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Crítica | Sugar – 1ª Temporada

Um detetive mais interessante que sua investigação.

por Kevin Rick
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Sugar, a mais nova produção do curioso catálogo da Apple TV+, é uma série intrigante. Criada por Mark Protosevich, com direção do brasileiro Fernando Meirelles (cinco episódios) e de Adam Arkin (três episódios), a obra acompanha o detetive privado John Sugar (Colin Farrell), um homem com um passado misterioso e uma luta interna contra a violência, que, após voltar de uma investigação perigosa, decide assumir um caso de desaparecimento para um figurão de Hollywood, ainda que sua parceira o aconselhe a descansar. O personagem titular ignora o conselho por duas razões: 1) seu amor por Cinema torna o caso atrativo; 2) a moça desaparecida lembra sua irmã perdida há muitos anos.

Logo de início, o cenário em Hollywood escancara a principal característica da série: uma homenagem às histórias detetivescas, a ficção policial, a literatura hard-boiled e, especialmente, uma celebração do Cinema Noir. Sugar é um grande fã desses filmes, então temos muita narração em off que referencia clássicos do gênero e diversas montagens que trazem cenas dessas mesmas obras, em um estilo que não caracterizaria exatamente como metalinguístico, mas sempre acenando, homenageando e, de certa forma, copiando suas inspirações cinematográficas. Alguns desses momentos não são completamente orgânicos, mas há algo engajante na forma que o protagonista se enxerga como um daqueles personagens duros, cheio de segredos, moralmente dúbios e obcecados com suas investigações.

Estilisticamente falando, os diretores da série criam um ótimo clima de mistério ao alternar entre close-ups desorientadores, ângulos inclinados e longas tomadas que se divertem com um gênero que às vezes é mais atmosfera do que trama. A incerteza reina em uma produção cheia de incógnitas, passando pela família amoral da moça desaparecida; coadjuvantes enigmáticos; e um protagonista que, além de investigar, parece estar sendo investigado pela própria audiência, na forma que não entendemos algumas das situações em torno do personagem e como ele consegue fazer certas coisas… curiosas, digamos assim. A direção faz um bom trabalho em nos deixar instigados com seu foco em olhares que levantam charadas ou na forma que parece desviar nossa atenção de detalhes importantes sobre Sugar.

Infelizmente, porém, a narrativa da série não é tão cativante quanto seu estilo. O caso em si da jovem desaparecida não é tão envolvente quanto o mistério que circula Sugar, fazendo com que sua investigação pareça desinteressante em meio a diversos clichês do gênero e desdobramentos que não chamam nossa atenção – por exemplo, a análise da indústria cinematográfica através da família da vítima é mais engajante que o caso em si. A obra sempre é melhor quando é sobre o passado do protagonista, sobre o que aconteceu com sua irmã e sobre sua sociedade secreta, o que acaba não sendo muito satisfatório quando o roteiro nos apresenta uma explicação na forma de uma reviravolta esquisita e que recontextualiza a história para algo tão diferente e tão inorgânico que para mim não faz sentido para além da surpresa pela surpresa.

Ainda assim, o twist levanta uma interessante curva para uma história de detetive, algo que pode ser melhor explorado em uma segunda temporada que, pelo menos pelo desfecho, parece indicar mais uma história de perseguição policial do que uma clássica investigação. Por fim, mesmo que talvez seja injusto ou óbvio (depende da perspectiva), criticar uma série inspirado no noir por ser forma sobre substância, é meio isso que ficou comigo à medida que a temporada progride em meio a uma atmosfera intrigante, muitas referências clássicas e uma ótima direção, só que com uma trama por vezes rasa sobre o caso principal, por vezes sem sentido em sua reta final. Digo, porém, que vale a pena assistir a um competente Farrell interpretando um detetive ao mesmo tempo inspirado em clássicos e totalmente diferente da sua própria maneira. É uma pena que a investigação não seja tão interessante quanto o personagem.

Sugar – 1ª Temporada | EUA, 2024
Criação:
Mark Protosevich
Direção: Fernando Meirelles, Adam Arkin
Roteiro: Mark Protosevich, David Rosen, Donald Joh, Sam Catlin
Elenco: Colin Farrell, Kirby, Amy Ryan, Dennis Boutsikaris, Nate Corddry, Alex Hernandez, James Cromwell, Anna Gunn, Eric Lange, Sydney Chandler, Jason Butler Harner
Duração: 08 episódios de aprox. 30-40 min. cada

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