Home QuadrinhosArco Crítica | Superman e a Legião dos Super-Heróis (Action Comics #858 – 863)

Crítica | Superman e a Legião dos Super-Heróis (Action Comics #858 – 863)

Amigos em apuros.

por Luiz Santiago
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Apesar de gostar muito da Legião dos Super-Heróis, devo admitir que esses jovens de 1000 anos no futuro do Superboy/Superman são absoluta e irremediavelmente ridículos. Fruto de uma mentalidade criativa bem diferente sobre como HQs de equipes heroicas deveriam mostrar seus protagonistas (eles surgiram em 1958!), a Legião apareceu como um conjunto de poderosos numa Terra muitíssimo mais avançada em diversos aspectos, recebendo, também, candidatos dotados de outros planetas aptos para o teste de ingressão. A quantidade de heróis nas histórias do grupo e a variedade de poderes absurdos e risíveis que os autores atribuíram a esses jovens ao longo dos anos tornou-se motivo de piada. Coube a alguns artistas da Era Moderna para frente tentar criar histórias que apresentassem alguma maturidade para o conjunto, ao mesmo tempo que abraçasse o charme vergonhoso das aventuras clássicas. Foi isso que Geoff Johns conseguiu fazer neste arco que escreveu para a Action Comics entre 2007 e 2008.

O ponto de partida dessa aventura é instigante e denso, aparecendo já nas primeiras páginas: uma invasão a Metropolis tira Clark Kent do trabalho, mas esta é apenas uma aparição surpresa de um amigo do futuro… que não deveria estar no século XXI. A mensagem que Brainiac deixa para o Superman é confusa, mas não perde o caráter de urgência: há algo muito medonho ocorrendo no ano 3008 e o Homem de Aço parece ser a única esperança da Legião dos Super-Heróis… e do planeta Terra “como deveria ser” naquela realidade. Confesso que fui rapidamente fisgado por essa premissa, que apesar de muito simples, funciona bem por dois motivos: primeiro, pelo respeito que a Legião tem em relação a viagens no tempo (logo, para se arriscarem enviar uma cápsula estrambolicamente chamativa para a timeline do Superman, algo de muito sério precisaria estar acontecendo). Segundo, pela maneira nada convencional como o chamado foi feito. Tudo isso, somado ao chocante prólogo da primeira revista, nos faz entender que o comportamento e o pensamento da Terra foram condicionados a um tipo de violência muito específica. Uma violência contra tudo o que é alienígena.

A Legião dos Babacas Xenofóbicos.

O texto de Geoff Johns não funciona apenas no aspecto de ação e entretenimento. O autor cria uma realidade onde não apenas a xenofobia é ensinada e disseminada oficialmente para toda a população da Terra (especialmente para as crianças), mas onde a própria história do Superman é manipulada e alterada pelos pregadores da “superioridade terráquea“. Há um bom leque de comparações que podemos fazer aqui, desde alteração (para interesses torpes ou segregacionistas) de ensinamentos religiosos; até o revisionismo reacionário de ideias políticas ou propostas filosóficas para entendimento do indivíduo, das relações interpessoais e do funcionamento da sociedade. É nesse conjunto de aproximações polêmicas e, infelizmente, muito reais, que o enredo ganha força e, na ficção, se engrandece por sua triste aproximação com eventos reais. Fica até difícil não lembrar um pouco da proposta dos X-Men, mas aqui existe uma linha sombria e grandiosa que eleva a questão para consequências galácticas assustadoras. Uma possibilidade é de a Terra ser destruída por uma guerra do Sistema Solar (fruto de seu isolamento e provocação militar a outros planetas). Outra possibilidade é a de uma vitória terráquea nessa guerra e uma consequente piora na perseguição a todos os que são ou que apoiam indivíduos não nascidos no planeta azul.

Mais para o final da saga, que traz quadros totalmente marcados por belos movimentos (Gary Frank é um desenhista incrível, e a finalização de Jon Sibal, mais as cores de Dave McCaig formam um pacote estético que agrada demais aos olhos), o ciclo das lições de moral se fecha e a reflexão mais séria da aventura dá lugar a exposição sobre amizade entre heróis. Claro que esta abordagem sempre esteve amarrada à saga, mas ela só aparece de modo bem forte na reta final mesmo. Não é o meu tipo de encerramento favorito — nesse caso, diminui o nível de um roteiro que, para a proposta, tinha conseguido um posto bem interessante — mas de fato não é uma escolha ruim do autor. Se pensarmos bem, a amizade entre o Superboy e esses jovens de um milênio à frente gerou a possibilidade de lutar contra algo que… eles mesmos provocaram (hehehe). Geoff Johns mostra o quão patético e destrutivo pode ser o posicionamento de pessoas que um dia foram rejeitadas e, em vez de seguir a vida, tomam a rejeição como algo que precisa ser vingado e só sossegam quando forçam sua vontade aos outros. É o pior tipo de indivíduo mimado: aquele com características psicopatas que certamente usará da violência para fazer que deem a ele exatamente o que ele quer.

Superman e a Legião dos Super-Heróis (Superman and the Legion of Super-Heroes) — EUA, dezembro de 2007 a maio de 2008
Contendo:
Action Comics Vol. 1 #858 a 863
Edição lida para esta crítica: Editora Panini, 2017
Roteiro: Geoff Johns
Arte: Gary Frank
Arte-final: Jon Sibal
Cores: Dave McCaig
Letras: Rob Leigh
Capas: Gary Frank
Editoria: Nachie Castro, Matt Idelson
Tradução: Levi Trindade, Rodrigo Barros
152 páginas

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