Contém spoilers! Confira outras críticas para os outros episódios aqui.
Em seu sexto episódio, Taboo dá um leve passo atrás. Um pouco longe das deixas e diálogos fortes, esse capítulo da série trouxe uma baixa para o protagonista — pela primeira vez vemos James fora do controle de todas as coisas, o que é muito bom, mesmo que isso acabe se revelando, nos dois episódios finais da temporada, parte de um plano dele — e serviu para firmar a guerra com os detentores do monopólio comercial no Reino Unido. É o que eu chamo de “drama de transição” e, embora não tenha sido executada com perfeição aqui, manteve a série em alta qualidade.
A Companhia das Índias parece cercada pelo personagem de Lucian Msamati, que mais uma vez dá um show de cinismo e ironia na pele de George Chichester, o representando do grupo Sons of Africa. Por outro lado, quase que por vingança [acidental], a Companhia investe contra James, que tenta resolver seus problemas da única forma que sabe: matando. À medida que pequenas vitórias e pequenas derrotas são adicionadas nos dois lados — e notem que os americanos e o Príncipe Regente têm interesses citados mas não são inclusos na ação –, os motivos para a guerra entre James e a Companhia vêm à tona.
Em paralelo, o roteiro investe mais no passado de Delaney e traz algo que pode ser a causa de suas visões, seu “medo” da água e parte de seu comportamento, que parece ter sido incrementado pelo lado espiritual após estadia em algum lugar da costa Oeste da África. Brace fala a ele sobre a loucura da mãe, sobre como ela tentou afogar James ainda bebê no Tâmisa e o motivo pelo qual o Sr. Delaney a internou em um hospital para loucos (estamos no início do século XIX e essas instituições eram chamadas assim mesmo; e o tratamento aos que lá estavam era o pior possível). Esses mesmos fantasmas saem do armário para os meio-irmãos James e Zilpha, que acabam ligados, de maneiras distintas, ao menos por enquanto, a duas situações de morte.
Oona Chaplin tem nesta semana o melhor “desabrochar” da série, seguindo a linha de indícios que vinha dando desde o Episódio 3. A terrível sequência de exorcismo do Episódio 5 gerou nela um desejo de vingança contra o marido que culminou com o óbvio assassinato, feito de maneira quase ritualística, em uma sequência muito bem dirigida por Anders Engström. A “dúvida” sobre James ter dito ou não para ele matar o marido só coloca em pauta o tempo que isso demoraria para acontecer, porque o homem já estava mesmo com os dias contados.
O outro assassinato é o de Winter, a filha da prostituta Helga. James gostava da menina e ela dele, mesmo com todos os seus mistérios. Ao final do episódio, porém, depois de uma noite de bebedeira, James encontra o corpo de Winter perto do cais, muito próximo de onde ele estava domingo, em meio à lama. A sequência é dirigida com cuidado, tem uma trilha sonora em crescendo, uma fotografia que sugere um falso “bom dia” e a mostra da tragédia feita à distância, com cortes rápidos e um distanciamento quase envergonhado da câmera, que fecha o take em um rápido plongé. James matou ou não matou a menina?
Considerando que uma parte do trato de Delaney com os americanos foi cumprida, é de se esperar que alguma ajuda venha para ele nos dois episódios finais. Ou que ele cobre essa ajuda. Por outro lado, há muitas dúvidas em relação ao passado do personagem, que não deve terminar a temporada como um enigma (pelo menos a parte sugerida desde a estreia); sobre o papel de Lorna nesse enredo todo e sobre como ficará a balança para o trio de poderosos que querem o poder econômico. Se os produtores respeitarem o material de altíssima qualidade que ergueram até aqui, o finale será épico.
Taboo – 1X06: Episode #1.6 (EUA, Reino Unido, 11 de fevereiro de 2017)
Direção: Anders Engström
Roteiro: Chips Hardy, Steven Knight
Elenco: Tom Hardy, Jessie Buckley, Oona Chaplin, Louis Ashbourne Serkis, Leo Bill, Richard Dixon, Tom Durant Pritchard, Christopher Fairbank, Stephen Graham, Tallulah Rose Haddon, Jefferson Hall, David Hayman, Edward Hogg, Tom Hollander, Michael Kelly, Danny Ligairi, Ruby-May Martinwood, Lucian Msamati, Franka Potente, Jonathan Pryce
Duração: 60 min.