- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
Apesar de ser padrão em séries dramáticas em geral desde que elas existem, nunca deixei de implicar com episódios que tentam abraçar todas as linhas narrativas de uma temporada ao mesmo tempo. É algo pessoal meu, sou o primeiro a reconhecer, mas a base para essa minha reticência não é vazia. Apesar de obviamente existirem ótimos exemplares nessa categoria nas mais variadas séries, episódios dessa natureza tendem a servir o propósito de avançar homogeneamente todos os aspectos trabalhados na temporada, o que acaba levando ao subdesenvolvimento de linhas narrativas e ao subaproveitamento do desenvolvimento de personagens, de quebra deixando pouco espaço para que o elenco possa brilhar de maneira apropriada.
Of Sound Mind, obviamente, é um desses episódios mais abrangentes que tentam fazer muito em pouco tempo e, mesmo que sua qualidade, no geral, definitivamente seja acima da média, a impressão que fica é a de picotamento das linhas narrativas. O roteiro de George Kitson e a direção de Diana Valentine até envidam todos os esforços possíveis para dar tempo ao tempo e não detrair muito do tempo dedicado ao elenco para realmente atuar, objetivo que chega a ser até artificialmente atingido pela eliminação – sem qualquer contexto ou explicação – do núcleo dos Irons que, mais do que obviamente, poderia ter ajudado aqui, notadamente na sequência de ação em que Superman é atacado por Onomatopeia e três minions de Bruno Mannheim com armas de kryptonita. Mas, como eu disse, gostando ou não, isso faz parte da infraestrutura de obras serializadas.
Por outro lado, exatamente por isso que é perda de tempo falar sobre cada ponto do episódio. É mais valioso dedicar tempo ao que realmente funcionou e o que não funcionou. Na primeira categoria, como não poderia deixar de ser, temos a abordagem da luta de Lois Lane contra o câncer. Se os primeiros episódios após o diagnóstico focava na paciente, Head On começou a apontar para a forma como Clark passou a lidar com a questão depois do choque inicial, absorvendo avidamente as experiências das outras duas mulheres que passavam por quimioterapia. Of Sound Mind, então, prossegue nessa linha com o que parece ser um curto pulo temporal, revelando que o Superman participa de uma sessão de autoajuda focada em parentes de doentes de câncer e revela-se com dificuldade de aceitar histórias que ele interpreta como derrotistas.
Como já disse diversas vezes, a temporada tem trabalhado excepcionalmente bem, de forma madura e sem dourar a pílula a reação das pessoas – pacientes, parentes e amigos – sobre uma doença tão terrível com prognóstico ruim. Apesar de ser improvável que Lois venha a morrer (um leitor até aventou a bem saca hipótese de ela acabar se tornando a Superwoman se seguirmos a lógica de que os tratamentos de Mannheim tem superpoderes como “efeitos colaterais”), o que realmente importa é essa jornada sóbria sobre um processo tão doloroso. Ver Clark, com todo o seu poder, fugindo de algo vale ouro, assim como vale ouro ele confessar o óbvio: que o que está acontecendo com Lois está completamente fora de seu controle. Essa impotência no homem mais poderoso do mundo não funcionaria, porém, sem um Tyler Hoechlin inspiradíssimo em sua atuação, algo que, muito sinceramente, não imaginei que ele seria capaz e que fico muito feliz em estar enganado.
Mas e o que não funcionou na correria fragmentária do episódio? Para começo de conversa, a linha narrativa do romance de Kyle com Chrisssy. Não que o romance em si seja ruim, pois absolutamente não é o caso. O problema é a conveniência quase infantil do roteiro e da direção que, em um momento, mostra os dois na cama, com Chrissy querendo contar sobre o relacionamento deles para Lana e Kyle pedindo um tempo, e, no momento seguinte, Lana esbarrando com Kyle em uma loja (de conveniência, aliás…) e descobrindo sobre os dois, com o bônus de Lana, agora, ter uma razão a mais para culpar o ex-marido de algo, já que ele basicamente largou Sophie de lado para passar umas horinhas com a namorada. Bobo demais e desnecessário que fosse assim desse jeito be-a-bá de roteiro genérico.
De maneira semelhante, todo o “Jon agora estagia no corpo de bombeiros, mas estuda com Sarah, perde Sophie, mostra-se hábil em lidar com a menina ao encontrá-la e ganha um presente de agradecimento de Kyle com direito a Jordan ficar irritado com o que para ele parece – e provavelmente será – o romance de sua ex-namorada com seu irmão” pareceu uma desabalada corrida de 100 metros rasos que lucraria e muito com tempo para ser devidamente desacelerada e tratada com a devida calma. Novamente, é uma sucessão de conveniências que chega a cansar de tão artificial.
Entre o bom e o ruim, temos a citada sequência de ação em que Superman é atacado com ondas sonoras e kryptonita. Ela, em si, não é nada de mais, mas tem função tripla: permite que Jordan revele-se à prova da onipresente pedrinha verde, permite que Clark tenha seu momento catártico com Lois e permite que Onomatopeia seja revelada como Peia (ridículo o nome dela ser esse, eu concordo), a esposa de Bruno Mannheim e a paciente de câncer com quem Clark conversa e com quem Lois almoça mais cedo. Enquanto que a revelação sobre Jordan é consideravelmente inócua (não sei como a IA da Fortaleza da Solidão não pescou isso antes), a interação de Clark com Lois é novamente muito boa, com a identidade de Onomatopeia vindo para mais ou menos ratificar o tal comentário de um leitor sobre a Superwoman.
Estamos, agora, mais ou menos na metade da temporada – que terá 13 episódios – e o plano de Mannheim, que continua sendo um interessante vilão ambíguo, começa a tomar forma de maneira mais consistente. Como será o desenvolvimento disso daqui para a frente, descobriremos em breve. Apenas espero que com poucos – bem poucos -episódios fatiados como Of Sound Mind.
Superman & Lois – 3X06: Of Sound Mind (EUA, 25 de abril nos EUA e 04 de maio de 2023 no Brasil)
Criação: Todd Helbing
Direção: Diana Valentine
Roteiro: George Kitson
Elenco: Tyler Hoechlin, Elizabeth Tulloch, Alex Garfin, Michael Bishop, Erik Valdez, Inde Navarrette, Wolé Parks, Tayler Buck, Sofia Hasmik, Chad L. Coleman, Dylan Walsh, Emmanuelle Chriqui, Mariana Klaveno, Angel Parker, Karen Holness, Samantha Di Francesco, Spence Moore II, Daya Vaidya
Duração: 42 min.
