- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
Considerando como Into Oblivion acabou, com Lucy drogando o pai para roubar seu cartão do Departamento de Defesa de forma a libertar Ally Allston, tive dificuldades de fazer a transição para 30 Days and 30 Nights pela maneira como o roteiro e a direção trabalharam a elipse temporal, ou seja, não a trabalhando. Quando o episódio começa, Clark acorda ouvindo que Allston fugiu e, quando ele chega ao portal do Mundo Invertido, ela já se foi, com ele corajosamente seguindo atrás e desaparecendo pelos tais 30 dias e 30 noites do título. Foi… estranho, pois não se falou de Lucy, do que ela fez com o pai, mais nada, como se nada tivesse acontecido, e, com isso, minha cabeça demorou a entrar novamente nos trilhos.
No entanto, essa estranheza foi basicamente o único ponto realmente negativo de um episódio que, de outra forma, é um primor de ritmo narrativo, capaz de empacotar basicamente todos os assuntos da temporada em meros 40 e poucos minutos e, mais ainda, fazê-los caminhar a passos largos para a frente. Não é pouca porcaria quando isso acontece, pois o que mais vemos por aí são episódios que ou correm muito ou pouco e que, quando tentam abraçar o mundo, criam uma sucessão de vinhetas desvinculadas que só na cabeça dos showrunners é que funcionam.
Usando uma elipse temporal (agora boa) para fazer o tempo progredir mostrando que o mundo sem Superman tem Aço e, discretamente, Superboy Jordan para substituí-lo, em uma inescapável e simpática piscadela aos eventos posteriores à famosa – mas bem fraquinha – HQ A Morte do Superman, o episódio usa o final da campanha de Lana Lang à prefeitura como pano de fundo e cola e narrativa, concluindo com sua razoavelmente esperada vitória. Fazendo um breve parênteses, confesso que esperava ver esse processo de transformação de Lana com um pouco mais de vagar, mas creio que bastará acompanharmos a nova prefeita na assunção de seu cargo e evolução como política.
Seja como for, o dia D da eleição é o momento-chave do episódio em que basicamente tudo acontece. Jordan parece se afastar mais de Sarah na medida em que ele se volta à sua persona super-heroística, o que inclui salvar Kyle de fogo em um depósito de X-K e, claro, mandar muito bem no salvamento de seu avô e sua mãe no laboratório cuja localização eles extraem da bela Candice. Sou só eu ou tem algo de errado nessa garota? Estaria ela envolvida em escalão mais alto dessa cadeia de tráfico de drogas? Ou será que seu assassinato – estou apenas conjecturando a partir da cena em que ela vai andando para casa sozinha depois de dedurar todo mundo – será a fagulha que falta para Jonathan voltar-se para a vilania, mesmo que temporária?
Há um fluidez muito grande nos acontecimentos e, melhor ainda, uma bem-vinda interdependência que não inclui a interferência e contaminação de um assunto pelo outro. Com isso, quero dizer que a eleição de Lana e a trama paralela de Kyle vivendo em um pardieiro, com Sarah compadecendo-se por ele e indo dormir por lá depois de acabar com o namoro com Jordan, mantem-se fundamentalmente separada do lado superpoderoso da série, mas sem que um lado da história perca vista do outro. E fico cada vez mais orgulhoso de Todd Helbing por não abrir mão de abordar assuntos que poderiam muito facilmente descambar para o clichê – falo especificamente da traição Kyle e a separação dele da esposa – de maneira sóbria e, mais ainda, protraída no tempo, sem soluções mágicas, sem finais felizes imediatos.
E o mesmo vale para John Henry e Natalie. Reparem o tempo que levou – ok, os dois sumiram por alguns episódios, admito – para pai e filha finalmente se acertarem no que se refere à morte da Lois Lane deles? Eles se mudaram da fazendo dos Kents, John Henry dedicou-se a ser o Superman metálico durante o mês de ausência do Homem de Aço (cadê a armadura 2.0 dele e, futuramente, o spin-off de Aço?) e, no dia do aniversário da morte da esposa, ele esqueceu a data ou arquivou-a em um espaço mental que ele não queria acessar. Gostei de como o roteiro trabalhou a reconstrução da conexão entre os dois e creio que isso vá significar uma espécie de integração maior dos dois na vida dos Kents quando Clark voltar.
Falando na volta de Clark, gostei que tivemos um episódio quase que completamente sem ele e sua contraparte, ainda que, talvez, pudéssemos ver os eventos deste episódio ocorrerem ao longo de dois capítulos. Não que o roteiro não tenha se dado muito bem em comprimir tudo aqui, mas talvez – apenas talvez – os eventos pudessem ficar melhor ainda com maior espaçamento. O porquê do Superman não ter voltado para a Terra Prime nós saberemos muito em breve com a chegada surpresa de “Jonathan Invertido” usando um figurino reminiscente de Conner Kent de jaqueta de couro. Seria ele uma versão do Superboy ou Boyzarro, filho de Bizarro? Como o Jonathan sem poderes reagirá à sua versão superpoderosa? Muitas perguntas, eu sei!
Mais um episódio de Superman & Lois que trata seu material fonte com deferência e altíssima qualidade. Mesmo não sendo perfeito, há muito que se apreciar em 30 Days and 30 Nights, especialmente a capacidade de se tratar de tanta coisa ao mesmo tempo sem deixar a peteca cair em momento algum e, ainda por cima, oferecendo um cliffhanger muito interessante e com potencial de abrir de vez a porteira para o Mundo Invertido e para o aparecimento de Ally Allston como a grande vilã, talvez como a Parasita dos quadrinhos, ainda que esse seja outro pulo que, se acontecer, terá que ser bem explicado.
Superman & Lois – 2X09: 30 Days and 30 Nights (EUA, 29 de março de 2022)
Criação: Todd Helbing
Direção: Ian Samoil
Roteiro: Katie Aldrin, Jai Jamison
Elenco: Tyler Hoechlin, Elizabeth Tulloch, Jordan Elsass, Alex Garfin, Emmanuelle Chriqui, Erik Valdez, Inde Navarrette, Wolé Parks, Tayler Buck, Sofia Hasmik, Daisy Tormé, Ian Bohen, Nathan Witte, Rya Kihlstedt, Dylan Walsh, Adam Rayner, Jenna Dewan
Duração: 42 min.