Home TVEpisódio Crítica | Superman & Lois – 4X10: Passou Muito Rápido

Crítica | Superman & Lois – 4X10: Passou Muito Rápido

Uma emocionante despedida.

por Ritter Fan
39 views

  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Independente dos aspectos negativos sobre o episódio final de Superman & Lois que abordarei mais a frente, minha sensação, quando a série terminou, foi semelhante à que senti ao término de Agents of S.H.I.E.L.D., ou seja, tristeza pelo fim, claro, mas, ao mesmo tempo, alegria e satisfação pela convicção de ter assistido uma série memorável em seu gênero que, exatamente como a que foi comandada por Jed Whedon, Maurissa Tancharoen e Jeffrey Bell, marca o fim de uma era, especificamente a era das adaptações dos super-heróis da DC Comics pela The CW que, sem dúvida alguma, resultou em muitas porcarias (Arrow, estou falando com você), mas que, no final das contas, acabou representando o mais estável e consistente dos universos compartilhados baseados nessas propriedades. Com Passou Muito Rápido, Todd Helbing corajosamente encerra uma das melhores encarnações do Superman e entrega ao espectador uma despedida redonda, cativante e emocionante.

Em minha crítica de Homem Bem Vestido, afirmei que gostaria muito que showrunner tivesse a coragem de não curar o Superman e que o mostrasse aposentado e envelhecendo ao lado de Lois Lane depois de passar o bastão de guardião da Terra para seus filhos. Queria que Helbing repetisse, com o Superman, o que ele fez com o divórcio de Lana e Kyle, com os distúrbios mentais de Sarah e, principalmente, com a doença de Lois, ou seja, abordar a questão de peito aberto, prezando pelo realismo e pela lógica interna da série. Obviamente, porém, que, lá no fundo, receava que ele escolhesse outro caminho, algo que confesso que entenderia perfeitamente, mas não poderia ter ficado mais feliz quando, depois que a ação do episódio acaba, aprendemos que Superman vive por mais 32 anos ao lado de Lois, deixa seu legado super-heróico para os filhos e para a dupla Irons, funda uma ONG, vê seus filhos crescerem, casarem e terem seus próprios filhos (uma ninhada, na verdade!), vê Lois falecer ao seu lado em razão do retorno do câncer, adota um cachorro que ele batiza de Krypto e, depois, ele próprio morre novamente – em definitivo, dessa vez – ao lado de Jon e Jordan.

Todd Helbing não entregou o que eu queria, mas sim MUITO MAIS do que eu queria, muito mais do que eu poderia imaginar e muito mais do que alguém jamais fez com o Superman na história do personagem no audiovisual. Aqui, o showrunner revelou-se como alguém que não só é corajoso, mas sim uma pessoa que não parece ter nenhum tipo de amarras com quem o que quer que seja, conduzindo sua criação pelos bons e maus momentos com altivez e a certeza de que está fazendo algo de valor, algo que agrega, algo que desafia o espectador. Eu disse várias vezes ao longo de minhas críticas dos episódios da série e vou repetir aqui com ainda mais vigor e certeza: desde 1978 que eu não vejo uma mente criativa elevar o man tão acima do super quando trabalha com o Superman. E que fique claro que Helbing não matou o Superman. Ao contrário, ele deu nova vida ao personagem, vida essa que merece aplausos.

Confesso que não tenho nada mais a dizer sobre isso além de me sentir agradecido pelo que Helbing fez aqui com um herói que, ironicamente, apesar de eu ter crescido lendo grande parte do que foi publicado com ele ao longo das últimas várias décadas, nunca fui um real fã (na verdade, quando jovem, eu lia as histórias do Superman por último, de má vontade até), mas que sempre tive o primeiro filme de Richard Donner na mais alta conta – até hoje o melhor filme de super-heróis em minha lista – e que, agora, tenho essa série para colocar talvez não na categoria de “melhor”, mas certamente na de minhas preferências no gênero como acontece com a já citada AoS. Se Donner, por intermédio de Christopher Reeve realmente me fez acreditar que um homem pode voar, como dizia o slogan da época, e que Clark Kent e Superman são mesmo duas pessoas diferentes, Helbing, por intermédio de Tyler Hoechlin, me fez acreditar que um personagem tão difícil de ser adaptado para o audiovisual pode surpreender.

