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Crítica | Superman ’78: A Cortina de Metal

O Homem de Aço contra o Homem de Metal.

por Ritter Fan
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Fiquei muito feliz quando uma segunda minissérie de Superman ’78 foi anunciada. Afinal, a primeira tentativa de se continuar em quadrinhos a franquia cinematográfica do Azulão iniciada por Richard Donner foi muito bem sucedida na captura da atmosfera original e aproveitamento da nostalgia, algo que não aconteceu da mesma forma com Batman ’89, ainda que uma segunda minissérie também esteja em andamento na data em que escrevo a presente crítica. Com isso, o roteirista Robert Venditti voltou para mais, desta vez com Gavin Guidry substituindo Wilfredo Torres na arte, usando fortemente outro elemento de pano de fundo histórico que era comum na década de 80: a Guerra Fria.

Seguindo a linha de simplicidade absoluta que por vezes envereda no brega, o que demonstra que Venditti realmente sabe o que está fazendo, a história lida com uma nova ameaça para o Superman, Metallo. Na versão criada pelo roteirista, o clássico vilão da galeria de vilões do escoteiro e que surgiu pela primeira vez em 1959, é Maxim Nikolaev, um condecorado e fanático soldado soviético que recebe uma armadura misteriosamente comprada dos EUA por um agente da KGB, o General Viktor Morosov, cujo “combustível” é a kryptonita que, conforme vemos no preâmbulo, veio do espaço há décadas e caiu no interior da U.R.S.S. As ordens de Morosov são para Nikolaev provocar o Superman de maneira que ele possa derrotá-lo da maneira mais pública possível, de forma a demonstrar a superioridade soviética e, com isso, iniciar a “derrocada dos EUA”.

E a pancadaria começa quando Superman está mostrando sua Fortaleza da Solidão para Lois Lane e apresentando-a a seus pais miniaturizados na cidade de Kandor, conforme o retcon da primeira minissérie em quadrinhos. No momento em que Superman está para revelar-se como Clark Kent, o que parece situar essa segunda minissérie entre os dois filmes de Donner (ok, tecnicamente a versão cinematográfica  do segundo é de Richard Lester, mas vocês entenderam), um avião americano é abatido por Metallo e Superman corre para resgatar o piloto que, por sua vez, ajuda a salvar o Superman quando ele é derrotado pelo vilão em razão da kryptonita. O que segue, daí, é uma sucessão de provocações e de lutas que colocam em xeque a hegemonia do Superman e, claro, tira Lex Luthor de seu esconderijo para uma providencial ajuda, levando a um ótimo embate final em Moscou.

Àqueles que reviram os olhos para narrativas propagandistas anti-soviéticas dos EUA e se recusam a entender o contexto da época de maneira a poder se divertir com a minissérie, meu conselho é nem chegar perto de A Cortina de Metal. Aqui, a célebre frase do Superman que defende “verdade, justiça e o jeito americano”, frase essa que não é mais usada por ser politicamente incorreta, retorna com toda a força e, como em muitos filmes de ação ointentistas, os soviéticos são pintados como grandes vilões daqueles que esfregam as mãos enquanto soltam chavões anti-imperialistas (ó ironia…) e anti-americanos entre os dentes e a presença do Superman, como símbolo máximo dos EUA, é como o unguento que se passa na ferida, especialmente porque Venditti sabe usar essa situação clichê para elevar com perfeita claridade os valores defendidos pelo kryptoniano que caiu no Kansas quando bebê. E, no meu livro, essa capacidade do roteirista em localizar A Cortina de Metal exatamente na época em que uma continuação cinematográfica boa de Superman – O Filme feita, e, ao mesmo tempo, capturar a essência do personagem escrito em uma época mais… simples…, é algo a ser muito elogiado.

Na arte, apesar da troca de desenhistas, não há solução de continuidade, o que é bom e ruim ao mesmo tempo. O traço de Guidry segue a linha do de Torres no que se refere às fisionomias dos personagens, que pegam emprestado às dos atores que os viveram classicamente, mas sem ficar muito preso a elas, encontrando um bom equilíbrio entre o que o leitor pode querer ver e o que é necessário para que a história tenha sua própria vida. Por outro lado, Guidry também segue o trabalho de Torres na forma como ele prioriza a arte em primeiro plano, deixando os demais um tanto quando básicos e até mesmo vazios, algo que fica particularmente evidente na última edição, quando o Superman sai no tapa com Metallo no Parque Gorki. Se, por um lado, isso também poderia ser visto como uma forma de se emular os filmes “de antigamente”, creio que valeria o esforço de se trabalhar com mais cuidado as páginas justamente para criar um ar cinemático mais intenso para as minisséries.

Superman ’78: A Cortina de Metal é outro grande acerto da DC Comics nessa linha de quadrinhos que explora sem culpa a nostalgia e que, dentre outras coisas, serve para mostrar que nem sempre esse artifício é apenas um artifício qualquer para se criar obras vazias de valor. Venditti mostra que tem absoluto controle sobre o que deseja criar e, consegue algo muito raro, que é sua capacidade de, metaforicamente, entrar em uma máquina do tempo que o insere completamente no contexto de uma outra era para escrever exatamente o que seria escrito por lá. Tomara que venham mais minisséries desse sensacional Superman imortalizado por Christopher Reeve!

Superman ’78: A Cortina de Metal (Superman ’78: The Metal Curtain – EUA, 2023/24)
Contendo: Superman ’78: The Metal Curtain #1 a 6
Roteiro: Robert Venditti
Arte: Gavin Guidry
Cores: Jordie Bellaire
Letras: Dave Lanphear
Editoria: Andrew Marino
Editora original: DC Comics
Data original de publicação: 07 de novembro de 2023 a 02 de abril de 2024
Páginas: 151

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