Home TVEpisódio Crítica | Superman & Lois – 3X04 e 05: Too Close to Home e Head On

Crítica | Superman & Lois – 3X04 e 05: Too Close to Home e Head On

O curioso caso de uma série corajosa.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Com a troca de servidor do site, tivemos que atrasar algumas publicações. Por isso a presente crítica dos dois mais recentes episódios de Superman & Lois conforme seus lançamentos pelo HBO Max. Abaixo, vocês encontrarão nossas críticas separadas de cada um dos referidos episódios, com a do 3X04 tendo sido feita sem que o 3X05 fosse assistido, de forma a emular a experiência semanal. Vamos lá!

3X04: Too Close to Home

Too Close to Home foi uma escolha corajosa de Todd Helbing, pois este talvez tenha sido o mais “mundano” e segue a linha narrativa central mais humana e mais íntima que coloca Lois Lane no centro das atenções tentando combater um câncer de mama particularmente agressivo, um inimigo invasivo e invisível que nem seu todo-poderoso marido pode enfrentar. O que quero dizer com corajoso é que, considerando que o episódio, apesar de o Superman e Aço aparecerem, não tem nada realmente super-heroico da maneira que muitos podem esperar, o que pode afetar a popularidade da série como um todo.

Mas ainda bem que Helbing está disposto a assumir riscos. Afinal, já disse um milhão de vezes que Superman & Lois se destaca realmente pela humanização do Superman, algo muito raramente tentado de verdade, especialmente no mundo imediatista de hoje em que é esperado que uma série protagonizado por alguém com o nível de poder dele seja pancadaria do começo ao fim. E uma batalha contra uma doença tão insidiosa quanto o câncer e que, ao mesmo tempo, está literalmente no meio de nós, com provavelmente vários espectadores já tendo sofrido ou que conhecem gente que já sofreu ou sofre com alguma variação dela, não poderia ter um tratamento menos do que realista. Ver Lois Lane ao mesmo tempo enfraquecida, mas não querendo ser tratada de maneira diferente por sua própria família e fazendo questão de lidar com os problemas de Jon com o pai de sua namorada é algo refrescante, especialmente porque Clark Kent simplesmente não pode fazer absolutamente nada que não seja sofrer e reconfortar sua esposa.

E eu sei que, aqui, o roteiro de Juliana James arrumou uma maneira de fazer linhas narrativas convergirem, com Lois escolhendo fazer quimioterapia no hospital que parece ser a menina dos olhos do vilanesco Bruno Mannheim de forma a aproveitar a oportunidade para investigá-lo. Confesso que gostei muito dessa saída, pois ela consegue manter a linha realista e, ao mesmo tempo, fazer as histórias se misturarem organicamente, algo que provavelmente ganhará ainda mais organicidade com a presença potencialmente mais constante da Dra. Darlene Irons na temporada. E, considerando o momento fisicamente enfraquecido de Lois depois de lidar com o pai de Candice, quero crer que seu trabalho sofrerá com a progressão do difícil tratamento por que precisará passar.

E vou confessar outra coisa: passei a achar até interessante que Mannheim tenha conseguido sintetizar o sangue do Superman para, até onde foi mostrado, criar um exército de meta-humanos, pois isso pode abrir a oportunidade para que ele, querendo curar Lois a todo custo para evitar uma mancha bem pública em seu hospital, acabe usando o plasma kryptoniano para salvá-la. Tenho perfeita consciência que sempre fui contra uma resolução como essa, mas, agora, consigo ver como ela poderia ser alcançada sem que seja feita uma ginástica narrativa fora de contexto. Mas só para ficar claro: ainda prefiro uma cura não kryptoniana, com Lois vencendo a doença com tratamentos disponíveis a outras vítimas da doença, mas não posso esquecer que, no final das contas, estamos falando de uma série baseada em quadrinhos.

