Número de temporadas: 15
Número de episódios: 327
Período de exibição: 13 de setembro de 2005 a 19 de novembro de 2020
Há continuação ou reboot?: Sim, há Ghostfacers, websérie spin-off de 11 episódios que foi ao ar entre 15 de abril de 2010 e 11 de outubro de 2011 e a série animada Supernatural: The Anime Series de 22 episódios que foi ao ar em 2011, no Japão. Além disso, no momento de publicação da presente crítica, a CW aprovou a série prelúdio The Winchesters, focada nos pais dos protagonistas, que deve estrear ainda em 2022.
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Foram tantos os comentários sobre Supernatural nas caixas de diálogo das críticas de The Boys que acabei curioso para checar a longeva série criada por Eric Kripke para a CW que, por incrível que pareça, não tinha assistido sequer um segundo antes da conferência do episódio piloto para a elaboração da presente crítica e que eu sei que tem uma legião de fãs por aí. Sucessora espiritual de Buffy: A Caça-Vampiros, Supernatural lida basicamente com a mesma premissa, ou seja, os jovens irmãos Dean (Jensen Ackles) e Sam Winchester (Jared Padalecki) são exterminadores de criaturas sobrenaturais exatamente com Buffy a julgar somente pelos respectivos episódios iniciais antes que me venham fãs que não compreendem a natureza da coluna Plano Piloto apesar da caixa retangular azul bem abaixo da imagem.
A grande diferença é que Supernatural tem, ao que tudo indica, uma pegada consideravelmente mais sombria com uma sequência inicial passada há 22 anos que estabelece eficientemente seu tom: Mary Winchester (Samantha Smith) é aparentemente morta pelo fogo do inferno no teto do quarto em que o pequeno Sam tenta dormir, com o pai John (Jeffrey Dean Morgan) salvando as duas crianças. Sem dar muito tempo para o espectador ruminar sobre o acontecido, o episódio pula 22 anos a frente, com Sam já crescido, estudando em Stanford e namorando a bela Jessica (Adrianne Palicki) e prestes a ter uma entrevista importante para sua carreira profissional. No entanto, eis que ele recebe uma visita de seu irmão mais velho Dean que pede sua ajuda para investigar o paradeiro do pai que sumira há três semanas em uma de suas caçadas de criaturas sobrenaturais com o objetivo de vingar a “morte” da esposa.
Esses 10 minutos iniciais do piloto são muito mais relevantes e interessantes do que tudo o que acontece nos outros 30. Afinal, temos, aqui, uma quase que instantânea construção de universo, com Kripke criando uma bolha narrativa que, não tenho dúvida alguma, ele desenvolveria em detalhes, preenchendo os espaços em branco ao longo dos cinco anos em que ficou à frente da série – e dizem, por aí, ele entregou um final que deveria ter sido o efetivo final -, espaços esses que dão conta da exata natureza de John e Mary Winchester, o porquê da morte flamejante dela no começo (e de Jessica, da mesma forma, ao final), o treinamento dos irmãos pelo pai nessas duas décadas de elipse temporal e assim por diante.
Afinal, o “caso da semana” escolhido para inaugurar a série, que dá conta da lenda da “Mulher de Branco” (Sarah Shahi), um espírito vingativo que liquida homens adúlteros, é apenas “ok”, ou seja não tem nada realmente de especial nele que mereça maiores comentários, especialmente porque a resolução do drama é frustrantemente simples demais. Claro que o caso é apenas uma desculpa para o piloto fazer o que realmente precisa fazer, que é estabelecer a relação entre os irmãos – Sam, o certinho versus Dean, o durão – e mergulhar um pouco mais, mas não muito, no mistério do desaparecimento do pai, além de claro, criar as condições para que os dois, ao final, se unam de vez como caça-assombrações vagando pelos EUA no terceiro (mas não menos importante) personagem da série, o belíssimo Chevy Impala 1967 preto de Dean.
Ackles e Padalecki têm boa química imediata, ainda que o maniqueísmo do roteiro ao lidar com suas características, acabem tornando-os consideravelmente fungíveis aqui depois dos cinco primeiros minutos. Além disso, em nenhum momento a dupla consegue alcançar o magnetismo da então inexperiente Sarah Michelle Gellar, em Buffy, talvez justamente pela velocidade com que tudo acontece e com a contenção do episódio entre apenas eles dois. Posso presumir, porém, sendo um pouco menos cínico do que de costume, que, na medida em que a série avança, os dois atores conseguiram encontrar um bom ponto de equilíbrio para seus um tanto quanto rasteiros personagens.
O episódio piloto de Supernatural faz tudo o que precisava fazer em termos de construção de universo em seus primeiros sombrios 10 minutos. O restante é apenas protocolar, sem maiores arroubos criativos, objetivando, apenas, estabelecer o protagonismo dos irmãos caçadores de criaturas sobrenaturais. A estratégia de Kripke funciona, pois instiga no começo, mantendo o meio no ponto morto e no piloto automático, algo provavelmente ditado pela economia de orçamento, e volta a instigar no fim, o que deixa o espectador razoavelmente curioso pela jornada dos irmãos atrás de seu pai.
Supernatural – 1X01: Piloto (EUA, 13 de setembro de 2005)
Criação: Eric Kripke
Direção: David Nutter
Roteiro: Eric Kripke
Elenco: Jared Padalecki, Jensen Ackles, Jeffrey Dean Morgan, Samantha Smith, Adrianne Palicki, Sarah Shahi
Duração: 43 min.