- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
Mesmo com um final decepcionante, creio ser inegável a conclusão de que a primeira temporada de Superman & Lois foi um ponto fora da curva para a CW e, também para a história das adaptações serializadas live-action do Azulão. Claro que não é a primeira vez que Clark e Lois ganham destaque, mas creio que a abordagem intimista, que coloca a super-família à frente de qualquer outra consideração foi não só uma jogada arriscada, por naturalmente reduzir o potencial para pancadaria cheia de CGI, como muito bem executada. Meu receio é que, na segunda temporada, esse elemento basilar da série fosse esquecido ou minimizado.
Fico feliz em constatar, porém, que, pelo menos no que se refere a What Lies Beneath, primeiro episódio do segundo ano, meu medo era infundado. Grande parte do capítulo é dedicado a estabelecer o novo status quo, o que é perfeitamente natural, mas o que importa é que o foco permanece nas relações familiares. Vemos Lois Lane, depois de três meses do final da temporada anterior, não sabendo ainda lidar com sua reação à chegada repentina de Natalie e basicamente descontando em sua família e Chrissy, com Clark sem saber o que fazer para resolver o problema. Vemos também Jonathan e Jordan sendo adolescentes, o primeiro sendo pego pela mãe prestes a transar com sua namorada em seu quarto e sendo basicamente, como ele mesmo diz, marcado para a vida toda pela reação de Lois e o segundo feliz da vida pelo retorno de Sarah de uma colônia de férias em que ela foi instrutora e que, por sua vez, não corresponde aos anseios do jovem Kent.
E, ainda que não haja propriamente destaque, vemos a tensão e os problemas na relação de John Henry Irons com sua filha, já que ela, muito compreensivelmente, não consegue se adaptar a essa nova vida em que tudo é igual, mas não no que realmente importa. Claro que não ajuda em nada eles terem passado a morar na mesma cidade em que viviam em seu universo, com Natalie escolhendo ir para exatamente a mesma escola. É quase que sadismo dos dois e era evidente que não podia dar certo. O resultado disso é que, talvez muito rapidamente demais (para nós, não para os personagens em razão da elipse temporal), Lois decide encarar de frente seus problemas com Natalie que ecoam o trauma do abandono dela e da irmã pela mãe, trazendo a jovem para seu lar, junto com John.
A família também é destaque no lado dos Cushings, com um Kyle, ainda que um pouco mais maduro, tendo problemas para aceitar a dedicação de Lana em seu trabalho na campanha do candidato a prefeito Daniel Hart (Nathan Witte). Não existe um atrito propriamente dito, só um esboço de um e uma abordagem política interessante para Lana que, de fato, no final da temporada inaugural, bateu de frente com o prefeito que tenta a reeleição, tornando seu caminho razoavelmente natural. Espero que essa linha narrativa permaneça acesa, pois ela tem potencial.
Mas é claro que os aspectos macro da temporada não poderiam ser esquecidos e precisavam mesmo ser introduzidos aqui, logo no início. O primeiro dele é a nova dinâmica entre Superman e o Departamento de Defesa, já que o chefe de lá, agora, não é mais seu sogro e sim o Tenente General Mitch Anderson (Ian Bohen) que é bem mais linha dura e partidário da tese que, se o kryptoniano não está do lado dos EUA, está contra os EUA. Essa é uma discussão interessantíssima de ser abordada na temporada e os dois seres superpoderosos sob comando de Anderson e, ainda por cima, com o escudo da família El (audácia!), é uma excelente maneira de se colocar na mesa as possibilidades. Ainda não está claro quem são os novos “Supermen” e nem como eles conseguiram os poderes, mas tudo aponta para um baita imbróglio ao longo deste segundo ano.
Finalmente, temos os misteriosos “ataques sônicos” (ou seja lá o que for aquilo) que o Superman tem, o primeiro deles resgatando o submarino norte-coreano. O que aquilo pode ser, não há pistas, mas, muito provavelmente, tem conexão com seja lá o que for aquela mão que vemos esmurrar o subterrâneo de Smallville, causando terremotos. Fico com bastante receio de que a lógica para sei-lá-quem-superpoderoso estar na cidadezinha de Clark Kent seja furadíssima e, mais ainda, que a ameaça seja mais uma daqueles seres superpoderosos demais para uma série com esse enfoque como Tal-Rho e seus kryptonianos acabaram sendo. Mas, claro, ainda é cedo para reclamar. Vamos ver com a coisa anda.
Superman & Lois, portanto, recomeça com força e com qualidade, mantendo a promessa estrutural da série sem fazer concessões e funcionando como um baita episódio de começo de temporada. Se o segundo ano tiver pelo menos a mesma qualidade do primeiro, mesmo com a derrapada no final, essa nova versão do Superman periga fincar-se como a melhor depois da de Christopher Reeve em 1978 e 1980 (porque só esses dois filmes contam, claro).
Obs: Acompanharemos Superman & Lois semanalmente conforme seu lançamento oficial no Brasil, via HBO Max. Temos consciência de que há um inexplicável delay de uma semana, mas é a vida. Só pedimos que evitem ao máximo adiantarem os acontecimentos futuros nos comentários.
Superman & Lois – 2X01: What Lies Beneath (EUA, 11 de janeiro de 2022)
Criação: Greg Berlanti, Todd Helbing
Direção: Gregory Smith
Roteiro: Brent Fletcher, Todd Helbing
Elenco: Tyler Hoechlin, Elizabeth Tulloch, Jordan Elsass, Alex Garfin, Emmanuelle Chriqui, Erik Valdez, Inde Navarrette, Wolé Parks, Tayler Buck, Sofia Hasmik, Daisy Tormé, Ian Bohen, Nathan Witte
Duração: 42 min.