Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Tex Graphic Novel #13: Snakeman

Crítica | Tex Graphic Novel #13: Snakeman

Vingança sobrenatural.

por Luiz Santiago
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Eu sei que tem muita gente que não gosta das aventuras de cunho sobrenatural em Tex, talvez porque rejeitam esse tipo de enredo em uma realidade tão dura e crua quanto a do Velho Oeste. Não que seja um pensamento absurdo, mas é importante entender que tanto historicamente quanto artisticamente, estamos falando de um largo território dos Estados Unidos que reunia uma quantidade enorme de colonizadores europeus e seus descendentes, mais centenas de povos nativos ou vindos do México, todos com suas tradições, mitos, crenças, rituais, religiões e superstições. Sendo ou não verdade o conteúdo dessas crendices, o fato é que elas existiam para todas essas culturas distintas, e foram fartamente abordadas nos quadrinhos, na literatura do gênero (vide os contos de horror e fantasia no Velho Oeste escritos por Robert E. Howard, por exemplo) e também no cinema, com filmes como O Estranho Sem Nome (1973), Tex Willer e os Senhores do Abismo (1985) ou Rastro de Maldade (2015), só para citar alguns.

A parte do faroeste onde esse tipo de história se encaixa, recebe o nome de weird western, e na present graphic novel, o escritor Mauro Boselli aborda esse gênero em um drama muito interessante envolvendo Tex, as memórias que ele tem de Lilith e uma luta encarniçada contra um tal “Homem das Cobras”, pertencente à tribo dos Utes. A inimizade histórica entre Utes e Apaches é explorada no roteiro a partir de questões bastante pessoais para Tex e seus irmãos de tribo, já que o infame Snakeman segue uma trilha de morte marcada pelo extermínio de grupos masculinos inteiros e sequestro de mulheres jovens e crianças para serem vendidas como escravas. É uma atitude horrenda que o vilão pretende expandir por toda a região, após vingar-se de seus inimigos declarados, fazendo valer o sangue do pai, vertido pelos Apaches de uma geração antes, num momento em que ainda eram um povo de guerras constantes.

O grande destaque dessa edição, para além do interessante drama em andamento, é a arte de Enrique Breccia, com cores intensas, desenhos extremamente chamativos e com uma textura que faz toda a diferença para uma história sobrenatural como esta. Embora não exista aqui uma diagramação de páginas inventiva ou algo do tipo, a arte é encantadora e aborda as diferentes dimensões que a trama alcança, principalmente nos quadros que destacam o Homem da Morte (referência ao arco de mesmo nome — também conhecido como Ouro ou Rivais na Guerra do Ouro –, publicado em 1964) e o Snakeman. Também merecem destaque os quadros que exibem ataques de um inimigo contra outro — o artista traz excelentes pontos de vista e uso de armas — e as cenas finais, da tortura de Jack Tigre, até a entrada da “criatura não viva” que deve matar o Homem das Cobras. Os diferentes pontos de ação dentro da caverna e o ataque de Snakeman à tribo dos Apaches valem uma atenção especial aos detalhes por parte do leitor, entrando aí, mais uma vez, uma grande apreciação para o uso das cores.

Snakeman é uma história de vingança sobrenatural, mas há também ingredientes solenes aqui, com Lilith assumindo o papel de guia espiritual e emocional para Tex, guiando-o em uma hora difícil e, em último caso, impedindo sua morte. É um drama intenso, em seu desenvolvimento, que toca em problemas reais para algumas tribos nativas do Oeste dos Estados Unidos em contato com grupos do México (especialmente quando falamos do tráfico de mulheres) e que destaca a importância das parcerias, das amizades e da confiança criada ao longo dos anos. Certos momentos do enredo possuem um tempero meio brega, mas é possível entendê-los à luz da proposta geral da obra. Mais um ótimo capítulo da série Tex Graphic Novel.

Tex Graphic Novel #13: Snakeman — Itália, setembro de 2021
Sergio Bonelli Editore
No Brasil: Tex Graphic Novel n°11 (Editora Mythos, dezembro de 2021)
Roteiro: Mauro Boselli
Arte: Enrique Breccia
Cores: Enrique Breccia
Capa: Enrique Breccia
Tradução: Júlio Schneider, DVL
50 páginas

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