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Crítica | Superpato: Tudo Começou Assim… e Outras Histórias

Visitando momentos diferentes da jornada do Superpato.

por Luiz Santiago
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Neste compilado, trago críticas para quatro diferentes aventuras do Superpato, duas da década de 1990 e as outras duas do final dos anos 2010. Dentre essas histórias, duas possuem um caráter “formativo” para o personagem, especialmente o “remake” intitulado Tudo Começou Assim…, que traz um novo ponto de vista para o que tivemos no enredo de estreia do personagem. E aí, você já leu alguma dessas histórias? O que achou delas? Confira as críticas abaixo e deixe o seu comentário ao final da postagem!
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A Crise Financeira

Mais ou menos parecido com o que vimos em O Retorno à Vila Rosa, temos nesta aventura um olhar para o passado do Superpato, que ao capturar um bandido, começa a bater papo e passa a narrar alguns eventos do início de sua carreira, quando ele não tinha dinheiro para financiar as invenções do Professor Pardal e, eventualmente, ficava em apuros, porque a tecnologia para fazer os seus objetos funcionarem era muito cara. Fabio Michelini traz um problema que normalmente a gente não questiona e que normalmente não é abordado nas histórias em quadrinhos de super-heróis — mas que na verdade é uma questão essencial para a gente entender como as estripulias de determinados heróis são possíveis.

E sim, por mais “impossíveis” que sejam as coisas nesses Universos da nona arte, parte desses enredos são escritos sob um parâmetro realista, não é verdade? Assim sendo, é legítimo que cobremos de alguns aspectos das histórias, certas justificativas realistas (ou talvez mágicas, místicas, etc., dependendo do que está sendo narrado). Bem, aqui estamos em uma dessas histórias. Confesso que é estranho a gente ver o Superpato parar a prisão de um bandido para bater papo, mas ao mesmo tempo entendemos a vaidade do personagem e, apesar da estranheza, não é uma postura que eu classificaria como “impossível” ou “incoerente” para o herói de Patópolis. E tirando o começo e o fim da história, que são divertidos, mas um tantinho padrões, o miolo é muito divertido.

A sensação nostálgica vinda do olhar para o passado, a arte de Massimo De Vita, que evoca esses momentos, e a participação do Tio Patinhas nessa jornada para o Superpato conseguir dinheiro me arrancaram boas risadas — há, inclusive, um drama social bem legal em desenvolvimento, falando da cobrança de impostos na cidade, das enormes dívidas da prefeitura e da população chamando o herói de mercenário. É aquele ingrediente de realismo que eu comentei antes e que tem um papel também metalinguístico nessa história, a partir de uma ideia de Huguinho, Zezinho e Luisinho. Nem todo herói vem de um berço de ouro, não é mesmo? E para conseguir ter as coisas que um herói precisa para trabalhar, são necessários certos recursos — não só para conseguir tais objetos mas também para mantê-los. Em A Crise Financeira a gente descobre como, em algum momento, isso acabou funcionando para o Superpato.

Paperinik e la crisi eroico finanziaria — Itália, 12 de dezembro de 1993
Código da História: I TL 1985-A
Publicação original: Topolino (libretto) 1985
Editora original: Mondadori, Disney Italia, Panini Comics
No Brasil: O Pato Donald (Abril) 2083, Disney Big 33
Roteiro: Fabio Michelini
Arte: Massimo De Vita
Capa original: ?
30 páginas

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O Retorno à Vila Rosa

Quando um autor visita lugares antigos e marcantes na linha do tempo de um super-herói, ele tem o prazer de homenagear um legado, mas também carrega a responsabilidade de não atropelar ou invalidar as coisas que a gente já conhece do mocinho naquele ambiente, o que não é algo fácil de conseguir. Em O Retorno à Vila Rosa, de 1996, Fabio Michelini se viu diante dessa proposta e acabou criando algo verdadeiramente incrível para o Superpato, mostrando como a retomada de cenas “onde tudo começou” (em 2019, Marco Gervasio também voltaria o seu olhar para esse ambiente, tendo como foco os reais primeiros passos do personagem) poderia gerar uma saga cheia de novidades para o leitor e, ao mesmo tempo, brincar com elementos que a gente já conhece de outros momentos do herói de Patópolis.

Até a mola narrativa para a história é interessante, justificando, inclusive, um comportamento raro do Tio Patinhas, que topa gastar muita grana só para tirar de seu inimigo Patacôncio a possibilidade de se tornar proprietário de um terreno. O roteiro, porém, não se contenta com o óbvio. Tanto o lado do quaquilionário quanto o lado do super-herói traz uma intenção escondida, revelada apenas quando um acredita que superou o outro… para logo em seguida a narrativa entrar em uma diálogo que mostra a inteligência do Superpato na hora de arquitetar os seus planos malignos. É muito legal perceber o quanto Donald muda quando está vestindo o manto. Seu olhar para as coisas, sua inteligência, sagacidade e reação rápida a situações de crise se aprimoram: basicamente tudo aquilo que a força do ódio é capaz!

Aqui também temos a primeira aparição de um oficial da polícia chamado Inspetor Pinko, Vulgo Palito (paródia do Inspetor Ginko, de Diabolik, mas com características físicas muito diferentes do personagem original), que persegue implacavelmente o Superpato, forçando o herói a utilizar-se de um bom número de métodos para se safar. Estes são alguns dos momentos mais divertidos da história, não só porque é muito bom quando nos deparamos com um antagonista que faz jus ao protagonista, mas porque esse tipo de personagem força o herói a mostrar muito mais de sua capacidade. O que torna essa narrativa bastante dinâmica é tanto a fantástica arte de Giovan Battista Carpi quanto essas perseguições entre polícia e herói ou as muitas correrias dos personagens, cada grupo com um interesse diferente e fingindo alguma coisa para conseguir o que quer.

