Como o título deixa claro, o presente compilado de críticas aborda as aventuras de Tex publicadas nos anos de 1948 e 1949. Existem, porém, duas especificidades que devem ser observadas. A primeira, é que a aventura de origem de Tex foi O Totem Misterioso, cuja crítica eu fiz em outra ocasião e que vocês podem acessar através do link ali atrás. E a segunda é que a última saga desta década de 1940, na futura Sergio Bonelli Editore, começou a ser publicada em 1949 e só acabou na primeira semana de 1950.
Todas as outras informações necessárias sobre datas de publicação, local original dessas edições e correspondências no Brasil vocês irão encontrar nas fichas técnicas ao fim de cada argumento. Uma boa leitura a todos!
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A Mão Vermelha
A marcação original desta aventura está como julho de 1898, mas revisões posteriores (histórica e cronologicamente) das aventuras de Tex colocaram-na bem antes disso, mais precisamente, na década de 1860, embora a questão da cronologia no cânone do Águia da Noite não seja exatamente algo livre de divergências. Esta história é dividida em cinco capítulos (A Mão Vermelha, A Flecha da Morte, Trilha de Sangue, A Mão Fantasma e El Diablo — ao final do qual começa um outro arco, de nome homônimo) e está fortemente ancorada numa tentativa de mudar a visão dos agentes da lei sobre o então procurado Tex Willer.
Como era de se esperar, Gianluigi Bonelli não torna as coisas fácies para o personagem, expondo-o a uma segunda acusação logo no início da aventura. Em cavalgada, o ranger encontra o moribundo Joe Scott, batedor que carregava o pagamento para o Forte Two Milles. A fim de limpar o nome da falsa acusação de ter matado o militar, Tex segue a pista de uma quadrilha que então fazia fama aterrorizando cidades, matando pessoas e cometendo um grande número de roubos por onde passava: A Mão Vermelha.
Aqui vemos Tex deixar de vestir a sua camisa amarela franjada (Trilha de Sangue) e passar a usar a famosa camisa lisa. Nessa sua perseguição aos bandidos da quadrilha Mão Vermelha, acompanhamos interessantes subdivisões com boa dose de suspense, tanto na relação entre o protagonista e os bandidos quanto nos planos que ele bola para poder se encontrar com os Xerifes, contar a sua versão dos fatos e prender os verdadeiros bandidos. Vale também destacar o bom número de mortes dessa história, o que instiga bastante a nossa leitura e nos faz querer avançar e ver até onde o protagonista irá para poder provar a inocência e desbaratar de uma ver por todas a quadrilha.
Ao fim do último capítulo, uma semana se passou desde que Tex encerrou o seu trabalho em São Tomás. Ele está agora próximo à fronteira do Rio Grande, e vê uma fazenda incendiada e corpos mortos. Um bilhete e um rancheiro moribundo são os ganchos para a trama seguinte do Águia da Noite, que o levará até o México atrás de um tal El Diablo.
La Mano Rossa — Itália, 21 de outubro a 18 de novembro de 1948
Publicação original: Tex, 1ª Série — Collana Del Tex #4 a 8
Classificação em álbum na série italiana: #1
Sergio Bonelli Editore
Roteiro: Gianluigi Bonelli
Arte: Aurelio Galleppini
Editoria: Tea Bonelli
No Brasil: Tex Coleção #1 (RGE, 1986); Tex Coleção #2 (Globo, 1987); Tex Edição em Cores #1 (Mythos, 2009).
53 páginas
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El Diablo
Este arco começa com uma promessa de vingança de Tex e já mostra a grande capacidade de Gianluigi Bonelli em criar armadilhas e situações dentro de uma saga maior, sempre mantendo o interesse do leitor e sempre mantendo Tex em ação, seja cavalgando, seja investigando ou trocando tiros com bandidos. Galep também faz um fantástico trabalho aqui, com alguns quadros em perspectiva que realmente impressionam.
Ao longo dos capítulos Na Trilha da Morte, Terror em El Paso, No Covil de El Diablo, A Filha do Bandoleiro, Bill Mohican – Raptor de Meninas e À Beira do Abismo, os artistas embarcam nessa aventura mexicana, principiando a difícil investigação de Tex com um encontro improvável, resultando numa grande (e infelizmente, curta) amizade. Em El Paso, nosso herói conhece Jeff, um Agente Secreto que está na região colhendo pistas para tentar capturar El Diablo, cujos planos é expulsar todos os colonos americanos ao norte do Rio Grande e substituí-los, aos poucos, por mexicanos. Há uma linha curiosa do roteiro em apontar questões de política territorial que realmente me impressionou aqui, e isso é citado mais de uma vez ao longo da história.
