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Crítica | Terra Assombrada

Terror e solidão.

por Felipe Oliveira
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Responsável por fazer barulho e arrancar elogios em amostras independentes de cinema em 2018, a estreia de Emma Tammi em um longa-metragem, Terra Assombrada, chamava atenção por apresentar um conto de horror western com uma abordagem ambiciosa focada numa perspectiva feminina. Escrito por Teresa Sutherland, é interessante como seu flerte com o cerne da história (terror, solidão, o sobrenatural e protagonismo feminino) tenha iniciado com um curta lançado em 2012, e em The Wind, a roteirista descobria outra forma de continuar explorando esses tópicos sem assumi-los como elementos para um terror feminista, e sim, um denso conto pelas reflexões de sua temática.

Logo na abertura, era possível visualizar o potencial na direção de Tammi que trazia uma atmosfera tensa para introduzir o gancho narrativo. No cenário de lançamento do longa, era fácil The Wind ser comparado pelos fissurados pelo “pós-terror” em querer ver alguma influência de A Bruxa, porém, Tammi provava que tinha personalidade e controle para construir seu terror psicológico movido pela paranoia e solidão do Velho Oeste ao contar a história do casal Lizzy (Caitlin Gerard) e Isaac (Ashley Zukerman), que afastados da civilização, usufruem da região isolada. Após a chegada de outro casal nas proximidades, coisas estranhas começam a acontecer reforçando os avisos sobre a presença de um demônio na área ser real.

Seguindo o ponto de vista de Lizzy, é como a narrativa passa a costurar seus elementos simbólicos refletindo como o isolamento, as lendas locais, a falta de cultivo, a ausência de relações e expectativas do lugar influenciam no psicológico da personagem. A narrativa não-linear que se mistura entre linhas do passado e presente só servem para o propósito de The Wind em causar dúvida: um conto de terror sobrenatural ou um conto sobre os terrores da paranoia e solidão? Conforme as informações vão sendo desenhadas, a dinâmica entre casais começa a revelar como são afetados pelas condições locais, principalmente as mulheres, perturbadas pelas implicações que um filho traria a uma realidade não muito favorável. De modo tenso, Emma Tammi pegou o tema sobre a depressão pós-parto e intrigas femininas (de ciúmes, inveja) traçando sua visão em meio a realidade do final do século XIX e complementando com o subgênero do terror no Velho Oeste.

Para o bem ou para o mal, a cuidadosa edição atrelada a um trabalho de som engenhoso iam disfarçando a falta de equilíbrio da narrativa em misturar elementos e simbologias como analogias às temáticas do texto. A exemplo dos rumores sobre os demônios da pradarias surgindo como uma explicação para o estado psicológico que vai afligindo as personagens femininas, ou nas leituras de trechos da literatura gótica como Frankenstein, de Mary Shelley, que ora refletiam a perturbação emocional e mental das jovens esposas ou da condição local sem perspectiva e marcada pelo distanciamento. Além disso, o uso do terror psicológico trazia ainda mais contornos para as várias interpretações geradas pela trama.

Com uma execução contida, Tammi fez um ótimo exercício ao usar do terror psicológico para incrementar a história, criando um terror atmosférico que pode ser melhor entendido no título original, The Wind,  do vento, da natureza como símbolo dos horrores, da “presença” nos episódios, das sensações inexplicáveis que assombravam duas mulheres distintas, mas semelhantemente afetadas. E se tratando de temáticas, em Lizzy se tinha uma figura que resistia ao patriarcado da época, e também, que se fazia sua própria força: de resiliência aos tempos difíceis e de bravura para lutar contra os delírios, lobos de demônios locais.

Terra Assombrada (The Wind – EUA, 2018)
Direção: Emma Tammi
Roteiro: Teresa Sutherland
Elenco: Caitlin Gerard, Miles Anderson, Julia Goldani Telles, Dylan McTee, Ashley Zukerman
Duração: 87 minutos 

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