Ao longo da terceira temporada de Supergirl, o que impressiona é a sensação que mais uma vez os crossovers forçam Supergirl a ser parte desse universo Arrow. Todo o contexto novelesco do Arrowverse, com casamentos, brigas familiares em excesso, ao colocar Kara Danvers no meio expõe a novela que contém em Supergirl, que não é o foco o tempo todo da série da heroína. Flash perguntando só sobre o parceiro dela, Mor-El, Alex sendo o estereótipo de lésbica com Laurel (que Alex não é verdadeiramente um estereótipo de nada, muito menos Laurel, ambas como personagens individuais), porque duas personagens lésbicas precisam ter uma relacionamento rápido no meio do crossover, e a trama de casamento de Arrow, que é mais antiga que a CW, pelo visto, vão incluindo a kryptoniana na novela juvenil para que o episódio pelo menos se favoreça no organizado amontoado de boa ação de super-heróis no conflito com a Earth-X.
Diante disso, não há problema na jovialidade imposta aos personagens da DC postos no canal CW, e isso parece tão natural para a “Rede Televisa americana” que o mistério de uma Earth-X com nazistas funciona nas primeiras cenas, colocando muito couro preto e caricaturas dos personagens, nesse efeito. Junto a isso, a contraponto do casamento de Barry Allen com Iris West estabelece o ponto máximo do folhetim, o episódio da semana que o espectador vai assistir em outro horário e em outro dia os mesmos personagens, para também vê-los em confraternização de final de temporada da CW, quando na verdade é o começo de um crossover.
Nessa relação da Earth-X super do mal e o casamento é que o tom juvenil acomoda tudo, preparando os personagens em relações pré e pós casamento para uma direção de luta bem encorpada dos pares desenvolvidos. Ou seja, o interesse de juntar Alex e Laurel soa muito mais funcional do que se imagina, aproveitando o momento dramático da personagem resolvendo com uma rapidinha. Mesmo que sua irmã Kara diga que não há problema nenhum (de fato não há), é mais um exercício de inserir Alex para uma luta ao lado de Laurel do que outros interesses de fato palpáveis, como a conquista de um shipp e fanfics das personagens dos fãs após o personagem. Da mesma maneira, Kara é colocada como uma piada de estranheza por ter super poderes, mostrando uma caricatura que pouco é vista na série de Supergirl.
Independente desses ajustes engrenados com óleo colante que fomentam piadas e dramas infames, por não passarem de uma naturalidade que se tenta construir no episódio de crossover, o momento de luta, o confronto em si com os vilões da Earth-X, se porta com a engrenagem que não precisa ser desenvolvida. Se por um lado a novelinha faz o trabalho sujo de fazer os pares, o diretor Larry Teng consegue normalizar lutas simultâneas com compreensão da ação, muito mais que as interações verbais.
Porque, afinal, o casamento é um pressuposto, e nisso o drama dele não acontecer e não ser desenvolvido nesse episódio acaba fazendo sentido. Da mesma forma, a principal razão de trazer a Supergirl, na mesma proporção de pressuposto, serve para formar pares de heróis lutarem com seus contrapostos na Earth-X, ou ao menos um vilão na mesma categoria de luta. Provoca-se, assim, um verdadeiro casamento de personagens, isso sim.
Mas apesar dessa assertiva do episódio, a exposição de como Alex e Kara não pertencem ao Arrowverse se torna explícito, tanto que Melissa Benoist (Kara) até canta no casamento de Barry, em vista que é o crossover menos forçado, já que o último crossover de Flash e Supergirl envolviam musical, e Chyler Leigh (Alex) tem sua presença reforçada como umas férias de esquecimento do drama do seu término de namoro, pois um crossover sempre é uma festinha no final das contas.
Então, embora o teor casamento soe bem quadrinhos nessa união aleatória, quando todos os heróis se juntam para um festividade, lembrando, de leve, algo qualitativamente funcional para um bom crossover, essa dimensão X só realmente fica interessante com o Flash Reverso, porque de resto só parece mais couro revestido de nazistas. Se não bastasse isso, o tanto de piada de “inteligentísmo” entre Nuclear e Dr. Martin, por exemplo. Isso acaba por criar um impasse em The Flash usar esses artifícios para não caminhar narrativamente no começo de sua terceira temporada com grandes mudanças, mas pelo menos Legends of Tomorrow parece brincar de tentar explicar as coisas.
No final, o crossover só anima para para delimitar para o espectador da CW quais séries ele realmente se identifica, e como a única coisa realmente interessante desses crossovers são as lutas. Sim, o diretor Larry Teng sabe gravar várias lutas ao mesmo tempo sem parecer confuso, e o resto é uma novela juvenil pouco estimulante.
Supergirl – 3X08: Crisis on Earth-X, Parte 1 — EUA, 27 de novembro de 2017
Direção: Larry Teng
Roteiro: Robert L. Rovner, Jessica Queller
Elenco: Melissa Benoist, Mehcad Brooks, Chyler Leigh, Jeremy Jordan, Chris Wood, David Harewood, Stephen Amell, Victor Garber, Jesse L. Martin, Emily Bett Rickards, Caity Lotz, Tom Cavanagh, Dominic Purcell, Candice Patton, Franz Drameh, Danielle Panabaker, Carlos Valdes, Keiynan Lonsdale, Grant Gustin
Duração: 43 min.