No entanto, enquanto o drama da família Kent tem sido bem trabalhado e incluo nessa afirmação o lado adolescente da história (o lance do corte do cabelo de Jordan foi hilário!), tive reticências sobre a forma talvez… exagerada com que o lado Lana-Sarah-Kyle foi trabalhado. Pode ser que isso seja eu, no alto da minha quase velhice, olhando para o “tapa” como algo menor e desimportante, mas tenham paciência comigo na tentativa de explicar meu raciocínio. Primeiro, esclareço que nada justifica o que aconteceu, mas muito do que levou ao tapa mitiga sim o momento. Sarah muito claramente usou da palavra – às vezes mais poderosa do que a violência física – para provocar a mãe, que teve uma reação instintiva, impossível de ser racionalizada. É quase como se Sarah quisesse que Lana chegasse a esse ponto. Depois, Sarah é uma jovem de 16 ou 17 anos e não uma menina indefesa de seis ou sete anos. O enfrentamento, ali, era de igual para igual e um tapa de mão aberta não é um soco sucedido de outros socos que resultam em um espancamento.

Por isso é que eu achei que o estopim para todo o drama trabalhado sobre essa questão, com Kyle servindo de mediador entre as duas mulheres, um tanto quanto exagerado e novelesco. Equalizar violência de pais contra filhos com uma situação, mais, digamos, prosaica como essa me parece um desserviço aos casos mais graves. Mas, como disse, isso pode ser apenas minha visão mais “antiga” dessa história toda, pelo que não sei se minha explicação encontrará “liga” perante os leitores aqui.

Too Close to Home foi, portanto, mais um bom episódio humano desta terceira temporada de Superman & Lois que tem surpreendido na maneira adulta como trata seus temas. Fico muito curioso para saber como a questão do câncer de Lois será efetivamente resolvida neste ano, pois, como também já disse antes, acho muito pouco provável que ela morra, o que seria até um desserviço à série, diga-se de passagem.

3X05: Head On

Costumo ser uma voz solitária sobre o núcleo adolescente de Superman & Lois, mas eu digo e repito que, com exceção de alguns naturais tropeços aqui e ali, como foi o caso do beijo de Sarah em outra jovem e o recente drama do tapa, acho que a série lida muito bem com ele e Head On é mais uma prova disso. O episódio, centrado na dança do Dia dos Namorados, abre espaço para que todo o grupo mais jovem seja trabalhado, com ótimos acertos que integram ainda mais os personagens à tecitura da série como um todo.

Apesar de não gostar da oferta de “estágio” vinda praticamente do nada que Kyle faz para Jon de maneira a criar o conflito de Jon com Candice que encontra teto na casa de sua tia em cidade distante de Smallville, creio que a resolução rápida dessa história, com Jon fazendo a escolha mais adulta, foi um ponto positivo, assim como esse seu trabalho no corpo de bombeiros podendo gerar boas histórias, inclusive, quem sabe, até mesmo o despertar de seus poderes, se isso por acaso estiver no plano de Todd Helbing, claro (e eu não imagino como não estaria, pois é tentador demais). Do lado de Natalie, fico surpreso com o quanto a conexão dela com Sam Lane tem funcionado bem, seja do lado mais aventuresco com os dois disputando corrida de quadriciclo (de onde diabos Sam tirou esses veículos?), seja do lado do aconselhamento avô-neta que lida com a vida amorosa inexistente de Natalie e sua hesitação em literalmente abraçar o retorno de Matteo à sua vida.

Até mesmo Sarah, filha da prefeita atual, e Júnior, filho do falecido prefeito anterior, funcionam bem dentro da premissa – que tenho que assumir – de que essa história paralela levará a algum lugar, seja um relacionamento romântico, o que seria mais óbvio, seja o começo do descortinamento de mais segredos em Smallville, desta vez envolvendo Dean e Bruno Mannheim. Claro que a reconexão de Sarah com Lana ajuda, aparentemente deixando de lado de vez o incidente do tapa que tanto reclamei na crítica logo acima ou assim eu espero, pelo menos.

