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Crítica | Terra Formars – Vol. 1

por Guilherme Coral
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estrelas 3

A visão dos volumes de Terra Formars nas bancas já não me é estranha há algum tempo, mas nunca havia sequer lido sua sinopse para saber do que se tratava. Ao buscar algum novo mangá para ler, me deparei com um resumo rápido de sua história e, apesar de soar como uma loucura total, típica que somente os japoneses conseguem fazer, fui imediatamente fisgado. Antes de entrarmos nos detalhes, porém, estejam avisados: esses quadrinhos não são feitos para crianças, não só pela sua violência explícita, como pelos conceitos um tanto quanto perturbadores neles trabalhados.

O pontapé inicial da trama não foge do comum: a Terra está beirando a exaustão de seus recursos naturais e os cientistas precisam buscar uma maneira de criar um ambiente propício para a vida humana fora do planeta. A opção escolhida é terraformar Marte a fim que sua atmosfera e temperatura sejam propícias para a humanidade ali se alocar. O método desenvolvido, porém, é onde a história começa a ganhar uma certa excentricidade: baratas são enviadas para o planeta vermelho a fim de que suas carapaças acabem formando uma espécie de mofo, que ocasionaria em um efeito estufa capaz de elevar a temperatura para um padrão habitável. Obviamente, que as coisas acabam fugindo do controle e esses insetos acabam sofrendo mutações que as transformam em seres de nosso tamanho e, ainda por cima, humanoides. O primeiro volume acompanha, portanto, uma expedição enviada para Marte a fim de lidar com as baratas remanescentes e checar a situação atmosférica. Ignorantes ao que aconteceu ali, o grupo enviado vai morrendo um por um.

capa_terra_formars_01_gTerraformars é uma daquelas histórias que exigem uma dose gigantesca de suspensão de descrença. Infelizmente, o número considerável de absurdos que vemos nessas páginas transformam essa em uma leitura que pode ser apenas considerada um guilty pleasure, visto que alguns pontos não contam com lógica alguma. Agora, isso não seria um problema, já que estamos falando de uma obra de ficção, se o mangá não tentasse oferecer explicações científicas por trás das peculiaridades que mostra em seus quadros, nos remetendo imediatamente a Samurai X e os golpes impossíveis que tentam trazer um pouco de física, apenas para tirar de nós boas risadas.

Desses elementos sem sentido, o que mais nos chama a atenção é o simples fato dos insetos assumirem características humanas. Evidentemente que estamos falando do primeiro volume e uma explicação pode vir futuramente, mas, por enquanto, não há caminho evolutivo que justifique isso. E já que estamos falando de evolução, o roteiro simplesmente utiliza o lamarckismo para explicar alguns trechos, um conceito há muito descartado que nada tem a ver com a seleção natural de Darwin.

Mas isso não quer dizer que não possamos nos divertir com o mangá. Ao colocar todos os personagens como descartáveis desde as primeiras páginas, é criada uma forte sensação de tensão, visto que não sabemos quem, de fato, irá sobreviver. Há uma certa similaridade com Gantz, ao passo que a morte está à espreita constantemente e o traço limpo de Kenichi Tachibana não gera dúvidas acerca do que estamos lendo. Aliado a isso, temos um design bastante perturbador das baratas-humanóides, que provocam um certo gelo na espinha, o que é apenas ampliado pelo silêncio das criaturas e nossa falta de conhecimento acerca do que elas realmente podem fazer.

Os poderes de cada um dos personagens também são desenvolvidos de forma interessante e beiram uma certa lógica, quando admitimos a possibilidade do DNA de um ser humano ser combinado com o de insetos. Aqui as descrições “científicas” são colocadas em bom uso, visto que estão presentes para nos dizerem o que cada um dos tripulantes da nave pode fazer. Infelizmente, em alguns pontos, é criada uma certa quebra de ritmo em virtude desses, o que apenas se torna mais constante com a tentativa de inserir uma certa teoria da conspiração no mangá, algo que poderia ter sido deixado para capítulos exclusivos ou posteriormente.

A escolha em trazer um primeiro volume que, também, funciona como um arco fechado é interessante, criando uma sensação de que estamos diante da introdução, desenvolvimento e conclusão de uma história, ainda que saibamos que ela irá continuar. Ao mesmo tempo é criada a dúvida se os quadrinhos repetirão essa escolha narrativa, o que apenas pode gerar um número considerável de mortes ao longo de sua duração – o que não é necessariamente ruim, mas pode criar um distanciamento do leitor em relação à obra.

Terraformars é um mangá bastante inusitado, que exige muito de nossa suspensão de descrença e marcado por constantes perdas de ritmo. Ainda assim, trata-se de uma leitura bastante divertida, que, apesar desses defeitos, consegue nos prender em virtude do tom de mistério que permanece como constante ao longo de suas páginas. Com um primeiro volume que funciona perfeitamente como uma história fechada, temos aqui uma leitura bastante casual, mas que pode se desenvolver em algo deveras interessante.

Terra Formars – Vol. 1 – Japão, 2011
Roteiro: Yū Sasuga
Arte: Kenichi Tachibana
Editora (no Japão): Weekly Young Jump
Editora (no Brasil): Editora JBC
Páginas: 216

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