- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
Talvez muito rapidamente demais, as características clássicas de qualquer obra audiovisual envolvendo o Superman começam a aparecer. Se com grandes poderes vêm grandes responsabilidades, com poderes do nível que o Homem de Aço tem, vem a necessidade de superinimigos no mínimo tão poderosos quanto. Faz parte do jogo, mas meu ponto é que o misterioso Capitão Luthor, que parece ser um Lex Luthor de outra realidade em que o Superman bandeou-se para o Lado Sombrio da Super Força, já preenchia esse papel em Superman & Lois. A entrada de capangas de Morgan Edge com habilidades iguais às do Azulão já no terceiro episódio da temporada inaugural me pareceu um pouco demais.
E não, não estou dizendo com isso que não gostei de The Perks of Not Being a Wallflower, pois a avaliação acima não me deixa mentir, mas não tenho como não ficar preocupado. Se o episódio acertou ao não desgastar o Capitão Luthor fazendo-o aparecer novamente, o fato é que o roteiro de Brent Fletcher acaba de estabelecer que ter superpoderes – visão de calor, super força e provavelmente o resto todo – é algo banal, que Edge consegue com um estalar de dedos. Como exatamente isso acontece não sabemos ainda, mas não é muito difícil imaginar (manipulação de DNA, tecnologia kryptoniana, Agatha Harkness, ops…) e, com isso, chegamos ao segundo problema: se alterar o DNA de humanos para transformá-los em proto-kryptonianos capazes de fazer um cara que levantou uma ponte inteira na China desmaiar depois de ser socado, então a própria presença do Superman fica diminuída e diluída em meio ao que pode ser um exército de seus pares. E a bola de neve continua, pois, se Edge tem essa possibilidade, fica difícil entender porque ele precisa explorar habitantes de cidadezinhas pequenas.
Mas estou me adiantando. O ponto é que esse caminho da banalização do Superman é perigoso demais e, se mal utilizado, poderá constantemente exigir ameaças ainda maiores e mais gigantescas que só terão o condão de destruir a tão bem trabalhada intimidade familiar. Pois é esse o ponto forte da série que continua de vento em popa. Aqui, mais até do que nos episódios anteriores, a dinâmica familiar é feita com muito carinho dando espaço para cada um dos quatro atores ter seu tempo para brilhar de seu jeito. Tyler Hoechlin cada vez mais consegue me convencer como marido, pai e ocasionalmente Superman, com Elizabeth Tulloch correndo atrás com aquele seu jeito mais sábio de ser, ainda que sua Lois Lane, particularmente neste episódio, tenha parecido excitada demais, como um pinto no lixo, com pistas que caem em seu colo e que ela sequer verifica antes de sair alardeando conclusões como jornalista de primeira viagem.
A dupla de super filhos vivida por Jordan Elsass e Alex Garfin vai também estabelecendo sua personalidade sem que Jonathan seja apenas o sujeito que só pensa em futebol e Jordan apenas o garoto problemático que vive cabisbaixo. Há um começo de equilíbrio entre eles que, mesmo trafegando por todos – TODOS – os clichês do drama adolescente, com direito até mesmo a Jordan ingressar no futebol americano 10 minutos depois de seu pai dizer que pequenas demonstrações de poder podem levar à suspeitas, algo que o espectador simplesmente precisa aceitar como natural para que a série tenha alguma chance de funcionar. Afinal, aceitar que Jordan é capaz de não só frear, como também arremessar Sean, que tem basicamente o dobro de seu tamanho, para trás sem sequer parecer que fez algum esforço, é exigir demais da suspensão da descrença e é outro caminho perigoso que a série trilha, mas, sem fazermos esse esforço, é melhor então parar de ver Superman & Lois agora mesmo.
The Perks of Not Being a Wallflower acerta onde a série se propõe a acertar, que é no núcleo familiar encabeçado por Clark e Lois, mas já deixa evidente que não quer se contentar com uma história simples, preferindo inserir super vilões em todas as suas frentes de antagonismo. Se isso está acontecendo já no terceiro episódio da primeira temporada, suspeito que a vida de fazendeiro dos Kents não se sustentará por muito tempo, o que pode tirar da série aquilo que ela tem de especial. Mas veremos!
Superman & Lois – 1X03: The Perks of Not Being a Wallflower (EUA, 09 de março de 2021)
Criação: Greg Berlanti, Todd Helbing
Direção: Gregory Smith
Roteiro: Brent Fletcher
Elenco: Tyler Hoechlin, Elizabeth Tulloch, Jordan Elsass, Alex Garfin, Erik Valdez, Inde Navarrette, Wolé Parks, Dylan Walsh, Emmanuelle Chriqui, Michele Scarabelli, Fred Henderson, Fritzy Clevens-Destiny
Duração: 43 min.