- Leia a crítica das outras histórias desta série aqui.
Seguindo imediatamente os eventos de Vivo ou Morto!, esta segunda edição da série Tex Willer: As Aventuras de Tex Quando Jovem acaba tendo um único grande problema, sobre o qual falarei detalhadamente adiante: o foco muito extenso em cenas de fuga ou perseguição e demora mais que o normal para fazer com que a grande trama avance. Como sempre, esse tipo de pensamento traz uma contrariedade em sim — arte é algo maravilhoso por isso, não é mesmo? — e quero expandir essa questão no próximo parágrafo, para não deixar apenas o pensamento pronto, sem detalhar o que ele significa de verdade.
Uma das propostas dessa série, como o roteirista Mauro Boselli diz nos comentários de abertura do volume, é relembrar e emular um pouco o formato em continuação das tiras do Águia da Noite lá no início de sua carreira, à época de O Totem Misterioso, A Mão Vermelha, O Espião Mefisto e tantas outras. Ao retrabalhar esse imaginário com uma roupagem moderna (mas sem deixar de ser Tex, como a gente comprova de maneira aliviada nessas edições iniciais do projeto), o autor não poderia colocar de lado alguns elementos narrativos do passado, com histórias que funcionam bem como “tramas únicas” e igualmente como “parte de uma série“, um trunfo que, para a alegria de qualquer leitor, a Sergio Bonelli Editore mantém até hoje. O problema disso é quando a história da vez, ou melhor, o capítulo da vez, passa muito tempo no meio do caminho e realiza poucos avanços diante da temática da história, dando uma leve impressão de o autor está enrolando.
Um leitor bravo poderia perguntar: mas a história não é boa? Sim, a história é boa! É Tex, não é? O fato de não avançar muito não significa que a gente não aproveite bem essa longa cavalgada e esses meandros e novos encontros do protagonista pelo Arizona a fora. É nesta parte que entra o meu comentário anterior sobre a contrariedade do problema desse roteiro. Ele não avança muito, mas não é, nem de longe, uma má história. Nesta edição, Tex está em uma tríplice encruzilhada de problemas e nós aproveitamentos bem todo esse drama. Ele tem gente para salvar, um mistério para resolver e um novo inimigo em sua cola (além dos homens da lei e dos caçadores de recompensas, claro): a quadrilha de Red Bill. Como estamos falando de uma continuação, partimos do ponto em que o herói é perseguido pelos cabeças de bezerro do Xerife Boyd, tornando as coisas bem mais difíceis para Tex, que cai em uma grande arapuca, num desfiladeiro que lhe permite poucos e arriscados movimentos.
Esta primeira sequência inteira dura 24 páginas para se concluir e é o meu ato favorito dessa edição. Boselli faz de tudo para não deixar Tex apelão e o coloca em perigos reais, tanto nas ações que toma para poder salvar a própria pele, quanto na maneira como relaciona o personagem com as autoridades e até mesmo com os bandidos. Tal qual a realidade, aqui vemos pessoas estúpidas e competentes em seus ofícios, ao contrário de certas linhas de roteiro por aí que torna tudo ao redor do herói uma coleção de incapacidades, apenas para destacar os grandes feitos do protagonista. Não é o caso com Tex. E a ótima arte de Roberto De Angelis também tem um bom papel nessa criação de um Universo palpável, mantendo a boa pesquisa histórica para os desenhos de vestimentos de indígenas e brancos, mais a geografia da região do Arizona, garantindo quadros verdadeiramente fascinantes.
Se tirarmos o estranho e mal feito flashback de Tex em uma conversa com seu cavalo Dinamite (tem gente que reclama disso, mas eu acho fantástica a conexão dele com o animal… e não é algo novo na mitologia do personagem, convenhamos), ao lembrar “da filha de um certo Pawnee” e o já citado travamento no desenvolver da trama, vemos em A Quadrilha de Red Bill um bom conto de heroísmo e fuga à boa moda dos grandes westerns.
Em tempo: a capa de Maurizio Dotti é fantástica!
Tex Willer #2: Le Avventure di Tex Quand’era Ancora uno Scatenato Fuorilegge
La Banda di Red Bill (Itália, dezembro de 2018)
Editora original: Sergio Bonelli Editore
No Brasil: Mythos, fevereiro de 2019
Roteiro: Mauro Boselli
Arte: Roberto De Angelis
Capa: Maurizio Dotti
68 páginas