- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
Apesar de menos relevante no episódio – ou talvez justamente por isso – resolvi começar abordando os aspectos negativos de In Cold Blood que, no geral, já adiantando minha impressão geral, é outra aula magna de como lidar uma temática tão difícil como o câncer raro e agressivo na co-protagonista em uma série de super-heróis. Os aspectos que me incomodaram no episódio são interligados e se referem ao lado aberta super-heróico, com Superman chegando para salvar Lois e Chrissy dos capangas de Bruno Mannheim e, claro, o delineamento maior do plano do vilão.
O primeiro incômodo é o cansativo uso de armas à base de kryptonita para incapacitar o Superman. Eu sempre disse que é difícil pacas escrever um roteiro decente, com perigo real e imediato, quando o protagonista é um sujeito que basicamente tem força ilimitada, mas daí a recorrer sempre à maior fraqueza do personagem para equalizá-lo a humanos normais me parece uma enorme demonstração de preguiça de pensar em algo minimamente diferente. Quando Superman está contra a pilastra naquele armazém esperando ser salvo no último segundo por Aço, a vontade que deu foi de clicar no fast forward, pois esse clichê narrativo já cansou, mesmo que seja a primeira vez que ele é usado na temporada (mas é a milésima na série como um todo, como vocês sabem). Prefiro que os vilões fiquem dando tiro com armas normais no Superman naquela clássica definição do que é loucura, do que inventarem manoplas com jatos de kryptonita…
Meu segundo incômodo é um muito semelhante ao primeiro, mas referente ao que Mannheim parece estar preparando: um exército de pessoas que receberão transfusão de sangue do Superman e, magicamente, passarão a ter os mesmos poderes que ele. Tenho plena consciência de que essa minha conclusão do que é o plano vilanesco pode ser prematura, até porque estamos ainda no terceiro episódio de uma série de 13 episódios, mas eu não sei se ele variará tanto disso a ponto de ser algo realmente diferente do que já foi tentado antes na própria série. Espero com todas as minhas forças que Todd Helbing tenha algum ás na manga que faça de Mannheim mais do que apenas um Tal-Rho 2.0 (ou será deveria chamar de 0.5 considerando que ele é apenas um humano normal?). Vamos aguardar.
Feitas essas ponderações, vamos falar do que realmente interessa que é, de novo, o lado humano de Superman & Lois. E, se vocês não me aguentam mais falando disso, eu sinto muito, mas não tem jeito, já que é esse aspecto da série que faz com que ela realmente valha a pena. Ver Lois em negação, arrumando qualquer desculpa para evitar começar sua quimioterapia é fantástico, uma excelente escolha de roteiro que continua a tendência de tratar seu câncer de maneira realista, sem transformá-la em alguém que imediatamente aceita sua doença e a trata como “uma gripezinha”. E, claro, eis que Elizabeth Tulloch novamente tem espaço para arrasar em seu papel, fazendo-me até mesmo indagar, se ela continuar assim, se não seria o caso de o circuito de premiações começar a reconhecer seu trabalho.
Mas o melhor é que Tyler Hoechlin tem, paralelamente, também conseguido cavar seu espaço para mostrar o mais humano Superman desde Christopher Reeve. Mesmo que eu tenha problemas com a inexistência de diferenças entre suas personas para fins de manutenção de identidade secreta – algo que comentei de maneira alongada nas críticas da temporada anterior – fato é que ele tem conseguido ser Superman e Clark ao mesmo tempo aqui de maneira como ele nunca foi antes, lidando com mudanças de feição que demonstram seu desespero com a situação e sua decepção com a recusa de Lois em ir à quimioterapia. Aliás, o pesadelo recorrente de Clark, apesar de ser uma metáfora para lá de óbvia (desnecessariamente até), é um passo certo nessa direção de transformar um deus em alguém como qualquer um de nós meros humanos que não tem controle sobre o que acontece ao seu redor.
Apesar de não ter amado toda linha paralela do roubo do monster truck de Jonathan Kent, ela serviu para mostrar uma união cada vez maior dele com Jordan e com Natalie, algo que é sacramentado de vez pelo bonito presente que a jovem de outro universo decide dar para a doppelgänger de sua mãe. Por outro lado, toda a história envolvendo a separação de Kyle e Lana continua ótima, mesmo que naturalmente ficando em segundo plano diante da doença de Lois. Ver Kyle enciumar-se com nada e ao mesmo tempo claramente demonstrar interesse em continuar seu caso com Chrissy é uma interessante maneira de trazer de volta os demônios que o fizeram cometer adultério e certamente será interessante ver como esse imbróglio continuará sendo abordado, especialmente depois do entrevero físico entre Lana e Sarah.
In Cold Blood continuar a lidar muito bem com o drama pessoal de Lois Lane, colocando-o em primeiro plano e não oferecendo soluções fáceis e, ainda por cima, obrigando os personagens a encarar a questão de frente, mesmo que ela própria tente fugir de seu destino. Se o showrunner tiver coragem de continuar dessa forma até o fim – e de forma alguma por “fim” eu queira dizer a morte de Lois, pois isso eu acho que não acontecerá de jeito algum -, há o potencial para essa temporada ser um destaque no mar de ofertas do gênero, mesmo que, no final das contas, o lado super-heróico puro acabe decepcionando.
Superman & Lois – 3X03: In Cold Blood (EUA, 28 de março de 2023 nos EUA e 06 de abril de 2023 no Brasil)
Criação: Todd Helbing
Direção: Gregory Smith
Roteiro: Jai Jamison
Elenco: Tyler Hoechlin, Elizabeth Tulloch, Alex Garfin, Michael Bishop, Erik Valdez, Inde Navarrette, Wolé Parks, Tayler Buck, Sofia Hasmik, Chad L. Coleman, Dylan Walsh, Emmanuelle Chriqui, Mariana Klaveno, Angel Parker, Karen Holness
Duração: 42 min.
