Os Escravistas traz uma missão de resgate e de defesa bastante intensa protagonizada pelo Surfista Prateado. Em uma linha narrativa, um grupo de alienígenas encontra a sonda Voyager. Após ouvir a mensagem ali gravada pelos humanos, consideram-se convidados à Terra e direcionam-se para ela. Alguns cientistas do planeta azul recebem esses seres de braços abertos, sem saber que os visitantes são na verdade escravizadores com a intenção de capturar milhões de pessoas da Terra para serem usadas como baterias vivas para a nave espacial Enslaver. E é aí que o Surfista Prateado entra em cena, primeiro com uma busca particular, acudindo aos gritos oníricos que ele ouviu de Shalla-Bal; depois com o encontro do prateado com Tnneya e a batalha final com Mrrungo-Mu.
O roteiro de Stan Lee e Keith Pollard não envergonha-se de ser absurdamente ambicioso, e à medida que a aventura avança, passam de um enredo contendo o Surfista e seus tormentos cósmicos para a chegada de Mrrungo-Mu e Companhia à Terra, capturando os Vingadores, os X-Men e mais uma miríade de outros heróis, tirando imediatamente a graça de luta em história até ali, porque mexe com a nossa área de questionamento sobre o esperado contra-ataque. Verdade que num dado momento alguns heróis tentam revidar (Coisa, Namor, Colossus, Mulher-Hulk), mas o momento é curto demais, não compensa a falta de ação dos heróis no momento da captura e força um tipo de condição que, a meu ver, foi um roteirismo fuleiro para dar total crédito ao Surfista e terminar a aventura com uma saudação máxima ao herói da prancha.
E vejam, não é que eu veja essa trama como sendo algo propício para um crossover nem nada do tipo. Tenho por princípio sempre trabalhar com aquilo que os roteiristas entregam e só então questionar ou elogiar o quanto isso faz bem ou mal à saga. Mas analisemos a situação aqui. A colocação de um número enorme de heróis da Marvel sendo capturados sem fazer praticamente nada contra o vilão acaba sendo um verdadeiro insulto e nos faz perguntar por que diabos eles deveriam ser capturados. E sim, é claro que o Surfista merece toda a camaradagem e carinho dados a ele, mas isso teria um peso e um valor bem maior se viesse de uma construção dramática sem forçação de barra, o que não é o caso, infelizmente.
Contudo, a despeito desse pecado de construção, Os Escravistas traz uma premissa e tem um bom número de blocos simplesmente aplaudíveis e divertidos, dentre os quais gostaria de destacar o embate final entre o Surfista Prateado e o conquistador Mrrungo-Mu, além da arte fantástica de Keith Pollard em toda a edição, que recebe a finalização de nada menos que 5 artistas diferentes. Em lutas homéricas como essas, os diálogos e os solilóquios às vezes descem pela ladeira da bobagem egoica e até mesmo do didatismo, o que não ocorre aqui. Apesar do plano do vilão ser clichê, trata-se de um clichê bem aproveitado na graphic novel, com um encadeamento da luta que aproveita bem os momentos de fraqueza dos dois lados, os diferentes estágios e intensidades no uso de poder e, por fim, aquilo que designa o final da luta e suas consequências.
Em Os Escravistas, o Surfista Prateado termina o cansativo dia literal e simbolicamente nas nuvens, recebendo primeiro os altos vivas de um grande número de colegas heróis e, finalmente, tendo sua amada Shalla-Bal ao seu lado.
Surfista Prateado: Os Escravistas (Marvel Graphic Novel #58: The Enslavers) — Estados Unidos, 1990
No Brasil: Graphic Marvel n°14 (Editora Abril, agosto de 1992)
Roteiro: Stan Lee, Keith Pollard
Arte: Keith Pollard
Arte-final: Josef Rubinstein, Jose Marzan, Chris Ivy, Tom Christopher, Jan Anton Harps
Cores: Paul Mounts
Letras: Michael Heisler
Capa: Keith Pollard
Editoria: Bobbie Chase, Gary Barnum
80 páginas