Sei que comecei pelo fim – ou quase o fim -, mas era inevitável aqui, até porque as sequências de ação que, pela primeira vez na temporada, esgarçaram completamente o orçamento para a computação gráfica, levando a alguns momentos “estranhos” que, porém, eu não ligo muito, são bem menos interessantes do que a passagem temporal que vai até a morte do Superman. Mas isso não quer dizer que elas sejam ruins. Ao contrário até, a maneira com que o roteiro encontrou para lidar com Apocalypse – depois de um belo trabalho de equipe com os Super Gêmeos, Aço, Lana e Lois – foi muito curiosa e, diria, até provocadora, já que eu vi ali (mas posso estar ficando doido) duas homenagens que podem ser cutucadas – ou vice-versa – às duas mais polêmicas sequências de O Homem de Aço, de Zack Snyder, o gesto de “pare” de Papa Kent para Clark repetido por um monstro que por alguns segundos recobra sua humanidade e se entrega ao único destino possível, e o assassinato do General Zod por Superman, aqui na forma de um suave, até melancólico, empurrão do Superman em Apocalypse para levá-lo mais próximo ao sol, desintegrando-o, mostrando que sim, o Superman “mata”, mas que isso só acontece quando realmente todos os outros caminhos foram esgotados. No lado de Lex Luthor, o combate foi mais básico, com a cereja no bolo tendo sido mesmo sua transformação em uma “boa cadeira” por Bruno Mannheim, talvez a melhor manifestação do ditado Klingon que diz que a vingança é um prato que se come frio.

Mas eu abri essa crítica afirmando que havia aspectos negativos no episódio e eu não menti. Claro que, a essa altura do campeonato, todo mundo já sabe do que vou “reclamar”, pois, quando o espírito de Clark saiu de seu corpo, eu fiquei imediatamente tenso, torcendo para que aquilo ali fosse algo de dois ou três segundos, com ele vendo Lois e os dois “desaparecendo” juntos, mas não. A cada segundo que a narração lacrimejante e forçada continuava e o Clark etéreo na versão jovem ia cumprimentando pessoas que estavam ainda vivas também em suas versões “jovens”, incluindo Krypto, meu “sentido de breguice” (sim, semelhante ao do Homem-Aranha, só que inútil) apitava mais forte, com as sirenes já no máximo na medida em que a sequência simplesmente continuava, continuava, continuava até os filhos abrirem a porta para a Lois com seu vestido vermelho. Enquanto tudo até o momento em que o espírito de Clark aparece tinha sido emocionante, o que veio depois foi narrativamente redundante e desesperadamente incômodo ou, para usar expressão “jovem”, totalmente cringe. Mesmo entendendo que Helbing obviamente se empolgou ali, eu esperava comedimento, pois toda a sequência que aborda os 32 anos de sobrevida de Clark havia sido irretocável e esse epílogo “feliz, fofo, colorido” (e assustador…) foi como um albatroz tentando pousar. Deu vontade de gritar para a tela algo como “não, não, para aí, para aí, POR FAVOR”, mas tudo o que pude fazer foi acompanhar essa cafonice volume 11 completamente paralisado, boquiaberto, tentando não esconder a cabeça entre as almofadas…

Mesmo com esse tropeço que classifico como tendo sido feito com todas as boas intenções do mundo (aquelas que enchem o inferno, sabem?), sim, Superman & Lois passou mesmo muito rápido. Mas a série deixou sua marca, adaptando o Superman e sua mitologia como nunca antes feito, com coragem, com compreensão profunda dos alicerces humanos do personagem e, sobretudo, com inteligência diante das adversidades e obstáculos que a produção precisou enfrentar a ponto de ter elevado o sarrafo moderno pelo qual futuras adaptações do Homem de Aço serão medidas. Superman & Lois passou rápido demais, verdade, mas o que fica é um sorriso, talvez até uma lágrima no rosto do espectador e aquela gostosa sensação de ter visto algo que pode não ser a melhor série na história das séries e nem mesmo a melhor série em seu gênero, mas que foi feito com doses generosas de carinho por todos os envolvidos. O que mais podemos querer, não é mesmo?

P.s.: James Gunn, a bola, agora, está com você. Não vai nos decepcionar, hein?

Superman & Lois – 4X10: Passou Muito Rápido (Superman & Lois – 4X10: It Went By So Fast – EUA, 02 de dezembro de 2024)
Data de exibição no Brasil: 12 de dezembro de 2024
Showrunner: Todd Helbing
Direção: Gregory Smith
Roteiro: Brent Fletcher, Todd Helbing
Elenco: Tyler Hoechlin, Elizabeth Tulloch, Alex Garfin, Michael Bishop, Michael Cudlitz, Erik Valdez, Inde Navarrette, Wolé Parks, Tayler Buck, Sofia Hasmik, Chad L. Coleman, Dylan Walsh, Emmanuelle Chriqui, Yvonne Chapman, Nikolai Witschl, Paul Lazenby, David Giuntoli, Dominic Fugere
Duração: 43 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais