Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Texone – Vol. 10: O Homem de Atlanta

Crítica | Texone – Vol. 10: O Homem de Atlanta

por Kevin Rick
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Continuando minha jornada pela Editora Sergio Bonelli, encabeçada pelo maquiavélico Luiz Santiago, que parece estar decidido em me viciar em Universos eternos, me encontrei finalmente lendo uma história sobre o personagem que pode ser chamado de carro-chefe da editora: o querido Tex Willer. Em mais um clássico western do País da Bota, agora na Nona Arte, as histórias do ranger sempre me atraíram pela longevidade (adoro séries, especialmente de quadrinhos, com grandes durações) e pelo fator faroeste mesmo, principalmente pensando em como italianos “roubaram” o gênero comumente americano e criaram uma classe de histórias sensacionais. E, mesmo após uma única edição, me foi possível entender porque os volumes texianos fazem parte deste panteão italiano.

Em linhas gerais, a narrativa de O Homem de Atlanta busca um certo aconchego em convenções do gênero, partindo da premissa de uma história de vingança, perseguição e rancor, temas caríssimos para o faroeste clássico, mas a qualidade desta edição especial está na forma, como normalmente acontece com a arte, concordam? O quadrinho começa com Tex e seu companheiro Carson indo ao encontro de um amigo desconhecido que lhes enviou uma carta, pedindo para o protagonista ajudar Johnny Butler, um ex-tenente sulista que salvou a vida de Tex durante a Guerra Civil.

Daí em diante, o roteiro de Claudio Nizzi assume uma divertidíssima estrutura aventureira fragmentada, cheia de blocos que terminam com algum tipo de surpresa, enquanto a trama geral avança. Primeiro temos a viagem de Tex e Carson até a cidade descrita na carta, com o desfecho na descoberta que o “amigo” era na verdade a belíssima Lola Dixieland, uma dançarina que é esposa de Butler, e quer a ajuda da dupla para soltar o ex-tenente injustamente preso. Após isso, temos a fuga de Butler, que explica a situação por trás de seu aprisionamento, em relação a sua perseguição a um bandido chamado Shelby, que atualmente está preso sob um alter-ego. E o roteiro mantém essa cadência narrativa, com cada mini aventura tendo um desfecho inesperado, seja ele as motivações de um ex-agente da Pinkerton que busca a soltura de Shelby, a justificativa para os diferentes grupos que querem colocar as mãos no bando nortista, emboscadas, traições, e por aí vai. É diversão na certa!

A partir desta estrutura, dois aspectos me agradaram bastante na leitura: a diversificação dos ambientes e o senso de vastidão. A história, apesar de manter uma linha narrativa objetiva em relação aos diversos grupos que buscam Shelby, vai pulando em diferentes tipos de ação, começando com a já dita fuga prisional, e então assumindo uma perseguição ora de emboscada noturna, às vezes de corrida nos vales e montanhas, ou então um simples tiroteio no riacho. Existe um tremendo controle narrativo em trabalhar cada bloco com um senso de contenção próprio, e o fato de grande parte deles serem costurados com divertidas surpresas, deixam a leitura ainda mais gostosa de acompanhar. E a arte de Jordi Bernet tem êxito na amplitude, cheio de paisagismo e páginas panorâmicas, que realmente passam o sentimento de um faroeste – mas não gosto de seus desenhos faciais. Outro artifício bacana da dupla está na maneira como a maioria dos diálogos acontecem em movimento, com os personagens cavalgando ou em diligências, que mantém a imersão no vasto e a sensação de constante andamento da narrativa.

Mesmo tendo pouco conhecimento das histórias do Tex Willer, me parece que a qualidade da série reside no tom aventureiro, e como todas as convenções e tipos de tramas do gênero western são utilizadas com um agradabilíssimo cuidado para transpor o faroeste clássico nas páginas. Em outra nota, acredito que os personagens, até mesmo Tex, servem mais à jornada do que trazem arcos pessoais, mas Nizzi preenche as relações com diferentes espectros humanos, desde uma comicidade com a dupla Tex-Carson, a vingança com Butler, a ambição com Loli, novamente puxando temas conhecidos do gênero, que culminam no clímax trágico do quadrinho. Um mergulho sensacional em mais um interessantíssimo personagem da Bonelli.

Tex: O Homem de Atlanta (Tex Albo Speciale n. 10: L’uomo di Atlanta) — Itália, 1996
No Brasil:
Tex Gigante #1: O Homem de Atlanta (Mythos, 2016) – Edição Especial
Roteiro: Claudio Nizzi
Arte: Jordi Bernet
Cores: Jordi Bernet
Capa: Jordi Bernet
240 páginas

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