Contém spoilers! Confira outras críticas para os outros episódios aqui.
Quando Brace pergunta para James “Todos nós somos parte de um plano, não é, senhor?“, ele estava praticamente dando uma piscadela para o público entender uma parte das intenções da série. Desde o capítulo dois, a saga tem se fortalecido através de um plot de vingança, mas nada clichê. Quase como se quisesse contradizer essa afirmação, vemos aparecer no texto as esperadas brigas palacianas, assassinatos encomendados e busca por monopólio econômico (definitivamente explicitada no episódio anterior), só que nenhum desses caminhos parecem ser os mesmos a que estamos acostumados. A surpresa e a qualidade técnica têm sido os maiores amigos de Taboo.
Agora definitivamente temos a confirmação da linha sobrenatural da série, ponto diante do qual eu ainda não tinha uma opinião formada desde as primeiras sugestões em Shovels and Keys. Soma-se à implacável capacidade de sobrevivência de James — e ao fato dele ser um guerreiro com um passado marcado por canibalismo — o título de feiticeiro, com uma ação de “visita sexual” à meia-irmã que acrescenta outra camada de infâmia ao personagem, que jamais deixa de fascinar o espectador, pelo bem ou pelo mal. Tom Hardy assume o melhor e o pior de seu personagem com a mesma naturalidade, sem apelar para gritos ou mudanças bruscas de construção dramática, um acerto do ator na composição do protagonista, e do roteiro, em fazer com que ele seja ao mesmo tempo alguém a quem temos simpatia e abjeção.
Com a maior presença de Lorna Bow e a tentativa de James em ter todos por perto, amigos e inimigos, vemos que este episódio investe tanto em ataque direto quanto em subterfúgios para esconder verdadeiras intenções. Lorna e os amigos americanos de James são os principais pontos dessa complexa linha de contatos e degraus de vingança que o protagonista precisa lidar e calcar, cedendo e tirando, tomando posse e aparentemente dando escolhas, como ele faz com a meia-irmã Zilpha, cujo corpo/persona se tornou a partir daqui uma brilhante metáfora para a terra de Nootka Sound, intenção narrativa comentada pelo próprio autor em entrevista.
Terra e mulher são disputadas por indivíduos com interesses diferentes e que as tratam de forma diferente. Ambos os lados em guerra têm em comum o fato de não ouvirem os interesses do espaço invadido: Zilpha é estuprada de maneira astral pelo meio-irmão e fisicamente pelo marido, enquanto os nativos de Nootka Sound sequer aparecem para dizer se querem ou não negociar ou fazer parte dos planos do Reino Unido, do Canadá ou dos Estados Unidos. Reparem que algo parecido também se dá em termos de “interesses de Estado” tendo outra mulher em cena: Lorna Bow. Seus favores são requeridos pela Coroa, pela Companhia das Índias e por James, e apesar de ela demonstrar certa independência e força diante dos lados que disputam sua atenção, parece não ter muita saída a não ser cooperar com alguém. Terras e mulheres aqui servem para serem possuídas e darem aos homens em comando o que eles querem. Uma representação precisa de Steven Knight e Emily Ballou para a época, pensamento que infelizmente parece não ter pertencido apenas ao início do século XIX.
A adição de novos personagens à saga, a formação de pequenos “times” de ação — Coroa Britânica, Cia das Índias, James e Americanos — e a aparição e julgamento moral do público para o incesto de James e Zilpha são problemas que devem adicionar novas batalhas e novos obstáculos ao enredo da temporada. Agora que conhecemos a Condessa Musgrove (ou Carlsbad), cuja festa libidinosa corresponde a uma das melhores sequências do episódio, e o químico/cientista maluco Cholmondeley (interpretado pelo excelente Tom Hollander), notamos que Taboo ganha novas possibilidades e espera por mais ação. Uma boa notícia para algo que já estava muito bom.
Taboo – 1X04: Episode #1.4 (EUA, Reino Unido, 28 de janeiro de 2017)
Direção: Kristoffer Nyholm
Roteiro: Steven Knight, Emily Ballou
Elenco: Tom Hardy, Pearl Appleby, Louis Ashbourne Serkis, Leo Bill, Jessie Buckley, Richard Cant, Oona Chaplin, Tim Charles, Richard Dixon, Edward Fox, Stephen Graham, Tallulah Rose Haddon, Marina Hands, David Hayman, Edward Hogg, Tom Hollander, Michael Kelly, Danny Ligairi, Franka Potente, Jonathan Pryce, Fiona Skinner, Jason Watkins
Duração: 56 min.