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Crítica | Sting: A Aranha Assassina

Entre o humor e o horror.

por Leonardo Campos
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No âmbito do horror ecológico, subgênero que traz diversas tramas envolvendo o contato da humanidade com as forças da natureza, seres dos mais diversos já foram colocados para antagonizar textos dramáticos que refletem os impactos ambientais oriundos da intervenção humana que tudo destrói. As aranhas, por exemplo, já protagonizaram múltiplas narrativas de horror. Sting: A Aranha Assassina, escrito e dirigido por Kiah Roache-Turner, não é exatamente uma produção que reflete essa estrutura comum aos demais filmes envolvendo animais em fúria, mas dialoga com as propostas do subgênero mencionado, mesclando em seu desenvolvimento de 92 minutos, subtramas que revelam muito do contexto contemporâneo dos relacionamentos humanos, bem como a fórmula do “filme de monstro” estabelecida por Ridley Scott em Alien. Basta trocarmos a nave por um prédio nova-iorquino decadente, com um grupo de pessoas isoladas pelas fortes chuvas, para perceber que as cenas de perseguição é bastante similar ao clássico, salvaguardadas as devidas proporções comparativas, obviamente, pois esse Sting trilha um caminho muito próprio e ousa bastante diante de suas limitações orçamentárias.

O ponto nevrálgico do texto dramático é a maneira de Charlotte (Alyla Browne) de lidar com o seu entorno. Há o abandono paterno, a sua mãe é uma trabalhadora incansável em um novo relacionamento e o padrasto, bastante atencioso e carinhoso, lida com as questões do prédio em decadência, com seus corredores escuros, tubulações defeituosas, dentre outros elementos que expõem um ambiente quase inóspito, concebido pelo excelente design de produção de Fiona Donovan. Logo na abertura, acompanhamos a chegada da pequenina aranha alienígena que cai diretamente nesse local, sendo acolhida pela menina, que a coloca em um pote a começa a criar o ser desconhecido como um pet. Ela projeta no aracnídeo um afeto que lhe falta. O problema é que a criatura demonstra apetite por carne e, a cada alimento adquirido, aumenta o seu tamanho, se tornando uma grande ameaça para todos os habitantes do prédio.

Interessante, no desenvolvimento do roteiro, a perspectiva fornecida para cada personagem, desde os protagonistas aos coadjuvantes. Todos ali perecem por algum motivo. São existências dominadas por luto, sensação de fracasso, impotência diante dos obstáculos cotidianos, em linhas gerais, todo mundo como candidatos para sessões constantes de terapia. A ameaça aracnídea, neste espaço, parece um alívio para vidas que aparentam cansaço e vontade de desistir de tudo. Dentre um ataque e outro do monstro que aumenta a cada instante, o filme equilibra situações de humor e horror, numa direção de fotografia sábia, assinada por Brad Shield, setor que adota o “Efeito Tubarão”, ora escondendo, ora apresentando a ameaça diante da tela, sempre acompanhado da textura percussiva de Anna Drubich, trilha sonora eficiente para a construção da atmosfera ideal em Sting: A Aranha Assassina.

Em suma, é uma narrativa sobre luta pela sobrevivência diante das adversidades. A aranha, aqui, ocupa o lugar de alegoria para a existência tenebrosa das pessoas naquele local claustrofóbico, que nos apresenta uma sensação de mau agouro em cada um dos seus espaços. Com orçamento reduzido, essa pequena pérola do cinema australiano contemporâneo conta com algumas passagens de efeitos visuais, computadorizados, mas desenvolve boa parte de suas cenas com uso de efeitos práticos, como no horror ecológico à moda antiga. A maquiagem de Paul Katte é muito eficiente e consegue construir o asco necessário para nos deixar desconfortáveis na poltrona do cinema, um setor que integra a supervisão de efeitos de Clint Ingram, como já mencionado, parte da equipe de realização que investe em animatrônicos e evita uso excessivo de elementos digitais, alcançando um resultado estético satisfatório. Ademais, todo ano, no âmbito do subgênero em questão, temos alguns seres da natureza que se sobressaem e ganha diversas projeções ficcionais. Há ano para os tubarões, outro para as serpentes, mas 2024, sem sombra de dúvida, foi o ano das aranhas assassinas. Infestação está ai para comprovar. Basta agora esperar para saber qual o próximo ser da natureza a nos assustar.

Sting: A Aranha Assassina (Sting) — Austrália, 2024
Direção: Kiah Roche-Turner
Roteiro: Kiah Roche-Turner
Elenco: Alyla Browne, Ryan Corr, Penelope Mitchell, Robyn Nevin, Noni Hazlehurst, Silvia Colloca, Danny Kim, Jermaine Fowler
Duração: 92 min.

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