri, Marco Nucci
Arte: Marco Ghion
Cores: Cozzi Gianmauro
Capa: Maurizio Dotti
Letras: Luca Corda
128 páginas

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