Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Tex Graphic Novel #15: A Lenda de Yellow Bird

Crítica | Tex Graphic Novel #15: A Lenda de Yellow Bird

O amor e o dever.

por Luiz Santiago
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Desde o ponto inicial de A Lenda de Yellow Bird, 15º volume da série Tex Graphic Novel, a leitura desdobra-se uma missão de captura a um desertor que, segundo o comando do Forte Ellis, “deve ser apreendido e punido a qualquer custo“. Com roteiro de Giorgio Giusfredi, que nessa mesma série já havia escrito A Última Missão, a busca do Exército dos Estados Unidos ganha uma importância grandiosa, e temos a impressão de que o tal desertor é alguém de alta patente, ou um homem com informações-chave para os militares, porém, nada disso é verdade. Há uma pitada de decepção diante dessa descoberta, mas ela acaba sendo integrada às boas linhas da narrativa, já que o homem procurado fugiu do Forte por um motivo muito especial, que descobrimos do meio para o fim da aventura. É uma abordagem romântica de Giusfredi, e certamente nem todos vão gostar; mas para mim, esse lado muito familiar não conseguiu derrubar a edição para baixo da linha de “uma boa história“.

A trama se inicia com dois pontos de vista muito importantes, num espaço geográfico enevoado, no Montana, e com atmosferas bem diferentes. Primeiro, um avô e sua (fofíssima) netinha chamada Oona, cavalgam pelo Vale Lamar. A menina gosta de ouvir as histórias do velho, especialmente as histórias sobre sua mãe guerreira, a Pássaro Amarelo. Depois, os casacas-azuis cavalgam pelo Deslizamento do Diabo, na montanha Cinnabar, e encontram uma terrível cena de violência, com um homem morto, sem escalpo e uma trouxinha de ouro deixada para trás. Sabe-se, portanto, que a intenção dos indígenas que fizeram aquilo não era a de levar a riqueza, e isso significava apenas uma coisa: uma armadilha. O contraste entre esses dois blocos narrativos é muito interessante, e faz com que o leitor passe de um sentimento a outro, sempre marcado por uma preocupação central: os Cheyennes farão algum mal a Oona e seu avô… ou aos soldados e o desertor capturado?

O conflito entre o povo Crow (também conhecido como Absaroka ou Apsáalooke) e o povo Cheyenne, recebe nesta aventura um recorte historicamente viável, mas que generaliza os embates que sempre existiram por conta do domínio de terras e de recursos — e que tornaram-se ainda piores com a invasão e destruição causadas pela colonização europeia, empurrando essas nações para Oeste e fazendo com que estivessem cada vez mais perto. A despeito da visão totalizante no texto de Giusfredi, o fator humano e o direcionamento da trama para algo mais particular acaba fazendo com que a problemática não seja tão marcante. A esse respeito, quero deixar claro que um tratamento questionável para grupos indígenas não é uma novidade em Tex, mas devo admitir que já há muitos anos os textos da Bonelli são cuidadosos na abertura possibilidades interpretativas, evitando caracterizações extremas do tipo “um povo exclusivamente vilãovs.um povo exclusivamente vítima“. Este foi um caso raro na atualidade da editora, eu diria. De todo modo, eu sempre defendo que a ficção não tem absolutamente nenhum compromisso com uma representação histórico-documental, o que não impede que apontemos tratamentos estranhos à editoria de um título, quando nos deparamos com eles, não é mesmo?

A arte de Carlos Gomez é certamente a melhor coisa dessa edição. A inserção de um espelho para a “arte Crow“, na narração do drama para Oona, tem um significado muito bonito e um resultado estético incrível na edição. Além disso, gosto muito da diagramação das páginas, das cenas de luta (no passado e no presente) e das belíssimas cores de Matteo Vattani, cujo trabalho nessa série é digno de aplausos. A participação de Tex e Carson também tem uma dupla linha de abordagem aqui, e o texto sabe guiar esses dois lados narrativos até que finalmente se encontrem e se ajudem mutuamente (destaque para a tensa cena de Carson num certo bar isolado). Em A Lenda de Yellow Bird, o lado amoroso e familiar são fortes o bastante para darem à aventura uma aparência de narrativa imatura, com pitadas de melodrama, mas sem tirar o componente de aventura western. Esta faceta às vezes impede que caminhos mais ousados e mais interessantes sejam tomados pelo roteiro, o que não tira os méritos dramáticos e, principalmente, os artísticos de mais essa busca por justiça encabeçada pelo Águia da Noite… embora também não alcem a aventura a voos mais altos de qualidade.

Tex Graphic Novel #15: A Lenda de Yellow Bird (La leggenda di Yellow Bird) — Itália, setembro de 2022
Sergio Bonelli Editore
No Brasil: Não lançado até a publicação desta crítica, em novembro de 2023
Roteiro: Giorgio Giusfredi
Arte: Carlos Gomez
Cores: Matteo Vattani
Capa: Giampiero Casertano
Tradução: Carlo Gomez
51 páginas (edição italiana)

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