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Crítica | Superman: Lois & Clark

por Pedro Cunha
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Clark Kent é o maior herói de todos os tempos, além de ser o primeiro, Superman é a síntese desse gênero. Não saindo do padrão, o azulão também tem o seu arqui-inimigo, mas, diferente do confessional, o vilão do escoteiro não é um personagem, ele é real. Os roteiristas, com toda a certeza, são os maiores vilões de toda a história do personagem. Mas por que isso acontece? Já vimos Superman passar por coisas absurdas, desde a antiga fase em que o herói tinha poderes elétricos, depois presenciamos a divisão dele em duas personalidades, azul e vermelha. Até a mais recente versão Clark de cabelo raspado, motoqueiro, de calça jeans e de camiseta. Tudo isso mostra o quão os roteiristas, e a própria DC Comics tem dificuldade em lidar com a personalidade do personagem.

Todos esses erros se devem à complexidade de lidar com a síntese do herói, ele é um ser que pode fazer tudo, é forte e tem todos os poderes que alguém já desejou ter. Fica ainda mais difícil quando olhamos para Clark, a identidade secreta do herói mostra muito sobre a sua psiquê. É no jornalista, que vemos que o maior poder do Superman não é voar ou ter visão de raio laser, mas sim ser bom e isso acaba complicando a vida não só dele, mas também de todas as pessoas que vão escrever um título do herói.

Quando consumimos uma obra, gostamos de receber algo que nos represente, mas que também faça aquilo que não podemos fazer. Talvez seja por isso que os anti-heróis como Wolverine, Lobo, Deadpool e muitos outros fazem tanto sucesso ultimamente. Quando o público olha para Kal-El, vê um ser que não gera identificação alguma. Primeiro pelo seu poder, nada o supera e segundo (talvez o que mais afaste as pessoas do personagem), mesmo com todo essa força, ele continua incorruptível e bom… para nós, isso não existe!

Em tempos nebulosos, em que a DC não ia muito bem de vendas e que o clássico da editora não era respeitado pela própria mãe dos heróis. Surge Superman: Lois e Clark, nas edições americanas, o quadrinho tinha o selo “Road to Rebirth”, e é exatamente isso que a HQ é. Se você acompanha a nova fase da editora já deve saber que o Renascimento é a retomada da editora para a sua antiga forma. Tudo que ela deixou de lado durante os 52, foi readmitido aqui.

A DC mudou com essa nova linha, não apenas em suas HQs mas também sua forma de agir, dando assim, mais liberdade artística para autores e diminuindo severamente o numero de títulos publicados semanalmente, focando a atenção para o pequeno número de quadrinhos.

Em Lois e Clark acompanhamos o Superman pós-crise junto de sua família, Lois e o filho Jonathan. Pertencentes a uma Terra que morreu, os Kent tentam construir uma vida aqui na nossa terra. Todavia, já existe uma Lois e um Clark, isso faz com que eles vivam reclusos, a jornalista acaba agindo de forma anônima e o herói azulado, não usa azul, e sim preto.

Diferente do inexperiente Superman dos Novos 52, Clark é tudo aquilo que já conhecíamos. Vemos um herói que sabe quem é e como deve agir em todas as situações. O design escolhido para o personagem também ajuda para essa construção, a barba e a roupa já mostram logo de cara que, esse não é o protagonista que estávamos vendo durante os últimos anos.

Lois e Jonathan também são personagens muito bem trabalhados na HQ, o menino dá um motivo e uma humanidade para o herói e ela, é tão importante para a construção da trama, que acaba até dividindo não só o nome, mas também o protagonismo da serie. Isso mostra o quão forte e bem definida é a jornalista, com toda a certeza ela é peça fundamental na mitologia do azulão.

O time criativo também é uma grande escolha para esse quadrinho, principalmente no roteiro, Dan Jurgens, o responsável por um dos títulos mais aclamados do herói, A Morte do Superman. O autor é alguém que conhece Clark, e aqui soube lidar muito bem com esse novo conflito do personagem: ser um pai. O que poderia ser uma barriga no roteiro, vira algo muito interessante, Jonathan é o que Kent era, um menino perdido, que começou a ver que é diferente e não sabe o por que. Ver Kal-El fazendo aquilo que seu pai fez com ele quando menor é simplesmente, emocionante.

A arte varia muito durante as 196 páginas, isso devido ao grande numero de desenhistas. Temos aqui Lee Weeks, Marcos Santucci, Neil Edwards e Stephen Segovia, quatro artistas são cozinheiros demais para um único fogão. Porém, mesmo variando muito, não vemos algo ruim, temos uma boa disposição de quadros, uma continuidade que não erra e posições e traços muito bem trabalhadas durante todo o quadrinho.

Com uma arte boa e um roteiro muito bem resolvido, Lois e Clark é um quadrinho que tem uma qualidade que tínhamos deixado de ver nos títulos do Superman. Fazendo as escolhas certas, a estrada para o Renascimento é muito promissora. Dan Jurgens consegue emular muito bem as características não só de Kal-El, mas também de Lois e até mesmo de Jonathan. Toda essa amálgama de fatores, nos entrega uma HQ cheia de ação e aventura, mas que é sobretudo um quadrinho delicado e é só com delicadeza que se entende o maior herói de todos os tempos.

Superman: Lois e Clark — EUA, 2015
Roteiro: Dan Jurgens
Arte: Lee Weeks, Marcos Santucci, Neil Edwards, Stephen Segovia
Cores: Brad Anderson, Jeremy Cox
Letras: Daniel De Rosa
Editora original: DC Comics
Datas originais de publicação: 2015
Editora no Brasil: Panini Comics
Páginas: 196 páginas.

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