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Crítica | Succession – 3X03: The Disruption

A fogueira das vaidades.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas das demais temporadas. 

A tentativa de conciliação entre os irmãos Roy falhou miseravelmente em Mass in Time of War, como já era de esperar e The Disruption vem com tudo para profundamente cravar outra cunha para separar os dois lados da família em pé de guerra. Kendall decide partir para o ataque aberto, provocando uma resposta violenta da irmã, com a bênção do pai, mas, na verdade, os grandes inimigos de todos ali são basicamente eles mesmos, em uma espiral de autodestruição que consegue ser ao mesmo tempo profundamente trágica e finamente cômica.

Kendall Roy trata as consequências de sua bombástica coletiva de imprensa ao final da temporada anterior como uma estrela de rock, muito mais preocupado com sua imagem  e a percepção dos outros sobre ele – seja positiva ou negativa – do que com os meandros técnicos e jurídicos de sua cruzada. A vaidade fala alto e, como sabemos, Ken é um viciado e um viciado tende a se entorpecer muito facilmente, sempre querendo mais para alimentar sua sede por experiências excitantes, mas efêmeras. Podemos muito facilmente dizer que a vaidade é seu novo vício portanto e ele, ignorando completa os conselhos de sua advogada e de certa forma provocado pela visita de Shiv com o objetivo de sondar se ele pretende aparecer lá na Waystar-Royco, ele, de boné, parte para justamente fazer isso.

Como uma criança que resolve implicar com a irmã, ele destrói o grande momento de Shiv como a recém-empossada presidente da empresa em seu discurso para tentar acalmar os funcionários. A sequência é absolutamente memorável, com caixas de som recém-compradas tocando em altíssimo e bom som nada menos do que “Rape Me“, do Nirvana, uma mensagem nada sutil, claro, mas que imediatamente alcança o efeito pretendido. Mas a resposta da irmã é igualmente imatura, já que ela parte para o ataque verbal aberto na forma de uma carta apoiada nos bastidores pelo pai, mas que é tão virulenta que Connor e Roman se recusam a assiná-la. Aliás, o jantar em que Shiv propõe essa estratégia aos irmãos é uma cena curta, mas extremamente eficiente novamente naquele espírito de dinâmica familiar que soa ao mesmo tempo impossivelmente natural graças a Sarah Snook, Kieran Culkin  e Alan Ruck.

Assim como o rock do Nirvana foi arrasador, a carta, publicada online, também é, com seus efeitos sendo sentidos justamente quando Ken está a minutos de ser o convidado especial do programa The Disruption, comandado pela comediante Sophie Iwobi (Ziwe Fumudoh) que, mais cedo no episódio, vemos satirizar Ken fortemente, o que apenas alimenta sua mencionada vaidade (na base do “falem mal, mas falem de mim”) e o leva ao programa para mais. Só que Ken não se conhece como nós – e sua família – o conhecemos e as palavras duras da irmã, ou seja, a verdade que todo mundo conhece, só que referendada e ecoada por sua própria família, acaba com seu ímpeto e parece começar a levá-lo para um espiral depressiva, com Jeremy Strong mais uma vez arrasando no papel, especialmente aqui em que vemos seu personagem no clímax “festeiro” e escondido em uma sala técnica do programa de televisão.

Em meio a isso tudo – e não menos importante – vemos um exemplo particularmente perigoso da vaidade do próprio patriarca da família que, acuado em seu escritório, recusa-se a cooperar com o Departamento de Estado, apesar das preocupações vocais de Gerry, que é a única realmente a verbalizar o que acha e as preocupações fisionômicas (olhares, bocas abertas, cenhos cerrados) de todos os demais. É somente com o leite derramado e a ameaça de potencial prisão por fechar as portas para os agentes do FBI é que Logan capitula e decide “cooperar”. Ele poderia ter tomado essa decisão antes, lógico, o que alteraria sua percepção pelo público e autoridades em geral, mas não, em sua arrogância de alguém poderoso que se acha intocável (e, vamos combinar, ele quase é mesmo), ele elege aguardar até o último segundo por uma salvação que não vem.

Na verdade, ela vem sim, mas antes do FBI chegar na Waystar-Royco, na forma de Tom Wambsgans (eu já falei que Matthew Macfadyen é outro membro do elenco de se tirar o chapéu por seu trabalho dramático?) que, tendo consultado um advogado que disse que as chances de ele não ir preso quando a fumaça abaixar, são pequenas, usa essa desvantagem como uma forma de se “vender” de corpo e alma para Logan, oferecendo-se como literal “boi de piranha” caso o grande líder precise. E o melhor é que ele tem uma conversa séria dessas em pé, cochichando ao lado de Logan, que espera a assistente da Casa Branca acabar uma entrevista para ter justamente a conversa com ela que deflagra a ação do FBI (mais vaidade, orgulho e confiança na impunidade, aliás).

The Disruption é mais um exemplo da incrível qualidade de Succession que, impressionantemente, só consegue melhorar a cada temporada e isso considerando que a série já começou em um nível altíssimo. Secession foi uma vitória para Logan e uma derrota para Ken, ao passo que Mass in Time of War foi o contrário, com The Disruption significando derrotas para os dois lados. Mas, como dizem por aí, vale tudo no amor e na guerra, inclusive perder batalhas. Resta saber quem estará de pé ao final.

Succession – 3X03: The Disruption (EUA – 31 de outubro de 2021)
Criação: Jesse Armstrong
Direção: Cathy Yan
Roteiro: Ted Cohen, Georgia Pritchett
Elenco: Brian Cox, Jeremy Strong, Sarah Snook, Kieran Culkin, Alan Ruck, Nicholas Braun, Matthew Macfadyen, Peter Friedman, J. Smith-Cameron, Natalie Gold, Justine Lupe, Sanaa Lathan, Hiam Abbass, James Cromwell, Hope Davis, Ziwe Fumudoh
Duração: 60 min.

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