Notem que temos mais de uma linha de ação. O foco inicial de Tex é resgatar a filha do fazendeiro que ele encontrara em seus últimos suspiros, mas nesse processo ele caba lutando contra o largo crime organizado de El Diablo, encerrando a caçada com uma interessante batalha. Ainda ligado a esse drama (aqui, o final engatando em outra história foi algo muito esperto feito pelo autor, porque não quebrou totalmente a base dramática e abriu espaço para o deslocamento de Tex), o Ranger parte para salvar a filha de El Diablo, que foi raptada por Bill Mohican. No meio do caminho é solicitada a sua presença diante de Herbert Marshall, o chefe dos Rangers, que convida Tex a entrar para a Corporação.
Aí aparecem pela primeira vez Kit Carson e Arkansas Joe, os outros dois membros do grupo. A reta final do arco mostra uma boa batalha contra Mohican (embora o encerramento da história seja um tanto anticlimático) e, seis dias depois, Tex recebe uma carta pedindo para que ele investigue o contrabando de armas em Silver City, às margens do Rio Gila. Na mesma carta, o anúncio da morte de seu amigo Jeff. Tex parte para sua primeira missão oficial e, nas páginas finais de À Beira do Abismo, o vemos chegar com tudo na cidade, com um ótimo cliffhanger de um ataque a um jornal local, onde o Ranger conversava com um recente amigo sobre as condições de segurança naquele povoado.
El Diablo — Itália, 25 de novembro a 30 de dezembro de 1948
Publicação original: Tex, 1ª Série — Collana Del Tex #8 a 14)
Classificação em álbum na série italiana: #1
Sergio Bonelli Editore
Roteiro: Gianluigi Bonelli
Arte: Aurelio Galleppini
Editoria: Tea Bonelli
No Brasil: Tex Coleção #1 (RGE, 1986); Tex Coleção #2 (Globo, 1987); Tex Edição em Cores #1 (Mythos, 2009).
64 páginas
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Um Contra Cinco (Um Contra Vinte)
Os cinco capítulos que formam essa história clássica de Tex (Um Contra Cinco, O Capitão do River’s Queen, Fogo na Noite, Caça ao Homem e Um Contra Vinte) estão marcados por um estilo de “história de vingança 2.0” escrita por Gianluigi Bonelli, só que com um escopo bem maior do que acontecera em El Diablo. O que chama a atenção nisso é que se a gente considerar a maneira como o autor guia a luta do Ranger contra seus inimigos e como guia a investigação, entendemos que este Um Contra Cinco (ou também, como é conhecido, Um Contra Vinte) tem bem mais conveniências e coincidências do que as outras histórias, algo que atrapalha parcialmente o seu total aproveitamento.
Aqui vemos o personagem se aliar ao jornalista Sam Baker e à sua filha Joan. A chegada dos capangas de Tim Hardy ao jornal já havia sido mostrada como cliffhanger da outra história e, aqui, temos a continuação da mesma cena, com Tex encomendando uma boa quantidade de almas para o Inferno, como ocorre em praticamente todo o restante da saga. Isso para mim é bem legal de se ver, porque captura bem o espírito do western sujo que essas histórias retrata e difere consideravelmente de quase tudo o que eu conheço de Tex no futuro — e aqui vai um mea-culpa adiantado: não sou um leitor de muito tempo do personagem. Esta é apenas a 12ª aventura que leio dele. Do que li, portanto, o nível de violência é bem menor do que a que vejo nessas primeiras histórias, mas entendo que isso pode ser apenas a percepção de um leitor novo…
E quando falo da “maior violência”, não estou levantando isso como um ponto negativo. Muito pelo contrário. Os tiroteios e a pilha de mortos que vejo aqui são coisas que acho interessantíssimo interessantes, dando um ar quase cinematográfico à saga, de uma “lenda do Oeste”, forjando na mente do leitor (e dos coadjuvantes desse Universo) a vida de um único homem que coloca para correr dezenas de outros. Ainda bem que conseguimos uma salvação de verossimilhança no final, com Tex ficando bastante ferido e demorando dois meses em Silver City até se recuperar por completo e sair para uma outra missão, como vemos na carta que encerra este arco. Uma carta que dá conta do desaparecimento de Kit Carson.
