truth I’m actually quite tired…of being alone – Nyxly
Esse é praticamente o penúltimo episódio de Supergirl, pois os últimos dois vão ser um especial de duas horas. Assim, colocando Truth of Consequences como clímax da sexta temporada e da série, o título não poderia ser mais irônico quanto as carências de desenvolvimento que o episódio evidencia que o seriado também acumulou para se preparar para seu final.
Desde a falta de senso de consequência até o protagonismo vacilante de Kara Zor-El, os dramas do programa estranhamente se tornaram um empecilho para os showrunners conseguirem comportar a grade de episódios que o canal CW precisa. Seja pela necessidade obrigatória de um tom novelesco, seja pela falta de criatividade, parece que foi se formando toneladas de narrativas – até semelhante a quinta temporada, mas sem tantos personagens e subtramas – que buscam novas histórias para caminhar, mas não fluem. A ironia desse novo episódio é que esses problemas, essas carências de desenvolvimento, são tematizadas pelo tal Totem da Verdade implicitamente, preservando qualidade no assistir do episódio por tratar do drama que é o próprio drama da produção da série.
Por isso, em Truth of Consequences nada foge de um melodrama conectado. A felicidade dos roteiristas para definir o capítulo como grande clímax é tornar as carências dos personagens a deles em tratar com a série, como grandes desabafos que se tornam conflitos, causando consequências automaticamente quando se tenta resolvê-los. O problema de medir consequências se resolve, e em relação ao protagonismo de Kara, questionado, se torna um drama aliviado posteriormente pela irmã e por Caçador de Marte, e se junta a consequência mais “grandiosa” que é a morte de William Dey. A história abraça os passos de uma novela, com revelações, tiros, morte e briga familiar, pois é o que a série tem, o apelo que lhe resta para fluir em progresso dramático com os personagens e estabelecer o ponto de partida para o final. Isso resolve as carências imediatas do episódio, no entanto expõe as da série.
Brainic-5 sempre contendo seu dilema de ser do futuro e amar o passado, com Sonhadora se incluindo no mesmo problema; Alex Danvers volta a brigar com a irmã pelos motivos inversos da primeira temporada e Nixly com Lex Luthor encarceram a novela com um romance sem beijo e com declarações. Esses são os conflitos principais do episódio, mas são dos personagens há muito tempo. Isso estampa falta de desenvolvimento, ou um muito lento. Quando Caçador de Marte ajuda Kara emocionalmente, e a chefe da CATCO, Andrea Rojas, tem uma mísera conexão com Lena Luthor para elas ainda serem participantes da série, o episódio se mostra um conserto imediato de amarrar personagens numa mesma trama, mas que mostra as engrenagens desgastadas da série.
Dessa forma, William Dey é o escolhido da novela a morrer e para ter forte relação com Esme, porque tudo precisa ser bem didático em apresentar o perigo final do capítulo para os fofos da história que forçam simpatia excessiva com o público. Unindo todos os dramas dos personagens, cada exposição deles nos diálogos, com uma direção do episódio praticamente focado em gravar conversas para sustentar tudo, representam anseios, de maneira pueril, de não estarem sozinhos por consequências de seus erros. A carência se torna praticamente literal para os personagens.
Ainda assim, nesse estilo infantil com a estrutura novelesca bem encaixada, as sucessões de dramas escrita pelos roteiristas dão bastante honestidade ao que a série pode fazer no seu limite. Pensar limitação perto do final da série soa triste, em vista que as propostas de climax para uma season finale normalmente são aumentar a expectativa, não aliviar pessimismo. Com Supergirl, Truth of Consequences é o climax que serve como alívio para que antes do final haja o mínimo de desenvolvimento dos personagens.
Sem inventar algo de fato surpreendente, mas se atendo ao que se tem de material da série, as carências expostas pelos roteiristas aparecem como humildade narrativa para criar história, com ou sem intenção. Os atores acabam por se aproveitar disso e darem destaque aos seus personagens. Jesse Rath entrega o choro teatral para expressar a instabilidade de Brainic-5 quanto ao contínuo espaço-tempo, e Nicole Maines, ao seu lado, atua na mesma boa qualidade de sempre. Melissa Benoist parece cansada após a mid-season, porém, quando interage com Chyler Leigh parece tudo reviver na sua atuação, em que por vezes pode-se até pensar que o título da série não poderia ser “Sisters Danvers”.Já Nixly e Lex são mais uma tentativa dos showrunners por algo novo nesse restinho de série, então os atores se divertem, especialmente Peta Sergeant para justificar do porque ela tem um figurino de vilã.
Afinal, se a história não está boa, se não há estímulo para cenas de ação, ao menos uma cena da festa de casamento de Alex e Kelly capta os personagens se divertindo. Se Supergirl não consegue mais ser a protagonista da série constantemente e os totens não tem peso de consequência, pelo menos Esme é fofa demais para ser capturada e William Dey é bondoso demais para morrer. A série precisa acabar, então nada melhor que propor o medíocre como ponte estável para o que vem a seguir próxima semana.
Supergirl – 6X18: Truth of Consequences – EUA, 02 de outubro de 2021
Direção: David McWhirter
Roteiro: Emilio Ortega Aldrich, Elle Lipson
Elenco: Melissa Benoist, Chyler Leigh, Katie McGrath, Jesse Rath, David Harewood, Peta Sergeant, Nicole Maines, Azie Tesfai, Julie Gonzalo, Staz Nair, Jon Cryer, Matt Baram, Mila Jones, Keith Dallas, Andrew Morgado, Ecstasia Sanders
Duração: 43 minutos.