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Crítica | Surfista Prateado #1 a 6: Livre

por Kevin Rick
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Após ter sido punido por Galactus pela sua traição, o Surfista Prateado se encontra preso à Terra por uma barreira cósmica imposta pelo devorador de mundos. É a partir dessa ideia de aprisionamento do personagem, inicialmente físico e posteriormente com camadas emocionais e existenciais, que esta HQ constrói o arco em busca de liberdade em todos os aspectos possíveis de Norrin Radd, nossa querida personificação da Marvel da procura humana pelo significado da vida, do Universo e por propósito em ser.

O cárcere do protagonista é facilmente – de forma hilária – quebrado depois de uma ideia simplista do Coisa, enquanto o Sr. Fantástico e o Surfista passaram um grande tempo quebrando a cabeça com soluções científicas mirabolantes. O rápido rompimento com o problema inicial, além de ser divertido, abre espaço para pegar o tema de liberdade já apresentado e destrinchá-lo para caminhos mais filosóficos e pessoais do Surfista, na clássica maneira que grandes roteiristas escrevem o personagem procurando pelo sentido de “tudo isso”, com a engenhosa adição do conceito de ser livre misturado à procura por conhecimento (aliás, só é livre quem entende, certo?), enquanto propõe uma divertidíssima leitura de viagem cósmica, um paradoxo simbólico da vastidão universal com a trama de enclausuramento psicológico do protagonista.

Surfista Prateado

À medida que a odisseia de aventura cósmica avança, o personagem vai lentamente perdendo suas amarras através de múltiplos contos espaciais, primeiramente de Galactus, da saudade de sua casa e da privação de estar com sua amada Shalla-Bal, contudo, a idealização de felicidade do Surfista é rapidamente destruída pela realidade. Daí entra a narrativa especial de Steve Englehart, navegando na falta de aceitação do personagem, sempre em busca de algo, significado para sua escolhas, propósito no amor e seu papel como Surfista Prateado, e não como Norrin Radd. Aliás, essa problematização de personalidade compõe o ótimo estudo de personagem na segunda metade do arco, no qual vemos o Surfista tão obcecado por ser livre que decide esquecer da sua própria identidade. A “liberdade” do eu para um papel, sendo livre dos lamentos que acompanham sua vida pessoal, afinal, o propósito do Surfista é mais simples e direto, ser o herói, sem se preocupar com as questões que afligem o interior humano.

A inserção de Mantis nas edições finais dão um ótimo toque dramático ao arco do personagem, pois sua sabedoria “natural”, com um divertido pezinho filosófico na fauna e na flora – até me lembrando o “verde” do Monstro do Pântano –  somado ao cósmico do Surfista Prateado, trazem um paralelo interessante do questionamento científico versus a aceitação da ordem natural da vida, além de um gostoso romance espacial. Meu problema com o quadrinho jaz nos antagonistas da narrativa, em menor medida os Elders que fazem seu papel de motor narrativo, porém nada além disso, mas especialmente a guerra Kree X Skrull como pano de fundo de elaboração para o próximo arco, continuamente fragmentando o ritmo da leitura cósmica divertida.

Por fim, Livre é a típica história do Surfista Prateado vagando pelos cosmos em busca de resposta, eternamente procurando liberdade emocional, mental e existencial enquanto cumpre seu papel de protetor espacial. Steve Englehart bebe dos elementos clássicos de Stan Lee e constrói uma série de divertidas aventuras do personagem com a temática da liberdade permeando os questionamentos do protagonista. O desfecho acaba sendo um cliffhanger para um arco posterior, mas cumpre seu papel de expor a negação ao ponto da perda de identidade, e como o Surfista determina seu futuro pelas eternas perguntas da humanidade, nunca sendo verdadeiramente livre.

Surfista Prateado #1 a 6: Livre (Free) — EUA, 1987
No Brasil:
Grandes Heróis Marvel 1ª Série – n°33 (Editora Abril, 1991)
Roteiro: Steve Englehart
Arte: Marshall Rogers
Arte-final: Joe Rubinstein
Cores: Marshall Rogers
Letras: John Workman (#1 a 5), Ken Bruzenak (#6)
Capas: Marshall Rogers, Joe Rubinstein
Editoria: Michael Higgins, Mike Rockwitz
144 páginas

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