Uno Contro Cinque (Uno Contro Venti) — Itália, 6 de janeiro a 3 de fevereiro de 1949
Publicação original: Tex, 1ª Série — Collana Del Tex #14 a 19)
Classificação em álbum na série italiana: #1 e 2
Sergio Bonelli Editore
Roteiro: Gianluigi Bonelli
Arte: Aurelio Galleppini
Editoria: Tea Bonelli
No Brasil: Tex Coleção #1 (RGE, 1986); Tex Coleção #2 e 3 (Globo, 1987); Tex Edição em Cores #1 (Mythos, 2009).
53 páginas
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O Bando de Kid Billy
Contada ao longo dos capítulos O Bando de Kid Billy, O Salvamento de Carson, Na Trilha da Guerra, Audaciosa Surpresa e uma última parte sem nome, esta história de Tex nos lembra bastante a base para a primeira fase dos faroestes no cinema, denominada Era dos Primeiro Colonos e Vaqueiros. O fato de Tex ter duas grandes missões aqui (salvar Kit Carson e colocar fim a uma quadrilha de ladrões de gado, encabeçada por Billy Kid) reforça essa premissa e, principalmente no início da história, temos um roteiro muito bom ao estabelecer inimigos em diversos lugares ou colocar em evidência o acordo entre Tex e as autoridades versus a sua visão pela população em geral, que ainda acha que ele é um fora de lei. Tudo isso e a apresentação dos primeiros contratempos do herói, assim que chega à cidade de Springerville.
Gianluigi Bonelli faz aquilo que sabia fazer de melhor nos roteiros: criar uma missão maior e, em torno dela, missões e obstáculos menores, todos amarrados à linha principal da saga, para onde tudo se afunila, no decorrer das páginas. Infelizmente o drama com os indígenas acaba sendo resolvido de uma maneira estranha, quase alheia ao que o autor apresentou antes, focando mais na parte prática, com toda a atenção direcionada para a fuga dos prisioneiros na aldeia indígena. Daí para frente, o texto também cai um pouco, se comparado ao ótimo início, embora jamais fique ruim. O final é que parece abrupto demais, novamente marcando uma separação entre Carson (que vai para Washington) e Tex, que segue para o Forte Wellington, onde lhe aguardam novas instruções.
La Banda di Kid Billy — Itália, 10 de fevereiro a 30 de março de 1949
Publicação original: Tex, 1ª Série — Collana Del Tex #20 a 23)
Classificação em álbum na série italiana: #2
Sergio Bonelli Editore
Roteiro: Gianluigi Bonelli
Arte: Aurelio Galleppini
Editoria: Tea Bonelli
No Brasil: Tex Coleção #3 (Globo, 1987); Tex Edição em Cores #1 e 2 (Mythos, 2009).
45 páginas
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O Mistério do Ídolo de Ouro
Aventura mais longa de Tex até este momento de sua jornada nos quadrinhos, O Mistério do Ídolo de Ouro é uma verdadeira saga do Velho Oeste, envolvendo uma grande porção de ingredientes do gênero ao longo de suas páginas. No texto, Bonelli parte de uma premissa mística, lembrando um pouco os eventos de O Totem Misterioso, mas numa esteira bem maior de perseguição, mortes, Fortes, missões, bandos, Xerifes e objetivos envolvidos. E tudo começa com uma missão coberta de mistérios. No Forte Wellington, para onde Tex é convocado ao fim de O Bando de Kid Billy, descobrimos que alguns soldados estão sendo misteriosamente mortos (supostamente por uma serpente) após terem encontrado um antigo ídolo dourado (Xipe/Anauak) de uma índia ferida no deserto.
O caso é rapidamente desenvolvido com base em um suspense investigativo, onde Tex precisa encontrar o assassino dos soldados tendo em vista a inquietante informação de que todos os que morreram estavam de posse do tal ídolo. O subterfúgio inicial de Tex, junto aos bandidos, dá início a uma longa perseguição. O herói é alvo de bandidos e indígenas corrompidos por uma promessa mentirosa e já aí temos indicações de ligação desses bandidos com algum escalão do governo/Exército mexicanos, o que ficaria bem claro na segunda parte da saga.