Para dizer a verdade, gostei inclusive dos adultos no ambiente adolescente, especialmente de Kyle e seu divertido e inspirado “momento Footloose“, ainda que, claro, um pendendo para o lado da vergonha alheia que era justamente todo o objetivo da cena, isso e o aprofundamento da relação dele com Chrissy. Aliás, vale dizer que esse romance, mesmo que talvez não tenha futuro se Helbing decidir reunir Kyle com Lana, funciona bem como um desenvolvimento natural da separação deles e do processo amigável de divórcio, sacramentando a vontade do showrunner em lidar com o assunto de maneira realista e lógica.

Agora entrando de vez no lado adulto, tenho que dizer que a ambiguidade de Mannheim tem sido refrescante. Nada de vilão obviamente vilanesco, ainda que nós saibamos que ele é sim do mal ou, pelo menos, tem negócios escusos. Mas o fato de ele ser um filantropo e ter um hospital da magnitude do Hob’s Bay e, aparentemente, querer mesmo fazer de tudo por Lois, inclusive entregando-lhe os documentos que ela quer – claro, nada é de graça e ele tem os interesses dele por trás, eu sei – cria uma situação que só tende a tornar mais difícil derrotá-lo de maneira simplista, já que sua queda, pelo menos em tese, significa a queda do próprio hospital e das pesquisas sobre o câncer. Será muito interessante ver como isso será trabalhado.

Mas nenhuma sequência do episódio foi melhor do que quando Lois sai para fazer sua investigação em plena quimioterapia e Clark, então, começa a conversar com as duas mulheres que passam pelo mesmo tratamento. Foi um momento realmente emocionante em razão das histórias contadas, inclusive com uma delas elogiando a energia e a curiosidade de Lois como um elemento importante para ele não desistir da luta contra a doença, mas também – e principalmente – em razão da reação nuançada de Tyler Hoechlin vivendo seu icônico personagem. Se Elizabeth Tulloch vinha tendo todo o espaço do mundo para brilhar na temporada, agora foi a vez do ator mostrar a que veio ao reunir genuíno interesse e preocupação por aquelas mulheres e uma sensação que mistura tristeza pelo que elas passam, mas também gratidão pelo que elas compartilham com ele. Se alguém tinha dúvida que esse é o melhor Clark Kent desde o que Christopher Reeve, creio que ela foi dissipada aqui de uma vez por todas.

Até o lado super-heróico foi bacana aqui, com a introdução de uma versão do Linha Mortal com poderes que se assemelham a quando o Flash vibra para tornar-se intangível e atravessar sólidos. No mínimo dos mínimos, que parecer que o plano de Mannheim vai além de transformar todo mundo em Superman e está criando poderes que vão além dos que o kryptoniano têm. O como e o porquê ainda estão longe de ficarem claros, mas pelo menos a luta foi interessante, inclusive com o “estilete” de kryptonita fazendo tudo parecer briga de prisão. Logicamente que o Superman poderia ter evitado a transferência dos arquivos do Departamento de Defesa se tivesse usado sua visão de calor logo que chegou na sala, mas faz parte e ver o corpo do Superman Bizarro novamente abre um leque fascinante de possibilidades.

Com Head On, a terceira temporada de Superman & Lois mostra que não está para brincadeiras, não interessante sob que aspecto ela é analisada. Um bom drama adolescente se junta aos continuados bons dramas adultos e um lado super-poderoso que, se começou estranho e repetitivo, agora começa a intrigar de verdade. Vamos ver aonde é que isso vai dar!

Superman & Lois – 3X04 e 05: Too Close to Home e Head On (EUA, 04 e 11 de abril de 2023 nos EUA e 12 e 19 de abril de 2023 no Brasil)
Criação: Todd Helbing
Direção: Stewart Hendler (3X04), David Ramsey (3X05)
Roteiro: Juliana James (3X04), Andrew N. Wong (3X05)
Elenco: Tyler Hoechlin, Elizabeth Tulloch, Alex Garfin, Michael Bishop, Erik Valdez, Inde Navarrette, Wolé Parks, Tayler Buck, Sofia Hasmik, Chad L. Coleman, Dylan Walsh, Emmanuelle Chriqui, Mariana Klaveno, Angel Parker, Karen Holness, Samantha Di Francesco, Spence Moore II
Duração: 42 min. (cada episódio)

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