- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
Se formos pensar bem, Kyle descobrir a identidade super-heroica de Jordan ou de Clark Kent não é lá um problema tão sério assim que mereça grandes dramas e um episódio quase inteiro dedicado a isso, mas a grande sacada de Collision Course é que seu roteiro é uma muito bem concatenada sucessão de acontecimentos a partir dessa premissa que torna essa abordagem não só refrescante, como bem trabalhada ao redor do único personagem do círculo próximo da família Kent que era completamente ignorante sobre o grande segredo. E, como se isso não bastasse, a direção de Elaine Mongeon não só sabe conduzir essa história mais, digamos, prosaica, ao lado da narrativa mais séria envolvendo Peia, Matteo e Bruno.
Deixe-me, portanto, começar por essa segunda parte, focada na trama central da temporada. Era óbvio que, em alguma altura da história, uma cura mágica para o câncer surgiria, pois eu sempre duvidei com todas as minhas forças que Lois Lane morreria ou mesmo passasse por uma mastectomia dupla. O elixir milagroso que Bruno Mannheim parece ter extraído do corpo do Superman Bizarro (será que ele está vivo ainda?) funciona de imediato, em uma tacada só devolvendo vida à Peia, que trata de destruir o Departamento de Defesa para escapar, e fazendo com que seu filho se torne cúmplice de um crime, algo que repercutirá em seu relacionamento com Natalie. E, não deve demorar muito, essa mesma fórmula será usada em Lois e potencialmente todas as vítimas de câncer, pois não creio que a série manterá essa descoberta desse universo autocontido a ponto de só beneficiar duas mulheres. Bem, a não ser que o efeito colateral da vindoura injeção em Lois seja ela ganhar poderes e se transformar na Superwoman, caso em que aí sim eu não imagino que a cura seja divulgada para o mundo todo.
A cadência narrativa nesse lado super-heróico do episódio foi muito boa, especialmente quando consideramos que essa história, no final das contas, é paralela à principal, envolvendo a questão dos poderes de Jordan que, da mesma forma, como adiantei, foi uma jogada de mestre de um roteiro que até engana inicialmente ao ensaiar aquela coisa chata da ciumeira do jovem no que se refere à Sarah, com momentos patéticos de vergonha alheia. Ainda bem, portanto, que havia mais a ser trabalhado e que o Jordan dando faniquito era apenas a ponta do iceberg para algo muito interessante que o leva a salvar Sarah e Júnior da morte certa em um acidente de carro após uma batida policial da festa em que eles (menores) estavam bebendo, fazendo com que Kyle recrudesça sua desconfiança de que há alguém superpoderoso na cidade e que esse alguém é Jon e até criando todas as circunstâncias para que a governadora, que visita Smallville em razão da destruição causada pelo atentado de Mannheim a John Henry, trafegue da admiração por Lana até seu desdém por descobrir os detalhes “picantes” de sua vida particular com apenas alguns olhares trocados depois da chegada de Kyle no restaurante onde estavam.
Tudo bem que a consequência final de tudo isso é Clark, sem saída por precisar agir e para proteger os filhos, decidindo contar – ou melhor, mostrar – para Kyle que ele é o Superman, algo que, a essa altura do campeonato não é lá grandes coisas e que, de certa forma, desinfla a relevância da narrativa. No entanto, diria que, aqui, estamos diante de um caso em que a execução é muito mais relevante do que as consequências para a série do que vemos transcorrer no episódio. A conjunção de um ótimo roteiro com uma direção segura resultou em um episódio sólido, intrigante, bem construído e desenvolvido que até pode culminar com uma revelação lugar-comum além da mais do que esperada fuga e cura de Peia, mas que vale a jornada.
Collision Course não tem, obviamente, a força dos episódios focados na doença de Lois Lane, mas Todd Helbing já mostrou que está disposto a investir seriamente nessa questão e, portanto, não é razoável esperar que absolutamente tudo gire ao redor desse assunto, ainda que, de certa forma, haja a conexão aqui. O que realmente importa é que, mesmo quando o showrunner trabalha outros elementos da temporada, ele mesmo assim acerta em cheio. Agora, com tudo às claras, caminhamos para a reta final desta que promete ser muito facilmente a melhor temporada da série.
Superman & Lois – 3X10: Collision Course (EUA, 23 de maio nos EUA e 1º de junho de 2023 no Brasil)
Criação: Todd Helbing
Direção: Elaine Mongeon
Roteiro: Max Cunningham, Max Kronick
Elenco: Tyler Hoechlin, Elizabeth Tulloch, Alex Garfin, Michael Bishop, Erik Valdez, Inde Navarrette, Wolé Parks, Tayler Buck, Sofia Hasmik, Chad L. Coleman, Dylan Walsh, Emmanuelle Chriqui, Mariana Klaveno, Angel Parker, Karen Holness, Samantha Di Francesco, Spence Moore II, Daya Vaidya
Duração: 45 min.