O Retorno à Vila Rosa é uma daquelas histórias importantes para o “cânone” do personagem (e coloco “cânone” entre aspas porque, a rigor, as histórias da Disney não possuem cronologia fixa nem nada, mas qualquer pessoa que já leu pelo menos meia dúzia de quadrinhos desse Universo sabe que existe uma certa “atmosfera imutável” em relação a alguns personagens, e núcleos); uma daquelas tramas que fazem a gente entender um pouco mais do passado, permitindo-nos identificar o momento em que certas coisas foram criadas ou tiveram as sementes plantadas para algo que seria grande no futuro. Realmente imperdível.

Paperinik e il ritorno a Villa Rosa — Itália, 17 de setembro de 1996
Código da História: I TL 2129-1P
Publicação original: Topolino (libretto) 2129 – 2130
Editora original: Mondadori, Disney Italia, Panini Comics
No Brasil: Aventuras Disney 22 (Editora Abril),  Disney Big 19
Roteiro: Fabio Michelini
Arte: Giovan Battista Carpi
Capa original: Marco Ghiglione (arte) e Stefano Attardi (cores na edição 2130)
53 páginas

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O Azarraio

Numa noite normal de patrulha, o Superpato cai na besteira de dizer que estava achando Patópolis “calma demais”. Pobre Superpato! É nesse momento que ele se encontra com o Azarraio (The Jinxer, no original), um vilão capaz de fazer com que as armas e os outros objetos do herói parem de funcionar. Tanto o primeiro encontro entre os dois quanto o comportamento do vilão são muito engraçados e deixam o Superpato cada vez mais prostrado, porque não consegue encontrar um jeito de derrotar o novo inimigo. Aqui também vale um grande destaque para a arte de Andrea Freccero, que concebeu um design de aparência super tecnológica para Azarraio, que é bem magrinho, tem uma máscara à la Ciclope e porta aparelhos que indicam que ele é um grande inventor — ou que se apropria das criações de um grande inventor.

O roteiro de Byron Erickson divide a trama em diferentes atos de ação, ou seja, cada batalha entre Superpato e Azarraio representa um ponto de destaque no enredo, seguido de conversas desesperadas com o Professor Pardal e, ao fim, uma ideia que procura lutar com a mesma arma que o vilão utiliza: o azar contra a sorte. É aí que Gastão entra em cena, com direito a um flashback sobre Fantomius e tudo. O caminho final da saga, com a sorte lançada e a batalha das consequências aleatórias entre os inimigos não é tão interessante quanto a trama prometia, mas cumpre o seu papel cômico e, com a prisão do bandido, abre as portas para o retorno de mais um inimigo notável do grande herói de Patópolis.

Superpato / Duck Avenger / Stålanden: O Azarraio (Ulykkesfuglen) — Dinamarca, 8 de outubro de 2018
Código da História: D 2017-001
Publicação original: Jumbobog nº 470
Editora original: Egmont Serieforlaget
No Brasil: Aventuras Disney 0 e Disney English Comics 1 (Culturama)
Roteiro: Byron Erickson
Arte: Andrea Freccero
Capa original: Andrea Freccero
28 páginas

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Tudo Começou Assim…

Tudo Começou Assim… é o tipo de história que sempre me chamou a atenção: uma revisita a uma trama clássica — a saber, à primeiríssima aventura do Superpato, O Diabólico Vingador — só que agora tomando um outro ponto de vista, o de alguém que, na verdade, está por trás de tudo, observando o que está acontecendo e guiando os passos de Donald em sua primeira aventura como o pato vingativo e cínico que, com o passar do tempo, se tornaria um herói de verdade para Patópolis. É fascinante ver a figura de Fantomius aqui, tornando as coisas mais fáceis para o seu sucessor e assegurando-se de que não haveria nenhuma desistência. A arte e o roteiro de Marco Gervasio explora com bastante humor todos os espaços da história clássica, mas traz novidades sempre que relaciona alguma cena à presença ou ação direta de Fantomius.

Claro que a sensação de repetição chega a incomodar um pouco em dado momento da leitura, porque não estamos falando de uma varredura completa na mudança dos ângulos — e para mim, a primeira história do Superpato ficou tão grudada na memória, que a sensação de repetição se tornou ainda mais forte. Talvez para leitores mais esquecidos, que leram há muito tempo ou perderam certos detalhes do original, esse tipo de sensação não apareça em Tudo Começou Assim… De todo modo, é impossível ignorar a surpresa que essa trama nos traz, além de seu caráter metalinguístico (algo sempre gostoso de se ver em uma obra de arte), mostrando que ainda há muita coisa a ser descoberta, mesmo em situações sobre as quais a gente já imaginava saber tudo.

Tudo Começou Assim… (Paperinik, tutto cominciò così) — Itália, 12 de junho de 2019
Código da História: I TL 3316-1
Publicação original: Topolino (libretto) 3316
Editora original: Mondadori, Disney Italia, Panini Comics
No Brasil: O Grande Almanaque Disney 2 (Culturama)
Roteiro: Marco Gervasio
Arte: Marco Gervasio
Capa original: Marco Gervasio
26 páginas

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