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Crítica | Ted: A Série – 1ª Temporada

A mesma coisa, só que na adolescência de John Bennett.

por Ritter Fan
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Como tudo em Hollywood ou ganha continuação, seja imediata ou tardia, ou vira série, vide Festa da Salsicha: Comilândia só para usar um exemplo bem recente, não é de se espantar que os divertidos filmes de 2012 e 2015 sobre Ted, o desbocado, depravado e drogado ursinho de pelúcia falante  que é o melhor amigo do imaturo John Bennett (Mark Wahlberg), tenham ganhado esse tratamento. Seth MacFarlane retorna como a mente criativa, e, claro, a voz do personagem, em um prelúdio em forma de série live-action que desloca a ação para 1993, com John com 16 anos (vivido por Max Burkholder) em uma estrutura clássica de sitcom que aborda principalmente a vida familiar e escolar da dupla em Framingham, Massachusetts.

Para povoar o entorno dos protagonistas, há os pais de John, Matty (Scott Grimes) e Susan Bennett (Alanna Ubach), além de Blaire (Giorgia Whigham), prima mais velha, já na faculdade, que mora no quarto acima da garagem, com os três representando arquétipos muito específicos: o pai é um Republicano ultraconservador avesso à qualquer coisa que não seja aquilo que ele acredita; a mãe é uma mulher inteligente e amorosa, mas submissa e envelopada pela mecânica patriarcal e a prima é uma jovem liberal e progressista de gênero fluido. As descrições acima são suficientes para deixar evidente as dinâmicas entre os personagens e da série como um todo que também ganha alguns outros desenvolvimentos fora do ambiente familiar, especialmente na escola de John para aonde Ted, logo no primeiro episódio, também é mandado por sugestão de Blaire, o que abre espaço para outras conversas socialmente relevantes.

Quem já assistiu os filmes sabe exatamente o que esperar da série, com a única – e grande – diferença que Burkholder é um jovem ator cuja latitude dramática é diminuta, muito inferior a Wahlberg, só para se ter uma ideia, o que o leva a ser basicamente engolido por todos em tela, seja por MacFarlante como Ted, o que era de se esperar, claro, como também por cada um da trinca familiar, demorando muito para que o espectador aclimate-se e crie algum tipo de empatia por ele. Mas fora isso, o humor grosseiro e politicamente incorreto típico da franquia está presente com constância, só que, na estrutura de série, especialmente uma com surpreendentemente longos episódios, mesmo que relativamente poucos, é como a boa e velha citação tolkeniana da manteiga espalhada em muito pão, ou seja, ele teve suas gags afinadas e diluidas, algumas delas tornando-se a base narrativa de episódios inteiros, como é o maldoso trote que Ted e John infligem ao valentão da escola.

A série funciona melhor quando se distancia do politicamente incorreto apenas pelo politicamente incorreto, como fazer como que Ted chame de anões pessoas com nanismo e de polacos os poloneses somente para que Blaire venha, horrorizada, corrigi-lo, e faz dessas incursões por esse caminho algo mais profundo. Ironicamente, isso não só começa a acontecer com mais força quando a temporada está acabando, lá pelos dois episódios finais, como o preço cobrado é a substituição do humor escrachado por uma pegada levemente mais séria que fala de sexualidade, homofobia, racismo e outras questões relevantes. O humor permanece, não se enganem, mas ele acaba funcionando melhor justamente quando está inserido em contextos mais interessantes como esses que mencionei, valendo especial destaque para o penúltimo episódio que aborda a sexualidade de Blaire e a intolerância de Matty e que introduz outro objeto inanimado que ganha vida.

Mais ou menos como no primeiro filme, a série luta para manter o humor em um ritmo constante. Há, claro, diversos momentos hilários intercalados por vários outros mornos ou completamente frios e repetitivos que não fazem da jornada pela adolescência de John ao lado de seu ursinho de pelúcia algo muito diferente do que ele já adulto ao lado de seu ursinho de pelúcia a não ser nos citados momentos mais sérios. Ted: A Série é quase a mesma coisa novamente só que com um novo elenco – um bom elenco, com exceção de Burkholder, vale dizer -, mostrando que não havia lá muito material para a ampliação do universo criado por MacFarlane. É óbvio, porém, que isso nunca foi motivo para Hollywood deixar de reciclar suas propriedades intelectuais.

Ted: A Série – 1ª Temporada (Ted – EUA, 2024)
Data original de lançamento (Peacock): 11 de janeiro de 2024
Data de lançamento no Brasil (Globoplay): 08 de agosto de 2024
Criação: Seth MacFarlane
Direção: Seth MacFarlane
Roteiro: Seth MacFarlane, Paul Corrigan, Brad Walsh, Dana Gould, Jon Pollack, Julius Sharpe
Elenco: Seth MacFarlane (voz), Tara Strong (voz), Max Burkholder, Alanna Ubach, Scott Grimes, Giorgia Whigham, Marissa Shankar, Ara Hollyday, Liz Richman, Jack Seavor McDonald, Julius Sharpe, Penny Johnson Jerald, Ian McKellen
Duração: 287 min. (sete episódios no EUA; oito episódios no Brasil, mas com o mesmo conteúdo)

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