Existe o mundo fechado dos EUA que se abriu no ataque ao das Torres Gêmeas, e existe o mundo aberto que se fechou entre os estadunidenses. A mesma métrica pode se usar para o protagonista do filme Oskar Schell. Entre suas emoções aguçadas pelo seu provável grau de autismo – não confirmado no filme – e seu mundo fechado de histórias que não compartilha, Tão Forte e Tão Perto sabe estabelecer seu personagem principal na transformação do mundo aberto se tornar coragem e o mundo fechado ser perdoado. O mundo aberto é a cidade e as suas pessoas, e o mundo fechado é a família, a mãe, o avô e como eles estão conectados a esse mundo aberto. Porém, o meio que estabelece isso, as pessoas do mundo aberto que revelam seu privado ao Oskar, durante sua expedição por Nova Iorque, são subjugadas pelo drama familiar Schell, em meio a deus ex machinas no início e no final para introduzir a aventura e fechá-la.
O diretor Stephen Daldry disfarça bem qualquer problema temático, ou moralmente questionável do roteiro. Como um bom diretor sabe decupar seu filme ao ponto que não se perceba o fluir realista da fotografia. O experiente diretor de As Horas não se perde no melodrama do seu personagem, sabendo aplicar bem os tramites sensoriais de Oskar, e transcreve bem sua mente acelerada – sabendo torná-la destacada nas cenas com a interpretação boa de Thomas Horn. Tudo isso sem contar com a trilha sonora de Alexandre Desplat, dando um tom bem dramático para o cenário fatídico do 11 de setembro, traduzindo o mundo aberto e fechado de Oskar…algo que Daldry não consegue.
O diretor sabe manusear nossa mente para fluir o filme, mas o roteiro de Eric Roth, sempre padronizado para grandes histórias, não consegue dimensionar proporções do íntimo e do externo se conectando para a busca de Oskar pelo pai e pelo mundo ao mesmo tempo. Eric Roth é do tipo de roteirista que faz um conto de Scott Fitzgerald como O Curioso Caso de Benjamin Button se tornar Forrest Gump estendido de quase 3 horas na mão de David Fincher, tornando-o frágil para tentar colocar os escritos já denominados grandes dramas de Roth. Então, Daldry sabe trabalhar com seu montador ao ponto de nós compreendermos e nos emocionarmos com o protagonista e a peças de seu drama se concluírem visualmente, e em metáforas introduzidas. No entanto, a temática antropológica que circunda o filme, sobre as pessoas e suas perdas, e as pessoas com sobrenome Black, ou até mesmo o coadjuvante avó vivido por Max von Sydow, são burocratizadas, como adendos a serem inclusos por estarem no roteiro.
Não há uma execução de alinhar o mundo aberto e o fechado. Voltando a essa tradução, o mundo aberto seria das pessoas a serem encontradas pela chave de Oskar, e a sua motivação do mundo fechado é o que possibilita toda a narrativa. A chave achada por um acidente, assim como achar a pessoa dona da chave por acidente. Há, dessa forma, uma encruzilhada sustentada pelo drama do protagonista, mas que se torna limitado à expansão do mundo aberto, em refletir de fato o que se diz no começo: “Agora, existem mais pessoas vivas do que mortas na história humana”. Existe no longa, assim como no livro original que o roteiro adapta, essa busca pelo mundo aberto como descoberta do privado. A interpretação sobre a foto de algum ser humano caindo de uma das torres gêmeas ser qualquer ente querido que você quiser enxergar – uma maneira de lidar com o luto – diz muito sobre a discussão da vida e morte de maneira mais social.
Não se deve confundir o que se espera em um filme do que ele realmente se propõe. Não é fácil, temos expectativas sobre algo desde a primeira cena. Mas o ponto mais adequado a se pensar do porque Tão Forte e Tão Perto falha em sua proposta é entender as pistas que coloca na sua expedição. Oskar, no final, está lidando com o luto – resumindo o filme. Mas como uma boa história isso é posta de maneira diferente para desfrutarmos da narrativa criativa. Nisso, o diferencial é como Oskar se coloca na situação de conhecer o mundo. Porém, isso é resumido em montagens chorosas de pessoas, como um videoclipe antropológico sem compromisso. Isso soa incoerente mediante a importância que Oskar dá a isso, e como isso é relevante para a narrativa se colocar realista quando a expedição pelos vários Blacks é vista pelo olho da mãe Linda (Sandra Bullock).
No final, o mundo aberto e o mundo fechado, essa relação básica que serve para muita coisa, se torna uma tradução emocional baseada apenas no mundo fechado. É como se os EUA apenas se revelou fechado pós 11 de setembro como sempre foi, mas se abriu forçadamente para dizer que ele é fechado com justificativa. Oskar vai se abrindo, contando histórias para ser perdoado de suas mentiras, mas o filme não se abre como força o personagem a compartilhar suas dores. Criam-se momentos inchados e dramáticos para as aberturas do protagonista, mas a forma da obra se mantém intacta, apenas ligando pontos a outros – como o mapa de Oskar – mas sem nos dar um olhar da cartografia desenvolvida entre o mundo fechado, perdoado do luto, e o mundo aberto, descoberto em necessitado de perdão.
Tão Forte e Tão Perto (Extremely Loud & Incredibly Close) – EUA | 2012
Direção: Stephen Daldry
Roteiro: Eric Roth (baseado no livro homônimo de Jonathan Safran Foer)
Elenco: Tom Hanks, Thomas Horn, Sandra Bullock, Zoe Caldwell, Max von Sydow, John Goodman, Viola Davis, Jeffrey Wright
Duração: 129 min.