Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | A Chicotada (Tex Graphic Novel #11)

Crítica | A Chicotada (Tex Graphic Novel #11)

Uma história de vingança.

por Luiz Santiago
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De todas as aventuras da série Tex Graphic Novel até o momento, A Chicotada foi a mais básica que tivemos. É uma história de vingança narrada a partir de uma perspectiva diferente, misturando a maldade e a ganância humanas com elementos sobrenaturais, além de trazer uma reviravolta instigante no final, refletindo sobre o quanto uma educação com baixos princípios ético-morais aos filhos, pode acabar voltando-se negativamente contra os pais. Lançada em setembro de 2020, a aventura escrita por Pasquale Ruju se passa no México, pouco ao sul do Rio Grande, e toda a atmosfera cultural e geográfica do local se unem aqui num belo espetáculo visual através da arte de Mario Milano e das cores de Matteo Vattani.

A narrativa em diferentes pontos de vista, no início, foi uma boa escolha de Ruju, dando-nos a oportunidade de conhecer ou encontrar certos grupos de personagens em seus elementos. A abertura se dá com o temido Diego Portela encontrando antigos conhecidos, mostrando no rosto as cicatrizes de uma agressão que sofreu no passado (chicoteado a mando do fazendeiro para quem trabalhava) e também a sua decisão de fazer da vida uma vingança completa contra todos os envolvidos em sua vergonha e dor. Apesar de o tema geral ser simples, Ruju incrementa a vingança com uma boa quantidade de circunstâncias — num ambiente social e com ações violentas que nós, por modelo similar de herança colonial, conseguimos entender muito bem.

O que me incomoda aqui é a correria do escritor ao elencar os eventos finais. Enquanto a apresentação e o desenvolvimento recebem a quantidade de páginas necessárias para se estruturarem, o final de A Chicotada passa veloz demais para que o leitor consiga aproveitar tudo o que ela traz de importante. Talvez isso tenha a ver com as cenas de flashback, que pelo deslocamento do tempo, pela mudança na paleta de cores e até do ritmo da trama, dão a sensação de que falta coisa para ser contada; de que algo foi interrompido bruscamente e não foi retomado pelo autor. O fato é que Ruju optou por aglutinar algumas situações em sequências rápidas, algumas delas ligadas ao passado e às motivações de Blanca Alvarado, impedindo que detalhes importantes para o fortalecimento do clímax e da reviravolta ganhassem espaço narrativo onde mais precisava.

Foi uma boa surpresa ver uma reviravolta nessa história. Por ter um final corrido e, por isso mesmo, simplificador de todo o contexto de suporte ao encerramento, era necessário algo inesperado para que a trama não perdesse o brilho, e a revelação sobre Blanca cumpre bem esse papel. O legal é que a jovem vai sendo desmascarada aos poucos: primeiro matando Diego (não achei que ela teria coragem); depois colocando sonífero na bebida e comida de Tex e Carson (com o intuito de mandá-los matar a seguir); e por fim, revelando ser a provocadora da morte do pai (por ter envenenado a água que ele montava). É um irônico fechamento do ciclo de maldades da família Alvarado, um ciclo finalizado por uma força sobrenatural (a presença da bruja, que é interessante como ideia, mas convenhamos, bem deslocada aqui) e um pagamento quase cármico para “o corvo que, nutrido pela maldade e corrupção do pai, arrancou-lhe os olhos, mas também teve os seus arrancados pelo destino”.

Tex: La frustata (Tex Romanzi a Fumetti #11) — Itália, setembro de 2020
Sergio Bonelli Editore
No Brasil: Tex Graphic Novel n°9 (Editora Mythos, dezembro de 2020)
Roteiro: Pasquale Ruju
Arte: Mario Milano
Cores: Matteo Vattani
Capa: Mario Milano
50 páginas

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