Internamente, temos algumas interessantes subdivisões, cada uma tornando a história ainda melhor. Com o rapto de Tesah (conhecida de Tex desde a sua primeira história), começamos uma outra jornada, agora mais pessoal e que acabará com Tex contando a verdade aos indígenas e encerrando, ao menos a primeira grande parte, da saga do ídolo dourado. Mas o bloco verdadeiramente instigante do arco está a partir do capítulo Ataque a Santa Fé. Até o momento eu estava achando a trama apena “ok“, mas tudo cresceu bastante em qualidade quando chegamos a este ponto. Além de ser imensamente ágil, esses capítulos finais apresentam todos os problemas de forma bastante orgânica, com resoluções inteligentes para todas as coisas e uma excelente condução de histórias paralelas, com direito a perseguição, incêndio na pradaria e resolução parcial do caso, com uma marca política que já emenda em uma linha de acontecimentos que nos levará para o arco seguinte, um dos mais importantes de toda a história de Tex: O Espião Mefisto.
Com o envolvimento do setor militar e de guerrilha mexicanos ao fim do caso do ídolo de ouro, vemos Tex partir (um mês depois de concluída aquela aventura) para uma outra missão. Ao chegar na cidadezinha de Rio Negro, ele está num saloon e encontra na parede do local o anúncio de um espetáculo que parece deixar todos alegres. É aí que temos a primeira aparição de Mefisto, o grande inimigo de Tex, nos quadrinhos. Alguns quadros depois conhecemos Lily, irmã do (então) espião-showman e a trama termina com um cliffhanger que prenuncia o primeiro encontro entre o fantasiado e Tex.
Os capítulos deste arco: O Mistério do Ídolo de Ouro, A Estrela do Rio, A Morte na Sombra, O Rapto de Tesah, Sangue na Fronteira, O Segredo do Ídolo, O Templo Trágico, Ataque em Santa Fé, Desafio ao Perigo, Ataque ao Forte Wellington e A Barreira de Fogo.
Il Mistero Dell’idolo D’oro — Itália, 10 de março a 19 de maio de 1949
Publicação original: Tex, 1ª Série — Collana Del Tex #24 a 34)
Classificação em álbum na série italiana: #2 e 3
Sergio Bonelli Editore
Roteiro: Gianluigi Bonelli
Arte: Aurelio Galleppini
Editoria: Tea Bonelli
No Brasil: Tex Coleção #3 e 4 (Globo, 1987); Tex Edição em Cores #2 (Mythos, 2009).
117 páginas
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O Espião Mefisto
E aqui está. A longa história que narra a primeira aventura de Tex contra Mefisto (Steve Dickart) que, ao lado de sua irmã Lily, apareceram nos quadrinhos do Águia da Noite já no arco anterior, O Mistério do Ídolo de Ouro. O que acontece aqui já é algo muitíssimo interessante. Tex começa a história cumprindo uma ordem para investigar um caso de espiões a serviço do governo mexicano na fronteira com os Estados Unidos, mas termina engolfado por um drama criado pelos irmãos Dickart que irá mudar completamente sua história a partir de então.
Assim como no arco anterior, merece destaque o foco de ação em andamento, algo que mostra um grande salto de qualidade no roteiro de Gianluigi Bonelli. Uma saga enorme como esta, por exemplo, está dividida em muitas partes interessantes, todas elas com identidade própria (Galep, mais uma vez, objetivo e ágil com seus desenhos, delineando essas identidades) e com um elemento que traz a conexão com o drama principal, ou seja, a caça de Tex a Mefisto, que começa “apenas” como uma busca normal por um bandido eficaz, mas termina com o personagem lutando pela própria vida, tentando provar sua inocência e não ser enforcado.
Confesso que fiquei bastante espantado com a maneira como o autor fez com que Tex recebesse novamente a acusação de assassino e tivesse sua cabeça colocada a prêmio. Há uma elipse ali no meio da história que não cai muito bem, mas todo o restante drama funciona, nos pega de assalto e, como disse antes, tem um enorme peso para o personagem, que ao fim da história escreve uma carta não muito dócil a Herbert Marshall, anunciando sua auto-demissão da Corporação, dizendo que agora servirá à sua própria lei. Uma decisão mais que acertada, mesmo que não tenha permanecido por muito tempo.
Neste arco também aparece pela primeira vez o grande amigo mexicano de Tex, o guerrilheiro fora da lei chamado Montales. É com sua ajuda — na verdade, na esteira de eventos ligados a disputas de território e poder no México — que Tex enfim encontra Mefisto (que aqui não tem as características malignas que assumiria em outras aparições), num momento da narrativa em que o Ranger troca a tradicional camiseta amarela e calça azul por uma roupa preta, a fim de se parecer com Montales, tendo aí uma certa semelhança com Zorro, guardadas as devidas proporções [observação feita a partir da leitura da versão colorizada do clássico, obviamente]. E é justamente em torno desse drama fronteiriço que temos o fim da história, já emendada com a permanência de Tex ao lado de Montales, para seguir com a luta contra as forças corruptas e usurpadoras do poder do Estado na região. Uma grande saga que, mal termina, já nos traz outra igualmente ágil, em seu início. O velho Bonelli realmente não perdia tempo…
Os capítulos deste arco: O Espião Mefisto, A Mesa do Diabo, Jogo Perigoso, Uma Trama Infernal, Condenação à Morte, Fora da Lei!, Tex: O Homem Furacão, Duelo em El Paso, Montales – O Fora da Lei, Ataque em Hermadina, O Fantasma de Vila Rica e O Fim de Mefisto.
Mefisto, La Spia — Itália, 26 de maio a 25 de agosto de 1949
Publicação original: Tex, 1ª Série — Collana Del Tex #35 a 46)
Classificação em álbum na série italiana: #3
Sergio Bonelli Editore
Roteiro: Gianluigi Bonelli
Arte: Aurelio Galleppini
Editoria: Tea Bonelli
No Brasil: Júnior n° 62 – O Globo (1951), Tex Coleção #5 e 6 (Globo, 1987); Tex Edição em Cores #2 e 3 (Mythos, 2009 e 2010).
142 páginas
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O Herói do México (Montales, El Desperado)
Aqui nós temos o fechamento de uma linha de acontecimentos fronteiriços em que Tex esteve presente, nesse ponto inicial de suas cavalgadas pelo Velho Oeste. Ao longo dos capítulos A Captura de Montales, Alarme em Buenavista, O Traidor e O Herói do México vemos toda a organização de uma Revolução e já é possível perceber também uma mudança moral no tratamento que Gianluigi Bonelli dá a Tex. O olhar do personagem para a justiça deixa de ser algo subtendido ou lido “apenas” por suas ações e ganha um reforço literal, marcando também a divisão clara sobre a visão do personagem em relação aos homens que ele precisa matar. A sugestão que dá a Montales, na mudança de tática para evitar matar “homens que só estavam obedecendo ordens superiores” é algo que ficaria para sempre como um dos motes do herói, assim como a visão que ele declarava sobre a justiça e a opressão.
A história se divide basicamente em dois grandes atos, um de preparação e outro de ação revolucionária, com os rebeldes tomando o controle das cidades da região da fronteira e, sob liderança de Tex, Montales e Manuel Perez, um novo status político se forma, com Montales sendo nomeado Governador de Província e Tex seguindo em suas aventuras, como sempre. O fim de um primeiro ciclo político-social e guerrilheiro nessas andanças iniciais de Tex. Se tudo der certo, pelo menos por um tempo, a paz na região será estabelecida. Assim é a promessa das novas vozes do governo regional.
L’eroe del Messico — Itália, 1º a 22 de setembro de 1949
Publicação original: Tex, 1ª Série — Collana Del Tex #47 a 50)
Classificação em álbum na série italiana: #3 e 4
Sergio Bonelli Editore
Roteiro: Gianluigi Bonelli
Arte: Aurelio Galleppini
Editoria: Tea Bonelli
No Brasil: Tex Coleção #6 (Globo, 1987); Tex Edição em Cores #3 (Mythos, 2010).
43 páginas
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O Bando do Vermelho e A Noite Trágica (O Sindicato do Ópio)
Este arco tem uma particularidade interessante. Na série italiana original, está catalogado como uma única aventura, passando-se entre os capítulos O Bando do Vermelho e A Batalha Infernal. Aqui no Brasil, porém, suas publicações dividem-no em duas partes. O fato é que após dar fim ao denominado Vermelho, mestiço indígena que aterrorizava toda uma região, Tex segue tentando resolver o caso do juiz e do xerife que estavam ligados ao Vermelho, tudo isso a partir do capítulo Noite Trágica, o que explica a aceitável versão brasileira na quebra do arco original a partir deste ponto. Por motivos de melhor análise, resolvi a questão da seguinte forma: mantive o título original e o nacional (e também um terceiro, pelo qual a segunda trama é conhecida: O Sindicato do Ópio), mas a análise será feita para a saga como um todo, seguindo o exato padrão de divisão original.
Na primeira grande parte da história vemos Tex retornando aos Estados Unidos, após um período no México ao lado de seu recente amigo, o guerrilheiro e agora político, Montales. Encontrando um rancho depois de dias, o ex-Ranger percebe que vários bois estão caídos no chão. O carbúnculo se espalhou pelo rebanho o e velho Senhor Stanfield, junto de sua esposa, estão desesperados. O início da trama é marcante, com um primeiro contato não muito amigável entre Tex e o rancheiro, mas eles rapidamente se entendem e está dado o primeiro passo para mais uma jornada de Tex em favor da justiça e proteção a quem precisa de proteção.
O problema dessa primeira parte é que ela está repleta de clichês e conveniências difíceis de engolir. Tex beira o super-heroísmo e o roteiro compensa pouco essas escapadas milagrosas dele ao longo da narrativa, retornando aos trilhos apenas no final, quando o Vermelho é enfim derrotado e Tex segue para a cidade próxima, a fim de colocar um ponto final na outra parte do bando. Todavia, ele não esperava que ali encontraria uma segunda (e ainda maior) organização criminosa, agora com Mister X (O Homem da Barba, ou Stern) no comando de uma gangue controladora do comércio de ópio na região. Diferente da primeira parte do arco, esta segunda tem uma ótima e ágil sequência de eventos, prendendo-nos do início ao fim.
Embora eu não seja exatamente fã da forma como Bonelli escreveu certas cenas com os negros e chineses aqui (nem como escreveu muitas coisas ligadas ao mestiço nativo — e bandido — do arco anterior, ou algumas outras pequenas citações, apelidos e frases em histórias anteriores dessa fase), é perfeitamente possível localizar e entender essas nomenclaturas e tratamento do autor ao seu tempo histórico. Evidente que isso é algo comum, compreensível e é bom que seja citado, até para efeito de comparação com as grandes mudanças que o próprio Tex e os coadjuvantes de suas histórias teriam no ao lidarem com outras etnias, sendo aí os personagens claramente racistas vistos com essa exata intenção dramática e reprimidos como tal. Em parte (e meio paradoxalmente) essa mudança começou já no arco anterior, durante a estadia de Tex no México.
Eu esperava que houvesse um fechamento mais escrupuloso para o presente ciclo, com Tex voltando ao rancho do Sr. Stanfield. Mas o encerramento escolhido por Bonelli funcionou bem. O tiroteio final contra os capangas do Dragão chinês é instigante, com ótima concepção de localização através da arte de Galep e um número bem menor de conveniências por parte do roteiro, o que torna a coisa realmente apreciável. E eis que temos Tex de volta à Corporação dos Texas Rangers, após o arrependimento e devidos pedidos de desculpa de Herbert Marshall, depois de sua deplorável postura quando Tex foi falsamente acusado no caso de Mefisto. Um novo momento para o Águia da Noite se apresentaria a partir daqui.
Os capítulos deste arco: O Bando do Vermelho, Duelo em Lineville, Complô nas Sombras, À Beira da Morte, O Voo no Abismo, O Contrato Imoral, De Frente Para a Morte, Noite Trágica, O Sindicato do Ópio, Os Capangas do Dragão, Jogo Fatal, Noite de Sangue, A Cilada, Nas Mãos do Carniceiro e Batalha Infernal.
La banda del Rosso / La Tragica Notte / Il Sindicato Dell’oppio — Itália, 22 de setembro de 1949 a 5 de janeiro de 1950
Publicação original: Tex, 1ª Série — Collana Del Tex #51 a 60 / Tex, 2ª Série — Collana Del Tex #1 a 5)
Classificação em álbum na série italiana: #4 e 5
Sergio Bonelli Editore
Roteiro: Gianluigi Bonelli
Arte: Aurelio Galleppini
Editoria: Tea Bonelli
No Brasil: Tex #150 (Vecchi, 1982), Tex Coleção #7 e 8 (Globo, 1987); Tex Edição Histórica #3 (Globo, 1993), Grandes Clássicos de Tex #19 (Mythos, 2009), Tex Edição em Cores #3 (Mythos, 2010).
159 páginas