Para uma Hollywood que adora revistar histórias, não há momento mais oportuno do que a nostálgica manobra dos requels. Entre os relançamentos comemorativos nas telonas, tem-se algo tentador na narrativa que embala uma espécie de sequência e remake, tendência que também chegou no universo das séries, como é o caso de Chucky e Ash vs Evil Dead. O que nos leva para o tão falado filme de Teen Wolf, que prometia a reunião de grande parte do elenco que marcou a série para combater uma nova ameaça em Beacon Hills.
Mas bem, ter encerrado uma trajetória de 101 episódios com seis temporadas em 2017 não parece ter tanto tempo assim para justificar uma produção que nada mais tem a fazer do que apelar para a nostalgia. É uma tendência que tem impulsionado muitos a querer fazer parte, e então vem Jeff Davis, pega a sua criação mais notória e pensa que é o momento certeiro de fazer um revival de uma releitura televisiva do O Garoto do Futuro. Se na linha de desenvolvimento da série Davis investia nos tropos clássicos de romance como base, para este retorno em formato de filme, o autor conta com uma receita ainda mais comum: uma história inédita que utiliza elementos chave da premissa original e reorganiza para novos segmentos.
Talvez a escolha nada tenha a ver com a recusa de Dylan O’Brien em participar do filme, mas a extensão seguida por Davis para o revival se aproveita, especificamente, da primeira e terceira temporada da série, o que soa aparentemente assertivo já que retoma aspectos do ano inicial, depois, da fase com maior desenvolvimento criativo e de qualidade do show. Em paralelo ao mistério que provoca a ressurreição de Allison — com isso, volta também a lamentação do alfa Scott em viver o romance proibido com a amada — o temido Nogitsune se revela como a ameaça principal do longa.
No primeiro momento, a dinâmica trazida com essa configuração traz certa empolgação ao reunir Scott e seus amigos novamente em Beacon Hills, e o veterano diretor da série, Russell Mulcahy, é hábil em transmitir a essência sistemática que funcionava no show, além da fotografia característica de David Daniel embebida no azul e cenário esfumaçado combinado ao jogo de câmera lenta em demonstrações de ação. Mas é uma queima que não dura muito tempo quando se percebe a falta de emoção para fazer esse revival acontecer, um sintoma que é notável principalmente em Scott, protagonista. Na lógica proposta no roteiro, passou-se alguns anos desde que ele e sua família de amigos enfrentaram o último inimigo juntos, até serem convocados para uma nova ameaça. O irônico ao investir tanta energia e acenos ao próprio universal num revival, é como se o perfil de “lobo adolescente” nunca tivesse ido embora, e isso não tem a ver com atmosfera, um reflexo proposital.
E isso faz ponderar sobre a falta de propósito em termos narrativos do filme, já que a aparente evolução dos personagens para traços mais adultos não passa do teto da superficialidade. Depois do vislumbre em notar que Davis mantém a mesma sinergia para em apresentar o mistério e arcos, o que foi se tornando um dos aspectos positivos na série, Teen Wolf: O Filme começa a parecer o resgate de uma temporada descartada sendo diluída em um extenso filme feito para tv. Ou como melhor poderia ser definido, o longa tenta camuflar ideias sufocadas na fórmula de sucesso da série — característica essa cada vez mais evidente nos últimos dois anos da atração — tudo para vender o que poderia ser o piloto de um possível spin-off, mas que termina encaixando na tendência dos requels.
Enquanto a montagem faz um grande trabalho exaustivo de imagens e arcos que não empolgam, Davis vai inserindo a semente para dar continuidade a esse universo de lobo adolescente através de Eli, filho de Derek. Sem a apelação para romances com ecos de Romeu e Julieta, a introdução do personagem é o início de uma história em paralelo a de Scott, contrapondo os diferentes eventos que regem a síntese de crescerem como um lobo em Beacon Hills. Olhando além do alvoroço e espetáculo com óbvios exercícios visuais, esse é um plot que certamente seria melhor aproveitado de forma individual, com maior atenção para o real potencial, e por fim, revelando as conexões com a série mãe, isso numa série derivada do que em um filme que faz compilado de temporada com uma edição sem inspiração.
Se Malia é o equilíbrio entre noção e sátira do filme ainda parecer um típico e envelhecido mistério adolescente, a presença de Jackson representa tudo o que não funciona nesse revival: a tentativa superficial de reunir humor, mistério e velhos personagens numa trama que não tem muito a dizer além de um repeteco mal estruturado e enfadonho das longas seis temporadas, o que faz do filme um retorno precoce a Beacon Hills.
Teen Wolf: O Filme ( Teen Wolf: The Movie – EUA, 27 de janeiro de 2023)
Direção: Russell Mulcahy
Roteiro: Jeff Davis
Elenco: Tyler Posey, Holland Roden, Crystal Reed, Tyler Hoechlin, Shelley Hennig, JR Bourne, Linden Ashby, Colton Haynes, Melissa Ponzio, Ryan Kelley, Seth Gilliam, Ian Bohen, Dylan Sprayberry, Vince Mattis, Amy L. Workman
Duração: 140 min.