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Crítica | Superman & Lois – 3X11: Complications

Desgraça pouca é bobagem.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Eu jamais entraria em um jogo de pôquer com Todd Helbing, pois eu apostaria no seguro ou no quase seguro e ele não só apostaria no menos provável, como mandaria ver um all-in daqueles de quebrar a banca, tudo enquanto mantém seu semblante quase que completamente impassível, apenas com um leve sorriso de canto de boca somente quebrado pelos momentos em que degusta seu martini que, se duvidar, é batido, não mexido. Complications é a grande jogada final de mestre do showrunner em Superman & Lois independente do que aconteça nos dois episódios finais ou até mesmo na finalmente autorizada – mas encurtada e “deselencada” – quarta temporada que, ao que tudo indica, será a última.

Afinal, esse episódio poderia muito bem encerrar a temporada e até a série toda, já que aquele epílogo que revela que o Superman Bizarro está vivo e raivoso (alguém tinha alguma dúvida disso?) parece o começo de um novo ano, ainda que, a essa altura do campeonato, eu não duvide da capacidade de Helbing de costurar mesmo isso à linha narrativa principal, ainda que ela, para todos os efeitos, pudesse ser considerada como acabada. Enquanto esperamos para ver como será o final efetivo, porém, esse final aqui é exemplar, em que não só o showrunner se recusa terminantemente a seguir o caminho mais viajado, não só fazendo com que a mastectomia dupla de Lois Lane siga em frente de acordo com o planejado, como acrescentando a abordagem da depressão com tendência suicida de Sarah para engrossar ainda mais esse caldo.

Sobre o lado de Lois, o que marca é a sobriedade e a solenidade do momento. Sim, é bem verdade que, como pano de fundo, temos Peia nos estertores de sua doença e do descontrole de seus poderes, mas os tremores e o breve blecaute, somados ao ataque de pânico de Jordan que aciona sua visão de raio-x, não tomam a frente do coração desse drama. Ver uma personagem tão importante da cultura pop passar por um procedimento radical – mas infelizmente tão comum – como esse é como encontrar uma pepita de ouro na praia. São raros, muito raros momentos equivalentes a esse nos quadrinhos mainstream e são ainda mais raros em uma série de TV do gênero de super-heróis (especialmente da CW!), que naturalmente mira no público médio que, por ser médio (sem julgamento, gente, é apenas um fato), espera por muita pancadaria e pouco drama. E todo o elenco, com destaque, claro, à Elizabeth Tulloch e Tyler Hoechlin, está à altura da empreitada, emprestando seus melhores semblantes graves e silenciosos que, porém, falam muito.

Até mesmo o drama da família Mannheim ganha uma fascinante sobriedade. Seja Natalie, sofrendo por seu namorado, tentando conectar-se com ele, seja Bruno vendo seu sonho desmoronar quando Peia começa a mais uma vez deteriorar-se, tudo funciona extremamente bem. Até mesmo as interferências de Aço e do Superman são aulas de como trazer elementos super-poderosos a uma sequência em que a morte de uma esposa e uma mãe – ecoando o que poderia acontecer com Lois sem o tratamento – imperam e tomam de assalto toda a estrutura do episódio. Poucas vezes sofri com o destino de vilões como sofri com a morte (no final heroica, com Superman sendo apenas o veículo) de Peia e a dor visível no semblante de seu marido que, ao final, sem forças e sem razão para lutar, só pede clemência para seu filho e que John Henry cuide dele.

Mas, como para Helbing, pelo visto, desgraça pouca é bobagem, ele costura esses belíssimos momentos com outra abordagem delicada, a da depressão de Sarah, replicando na ficção algo que acontece em quantidades cada vez mais alarmantes no mundo real, especialmente em jovens como a personagem. Sempre ouvimos falar da tentativa de suicídio de Sarah que ocorreu antes de a série começar e isso sempre se manteve vivo por trás das histórias, ainda que em uma espécie de estase. Agora, o assunto vem com força à tona e, se, puxarmos um fio narrativo para trás sobre tudo o que gravita ao redor de Sarah, é possível perceber o cuidado do showrunner em chegar a esse ponto aqui, como se tudo tivesse sido planejado desde o começo, e obviamente foi, mas que só conseguimos constatar em retrospecto. A reação desesperada e emergencial de Lana e de Kyle, este esquecendo tudo o que vinha ocorrendo com ele há pouco tempo em razão da revelação de quem Clark Kent verdadeiramente é, é um primor que festeja tudo o que mães e pais devem ser.

Confesso que, lá no fundo, não gostei muito da velocidade e relativa facilidade com que o assunto é “resolvido”, ainda que o que Kyle diz para a filha, que o caminho que ela tem pela frente é longo e doloroso, deixe bem claro que o roteiro não está nem de longe brincando com a seriedade que o assunto merece. Eu apenas acho que isso poderia ter vindo antes de maneira que Sarah ganhasse seu destaque e seu momento de virada com um pouco mais de calma, sem que um aparentemente simples discurso do pai falando de seu alcoolismo e seu fundo do poço, funcionasse como o proverbial estalar de dedos que transforma Sarah em garçonete de maneira que ela comece a encontrar uma razão para ser. Por outro lado, entendo essa escolha da produção e não tenho como colocar esse meu incômodo como um empecilho para um episódio desse nível.

Complications, portanto, parece ser o ponto alto da temporada, o momento em que todas as cartadas e apostas de Helbing ganham perspectiva e se beneficiam do contexto criado para uma convergência corajosa e exemplar em todas as frentes. Se eu gostaria que a temporada acabasse aqui? Com certeza, pois tenho receio – mesmo confiando no showrunner – que o que resta a ser mostrado não chegue aos pés do que vimos até agora. Mas, nesse jogo de pôquer, eu perco feliz.

Obs: Sem relação com o episódio, mas fica a inevitável pergunta: será que James Gunn conseguirá colocar nas telonas um Superman tão bom quanto este aqui?

Superman & Lois – 3X11: Complications (EUA, 06 de junho nos EUA e 15 de junho de 2023 no Brasil)
Criação: Todd Helbing
Direção: Jai Jamison
Roteiro: Katie Aldrin, George Kitson
Elenco: Tyler Hoechlin, Elizabeth Tulloch, Alex Garfin, Michael Bishop, Erik Valdez, Inde Navarrette, Wolé Parks, Tayler Buck, Sofia Hasmik, Chad L. Coleman, Dylan Walsh, Emmanuelle Chriqui, Mariana Klaveno, Angel Parker, Karen Holness, Samantha Di Francesco, Spence Moore II, Daya Vaidya
Duração: 43 min.

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