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Crítica | Terrores da Noite

por Leonardo Campos
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O morcego-vampiro é uma espécie dominante nas narrativas cinematográficas do subgênero horror ecológico, tal como a cascavel e o tubarão-branco são nos filmes de seus respectivos segmentos. Em Terrores da Noite, lançado em 1979, o cineasta Arthur Hiller dirige esta fábula do medo e do pavor, filme de 105 minutos inspirado pelo roteiro de Steve Shogan, Bud Shrake e de Martin Cruz Smith, autor do livro homônimo que serve de ponto de partida para o processo de tradução intersemiótica. Mesmo que produzido e exibido no final da década de 1970, o filme ainda preservou os padrões dos filmes de animais assassinos, forças da natureza que ganharam combustível depois que Steven Spielberg foi contratado por David O. Zanuck para comandar Tubarão, clássico moderno que estabeleceu uma série de padrões narrativos, publicitários e interpretativos no bojo da indústria cinematográfica, da crítica e do público receptor e ativo, cada vez mais consciente do material que consumia e desejava rever nas telas.

A diferença aqui é o modo de operação. Ainda há alguns elementos, tais como a descrença de uns, o desapego de outros, bem como a trilha e o ponto de vista como esquemas narrativos para assustar sem abusar demais da presença dos morcegos em cena, mas no geral, o que faz estas criaturas organizarem um verdadeiro festival de horror e morte é a invocação de forças sobrenaturais e os velhos impactos entre nativos e homens brancos num setor do território estadunidense que na época, parecia ainda preservar alguns conflitos coloniais esquecidos pelas demais regiões já devastadas, urbanizadas e conquistadas por meio de massacres, etc. Os elementos do livro que mesclam misticismo e a sensação de uma atmosfera conflituosa são adequadamente adaptados ao tecido narrativo audiovisual, num filme que se apresenta bem ao estilo de seu ponto de partida, numa correspondência eficiente com o livro homônimo de Martin Cruz Smith, lançado apenas um ano antes e já transformado em produto cinematográfico.

Na produção, o policial Duran (Nick Mancuso) é um homem que carrega em suas veias, o sangue de origem tribal, conectado com os modos e costumes da região, muito voltada ao passado histórico antes da colonização. Certo dia, ele é chamado para uma fazenda, tendo em vista opinar sobre os cavalos mortos de maneira muito peculiar, com o sangue totalmente sugado, drenado por uma criatura ou alguém bastante eficiente no serviço. Há também um forte odor de amônia, conhecido por ser representativo da presença de morcegos, animais que excretam enquanto sugam o sangue de suas vítimas. Curiosos, as testemunhas diante do animal morto não consegue uma definição de imediato e é na pesquisa que as coisas começam a deixar tudo mais tenebroso e tenso. Naquela área, fronteiriça com uma reserva de Maskai, algo de podre está dominando a natureza e os seres humanos correm sérios riscos. Walter Chee (Stephen Macght), presidente do Conselho Tribal, também é convocado. Quanto mais opiniões, melhores os resultados. É no que se acredita.

O que saberemos logo mais é que um xamã, Tio Abner (George Clutesi), bastante próximo de Duran por tê-lo criado na juventude, é o catalisador dos ataques de morcegos. Ele invocou um deus obstinado na destruição dos capitalistas que pretendem, por causa do petróleo, extrair o máximo do lugar e devastar o que ainda resta das tribos indígenas. Nesta história, Phillip Payne (David Warner), biólogo da OMS, imbuído da sua missão ambientalista, também está no local para entender os desdobramentos culturais e biológicos da situação que envolve a morte de vários animais e agora, seres humanos. Com cenas de morte captadas pela direção de fotografia de Charles Rosher Jr., escura e preocupada em salientar o tom macabro das cenas noturnas, momento dos ataques destes mamíferos representados pelo design de som de Michael Hinkler, apoiado pela trilha sonora de Henry Mancini. O design de produção de James Dowell Vance constrói um espaço bem sul-estadunidense, setor que assume os morcegos concebidos pelos efeitos visuais de Carlo Rambaldi. Tudo isso, no entanto, não é suficiente.

O filme traz um diferencial para o terror, ao mesclar religiosidade e ataque de animais, mas não dá conta da sua proposta inovadora. Anne Dillon (Kathryn Harold), estudante de medicina militante, decide trazer para a região materiais para a instalação de um hospital que dê a devida atenção ao povo local. Os suprimentos até são ofertados, mas para isso, é preciso que os nativos cedam. Esse conflito não parece ter fim e o desfecho só poder ser trágico. Na estrutura de Terrores da Noite, o petróleo, a natureza, os nativos e os seres humanos entram em colapso, na clássica abordagem da cultura versus meio ambiente, ambos em crise. Muita resistência em cena, destruição de todos os lados e uma crítica social interessante, apesar do filme ser emperrado enquanto entretenimento. A cena de ataque aos missionários, devo dizer, funciona bem, mas os diálogos, os personagens desenvolvidos sem o devido cuidado e a narrativa de maneira geral é insossa.

Terrores da Noite (Nightwing/Estados Unidos, 1979)
Direção: Arthur Hiller
Roteiro: Steve Shagan, Bud Shrake, Martin Cruz Smith
Elenco: David Warner, Nick Mancuso, Kathryn Harrold, Stephen Macht, Strother Martin, George Clutesi, Donald Hotton, Ben Piazza
Duração: 105 min.

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