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Crítica | Superpato, o Diabólico Vingador

A primeira história do Superpato!

por Luiz Santiago
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Quando pensamos no Pato Donald, existe uma série de características que logo nos vem à mente, como a sua personalidade atrapalhada e irritadiça, suas constantes brigas com o Tio Patinhas, sua relação sempre agitada com os sobrinhos Huguinho, Zezinho e Luisinho, seu amor sempre questionado pela Margarida e sua vontade de descontar a raiva em alguém ou alguma coisa, embora isso não dê muito certo. E é quando pensamos no Superpato, o herói que Donald vai virar (embora no início ele seja um anti-herói), que vemos uma catarse do personagem para todas as humilhações sofridas, para todo o ódio acumulado, para todas as frustrações de seu dia a dia. Trata-se de um personagem que consegue ser muito diferente do Donald, em suas primeiras aventuras, e que age com um único objetivo: obter vingança. O título de sua primeira história, O Diabólico Vingador, deixa isso bem claro e é bastante preciso em sua descrição.

A origem para esse personagem é interessantíssima, porque é uma colcha de retalhos cultural. Tudo começou com uma ideia de Elisa Penna, a editora da Revista Topolino à época. Vendo o sucesso que as paródias cômicas de Diabolik faziam na Itália, ela sugeriu ao roteirista Guido Martina que colocasse no papel uma versão dessa brincadeira com o Donald (que na Itália se chama Paperino, e que em sua versão anti-heroica viraria Paperinik), adicionando a esta seminal referência ao personagem de Angela e Luciana Giussani, elementos de Batman e apetrechos à la James Bond. Mas não para por aí. O Superpato é, na verdade, o herdeiro de um manto que já existia, só que era vestido por um personagem com outro nome. Nos anos 1920, havia em Patópolis um misterioso herói que “roubava dos ricos para dar aos pobres“, um “ladrão cavalheiro“. E o nome desse heróis era Fantomius, que tem a sua própria base de referências, tendo sido uma mescla de Fantômas (no nome), Robin Hood (em boa parte das atitudes) e Arsène Lupin (na elegância e inteligência).

Com tantas brincadeiras diante desse nicho de histórias sombrias que envolvem crimes, investigação, super-heróis ou personagens com algum caráter socialmente cobiçado, Guido Martina deitou e rolou, criando um personagem que mantém certas nuances da “face civil” de seu alter ego, mas que essencialmente se transforma em outra pessoa. Na história, vemos que Donald está mais alterado que o normal desde o começo, quando se dá conta de que a Vila que jurava piamente ser sua, na verdade pertencia ao Gastão: o carteiro apenas errara o endereço. Isso só contribui para a onda de azar, humilhações e raivas que Donald vai tendo ao longo da saga, de modo que quando ele descobre o diário de Fantomius, os segredos da Vila Rosa (refúgio do antigo herói) e a existência de um uniforme que protegeria a sua identidade, é como se fosse um convite dos céus para lutar contra tudo aquilo que estava acontecendo com ele.

Em suas primeiras aventuras, esse lado vingativo, malvado e anti-heroico do Superpato é a tônica de todas as histórias, mas pouco a pouco ele vai tendo o seu alinhamento moral alterado, até virar um herói de verdade para Patópolis. Aqui em O Diabólico Vingador, a raiva cega Donald, assim como o seu ego e a sua vontade de esconder o que fez (ter roubado o colchão de Patinhas) falam mais alto que tudo. A trama é construída de forma muito interessante, criando vários momentos de tensão que são cortados por uma comédia ácida que, a cada bloco, dá lugar para as já esperadas cenas pastelão. As brigas entre Donald e Gastão reforçam ainda mais a motivação do mascarado para sair “cometendo maldades“, e o sorriso que vemos Donald esboçar, nos quadros finais, acompanhado de uma frase quase vilanesca, oficializam esse seu lado macabro.

Superpato, o Diabólico Vingador é o início de uma jornada de grande sucesso para um personagem que nasceu de uma brincadeira, de uma piada com diversos outros personagens, e se tornou um ícone para várias gerações. No fundo, é o mascarado que representa o leitor comum, tornando real os sonhos de vingança que a maioria das pessoas deixam apenas no pensamento.

Superpato, o Diabólico Vingador (Paperinik il diabolico vendicatore) — Itália, 8 de junho de 1969
Código da História: I TL  706-AP
Publicação original: Topolino (Libretto) #706
Editora original: Mondadori
No Brasil: Almanaque Disney 27, Almanaque do Superpato 1, Edição de Luxo 3, Superpato 40 Anos, Superpato: O Legado 1, Lendas Disney 1 (Editora Abril)
Roteiro: Elisa Penna (ideia), Guido Martina (roteiro)
Arte: Giovan Battista Carpi
Capa original: ?
60 páginas

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